Na última década, poder de compra do brasileiro caiu quase pela metade

O IPCA, considerado a inflação oficial do país, subiu 88% em 10 anos. Enquanto isso, o salário médio anual do brasileiro, considerando 13º e férias, aumentou cerca de 3% no período.
23 de janeiro de 2024

A inflação alta somada à perda de renda do trabalhador ao longos dos anos fez com que o poder de compra do brasileiro caísse quase que pela metade em uma década. No período de 2013 a 2023, os preços dos itens de necessidades básicas aumentou quase o dobro nos supermercados, enquanto o salário praticamente ficou estagnado.

É o que mostra reportagem feita pelo site G1, que ouviu especialistas e usou dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ou seja, hoje, os brasileiros e brasileiras têm a sensação de que compram menos com a mesma quantia de dinheiro do que podiam comprar há dez anos. Trocando em miúdos, é preciso desembolsar mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de produtos.

Por exemplo: com preços de 10 anos atrás, é possível comprar 13 itens de necessidades básicas nos supermercados pagando R$ 100. Com o mesmo valor, a preços de hoje, não é possível comprar nem metade das mercadorias.

Segundo especialistas entrevistados pela reportagem, a explicação para a perda do poder de compra está na inflação relevante e na baixa produtividade profissional, que faz com que o salário diminua.

O Brasil não teve um período deflacionário nos últimos 10 anos. Ou seja, ano após ano, os preços de itens compilados pelo IBGE subiram. Apenas em alguns meses se viu alguma queda, mas em produtos localizados e sem força suficiente para haver um recuo na média anual.

Para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, é preciso dar um destaque especial a dois períodos em que a inflação subiu ainda mais: a crise de 2015 e a pandemia de Covid-19 (principalmente em 2021). Nos dois períodos, os preços subiram por volta de 10% ao ano, e não houve um aumento salarial equivalente.

“[Há cerca de oito anos], as escolhas econômicas da então presidente Dilma Rousseff (PT), como excesso de gastos públicos e estímulos à demanda privada, reduziram a potência da política monetária do país”, afirmou a especialista.

Poder de compra: IPCA subiu 88% em 10 anos, enquanto o salário médio anual do brasileiro subiu 3% no período

Ainda de acordo com a reportagem, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerada a inflação oficial do país, subiu 88% em 10 anos. O salário médio anual do brasileiro, considerando 13º e férias, por sua vez, aumentou cerca de 3% no período. Segundo a Pnad, o valor passou de R$ 38.484,44 para R$ 39.604,44.

Tanto que o poder de compra do brasileiro caiu em todos os anos desde 2013, apontou um estudo realizado pela consultoria financeira L4 Capital.

Em 2013, por exemplo, o brasileiro ganhava um salário médio anual, sem descontar a inflação, de R$ 38.484,44, e tinha disponível para gastar com serviços e produtos um total de R$ 3.028,05 por mês (o equivalente a R$ 36.336,65 por ano, considerando a inflação).

Essa quantia inclui itens como mercado, aluguel, combustível, despesas pessoais, entre outras. Com o tempo, porém, foi cada vez mais necessário cortar itens da lista de compras.

Assim, em 2023, apesar de o salário nominal (sem os descontos da inflação) ter encerrado o ano em R$ 39.604,44, a quantia disponível para gastar com produtos e serviços diminuiu 42%, para R$ 1.755 por mês (R$ 21.064,16 por ano).

Entrevistada para a mesma reportagem, a economista Carla Beni, professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas, conectou a baixa escolaridade do brasileiro à perda da renda.

“Para melhorarmos a renda do brasileiro, é preciso melhorar a produtividade e, para tal, o país precisa ter uma qualidade melhor de ensino. E um jovem que tem dificuldade de fazer as quatro operações matemáticas, por exemplo, tende a não alcançar salários maiores”, disse.

O também professor e economista da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) Paulo Feldmann é ainda mais pessimista em relação ao futuro.

Na visão dele, a inteligência artificial será a grande vilã do futuro, fazendo com que a mão de obra de muitos brasileiros seja totalmente descartada.

Redação ICL Economia
Com informações do G1

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