Diante da ameaça do desemprego e da difícil situação econômica, os trabalhadores brasileiros empregados estão abrindo mão de benefícios para garantir reajuste salarial que reponha ao menos a inflação nas negociações coletivas deste ano. A constatação está no segundo balanço dos seis primeiros meses de 2022 do Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Os dados mostram que complementos como a PLR (Participação nos Lucros e Resultados), abonos por aposentadoria e assiduidade, plano de saúde, plano odontológico e auxílio-creche saíram de boa parte dos acordos ou convenções coletivas fechadas neste ano.
Também não houve reajuste nos vales refeição e alimentação e os valores se mantiveram os mesmos entre 2021 e 2022. Isso tudo em meio a uma inflação que já atingiu dois dígitos – próxima dos 12% (em 12 meses).
O vale-alimentação mensal, por exemplo, se manteve em R$ 280 e o vale-refeição seguiu em R$ 22 por dia, sem reajuste.
O coordenador do Salariômetro, Hélio Zylberstajn, explica que a retirada desses complementos seria “a forma encontrada pelos trabalhadores de garantir reajuste melhor para os salários, que reponham a inflação ou estejam acima” do indicador.
Maior parte dos acordos teve reajuste salarial abaixo da inflação
Os acordos salariais no primeiro semestre deste ano tiveram, na maior parte, reajustes abaixo da inflação calculada pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A média no ano é de menos 0,80%.
Apesar do resultado melhor em junho, há quase dois anos não se registra variação positiva mensal – a última vez que isso aconteceu foi em setembro de 2020, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (Dieese), divulgado na última semana (dia 19).
De acordo com o acompanhamento do instituto, os reajustes abaixo da inflação representaram 43,4% do total na primeira metade do ano. Os equivalentes ao INPC somam 35,2%. E os acordos com índice acima da inflação são apenas 21,4%. Isso mostra a dificuldade imposta, entre outros fatores, pela inflação elevada, que continua próximos dos 12% (em 12 meses).
Os economistas André Campedelli e Deborah Magagna, do ICL, avaliaram no Boletim Economia para Todos Investidor Mestre, que “está cada vez mais difícil o trabalhador conseguir um reajuste anual que ao menos corrija seu salário real pelo índice inflacionário e, num cenário de alto desemprego e baixa organização sindical e trabalhista, a tendência é de que a maior parte dos trabalhadores tenham reajuste abaixo da inflação pelo menos nos próximos meses”.
Os dois reforçaram ainda que o trabalhador brasileiro continua em uma situação muito frágil no mercado de trabalho. “O efeito do desemprego e a alta inflação, em conjunto com a desorganização sindical que os trabalhadores vivem atualmente, fazem com que os reajustes sejam cada vez mais complicados de se obter e resultam em perdas reais do salário no período”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências