Durante declaração à imprensa, no Palácio do Planalto, o ministro da economia, Paulo Guedes, aproveitou o momento de entrega do memorando inicial do Brasil sobre a acessão do país à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para fazer, indevidamente, campanha eleitoral na estatal TV Brasil, ressaltando a recuperação do emprego no Brasil e afirmando que o Brasil está no “caminho da prosperidade”. Em verdadeira campanha pró-Bolsonaro, Guedes exaltou os feitos de sua gestão. Bolsonaro tem usado o ministro da Economia como seu principal cabo eleitoral para ter apoio do empresariado.
Embora a atuação em campanha não seja proibida, especialistas avaliam que o chefe da equipe econômica pode ter violado a lei eleitoral e praticado ato de improbidade administrativa ao usar da estrutura estatal e de sua posição no governo para favorecer o candidato à reeleição.
No último dia 15, Guedes também usou a Voz do Brasil, programa estatal de transmissão obrigatória, durante 24 minutos, para atacar gestões anteriores e dizer que a economia do país está crescendo, gerando empregos e atraindo investimentos.
Paulo Guedes compara criação de vagas no Brasil com outro países. Pesquisadores afirmam que conjuntura é diferente
De acordo com o pronunciamento de Guedes na TV estatal, no governo Bolsonaro foram criados mais empregos do que os Estados Unidos, economia mais flexível do mundo, a Alemanha e o Reino Unido juntos.
A comparação, no entanto, é questionada por pesquisadores de mercado de trabalho, já que a conjuntura é muito diferente em cada um dos países. O Brasil saiu da pandemia com uma taxa de desemprego muito mais alta que a de países desenvolvidos, e, portanto, com mais espaço para uma recuperação na oferta de vagas.
Nos Estados Unidos, por outro lado, há em média duas vagas de emprego abertas para cada desempregado, e os postos de trabalho não são preenchidos porque a remuneração não é atrativa.
Além de falar sobre a recuperação do emprego, Guedes disse que “o Brasil já está no caminho da prosperidade”. “Esse acesso à OCDE é um processo que, na verdade, chega na hora certa, no momento em que o Brasil decola.”
Em outro trecho do discurso, disse que o Brasil aparece “como porto seguro para os investimentos, a maior fronteira de oportunidades de investimentos, e estendendo a mão e dizendo: ‘Eu vou convergir para melhores práticas’, porque nós queremos melhorar a qualidade de vida da população brasileira”.
A coletiva para tratar a respeito da OCDE contou com a presença dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) e Carlos França (Relações Exteriores), além de Guedes.
O documento, enviado na sexta-feira (30), faz parte de uma nova etapa do país na busca pela adesão ao chamado “clube dos ricos”. O memorando, entregue a OCDE, avalia o grau de alinhamento das legislações e práticas do país aos padrões do grupo de países que integra a OCDE, explica a reportagem da Folha de S Paulo.
De acordo com o governo, o memorando avalia se as legislações, políticas e práticas nacionais estão de acordo com os padrões estabelecidos pela OCDE em áreas como saúde, economia digital e meio ambiente, entre outras. O pedido de adesão do Brasil foi feito no governo Michel Temer (MDB), em 2017.
A OCDE determina 258 instrumentos normativos, dos quais 230 são definidores para a adesão dos países. De acordo com Guedes, o Brasil já preenche 108 desses requisitos e há 45 sob aprovação. Não há prazo para resposta da organização, que analisará se o país cumpre as exigências.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias