Mesmo com queda no preço da gasolina anunciada pela Petrobras, combustível continua mais caro nas refinarias do país na paridade de importação

Bolsonaro vem prometendo a gasolina "mais barata do mundo". Mas, em 8 de agosto, o país ocupava a 51ª posição em uma lista de 169 países
18 de agosto de 2022

Na terça-feira passada (16), entrou em vigor corte de 4,8% no preço da gasolina, anunciado pela Petrobras, o terceiro em menos de um mês no período pré-eleitoral. Somente em julho, a queda no valor da gasolina foi de 15,48%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas, apesar do corte anunciado, o preço da gasolina nas refinarias brasileiras segue acima da paridade de importação (PPI), mecanismo usado na formação dos preços.

Cálculos da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) mostram que o preço médio do produto nas refinarias do país estava R$ 0,27 por litro acima da paridade na abertura do mercado na terça (16), já considerando a queda anunciada pela Petrobras.

Embora a empresa tenha atribuída as baixas à redução das cotações dos preços internacionais do petróleo, a pressão exercida pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a petroleira tem sido extremamente explícita nos últimos tempos.

Candidato à reeleição, Bolsonaro (PL) está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, e a disparada nos preços dos combustíveis no ano passado, devido ao aumento do preço do barril de petróleo no mercado externo, gerou uma queda de braços constante entre o presidente e a direção da estatal, da qual o governo é acionista majoritário. Bolsonaro chegou a trocar o presidente da Petrobras quatro vezes, até indicar um aliado do ministro da Economia, o “posto Ipiranga” Paulo Guedes, o ex-assessor da pasta Caio Paes de Andrade, que não tem nenhuma experiência no setor.

A peleja entre Bolsonaro e Petrobras ocorreu porque a maioria do eleitorado dele está nas camadas mais abastadas, para os quais o aumento dos combustíveis na bomba pesam. Ademais, os combustíveis impactam fortemente nos índices inflacionários.

Para mexer em tudo isso, Bolsonaro elaborou um pacotaço pré-eleitoral, que incluiu a desoneração dos preços dos combustíveis e um pix para caminhoneiros afetados pelo aumento do diesel. Mas a economista do ICL, Deborah Magagna, já chegou a dizer que, não fosse a queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional recentemente – um importante elemento da equação que forma os preços dos combustíveis -, muito provavelmente a isenção fiscal do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a gasolina não teria surtido o efeito esperado.

Importante lembrar, no entanto, que o preço da gasolina começou a disparar em meados do ano passado e, somente na era Bolsonaro, acumula alta de 135%.

Apesar de todos os esforços, o movimento de reduzir os preços dos combustíveis, que contribui para o país registrar deflação de 0,68% em julho, ajuda na campanha pela reeleição do presidente, mas ainda não tanto quanto esperado pela equipe da campanha, como mostram as pesquisas, em que Bolsonaro segue estável no segundo lugar.

Em maio passado, os preços da gasolina e do diesel atingiram recordes históricos nos postos brasileiros, movimento que culminou com a demissão de dois presidentes da Petrobras em pouco mais de um mês. Foi quando o governo decidiu enfrentar os estados no Congresso e aprovar uma lei limitando as alíquotas de ICMS a 17% e 18% sobre gasolina, energia, gás natural, transportes coletivos e comunicações. Os impostos federais sobre os combustíveis também foram zerados.

Preço da gasolina mais barato do mundo, prometido por Bolsonaro, continua povoando somente o fantástico mundo do presidente

Por diversas vezes, Bolsonaro vem repetindo que o Brasil terá, em breve, uma das gasolinas mais baratas do mundo. Contudo, não é o que a realidade fora do Palácio do Planalto revela. Dados do site Global Petrol Prices indicam que o país não vem avançando no ranking, já que o produto também ficou mais barato em outros países.

Em 8 de agosto, o Brasil ocupava a 51ª posição em uma lista de 169 países. É uma colocação pior do que o 47º lugar verificado um mês antes. Além disso, como os preços são convertidos para o dólar, a variação cambial também tem efeito na comparação.

A lista da Global Petrol Prices traz o Brasil com preço médio de revenda a US$ 1,15. O 20º colocado, Omã, tinha preço médio de US$ 0,62. O 30º, o Afeganistão, de US$ 0,97.

Como já explicado, o que vem derrubando os preços da gasolina no Brasil é muito menos a desoneração do ICMS do que a queda do preço do barril de petróleo no mercado externo. As quedas recentes da cotação da commodity têm ocorrido devido às instabilidades geopolíticas e às perspectivas de resfriamento da economia global, que ameaçam derrubar a demanda por combustível.

No acumulado em 12 meses, depois de 16 meses seguidos com alta na casa dos dígitos, a gasolina voltou a ter uma alta discreta no mês passado, de 5,64%. O litro do combustível, que chegou a ser vendido no primeiro semestre, em média, a R$ 7,39, passando dos R$ 10 em algumas localidades, recuou para R$ 5,74 no final de julho.

Os dados recentes, no entanto, não estão disponíveis devido a uma tentativa de ataque aos sistemas da ANP (Agência Nacional do Petróleo), que realiza o levantamento de preços.

Sobre o futuro do preço da gasolina, analistas projetam estabilidade com quedas pontuais nos próximos meses. “A nossa perspectiva é de que não ocorram novos aumentos do preço de gasolina este ano”, diz o líder de análise da Warren Investimentos, Frederico Nobre, em entrevista ao portal de notícias G1. “É possível que a gasolina se mantenha nos patamares atuais ou até caia um pouco mais no decorrer de 2022”, completa.

Contudo, o economista e coordenador dos índices de preços da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz, avalia que os preços dependem do que vai acontecer com a economia mundial, pois o mundo vive um período de inflação alta, o que deve forçar os bancos centrais a elevar as taxas de juros para controlá-la. E, quando a economia esfria, isso interfere na demanda por petróleo e na alta dos preços da commodity.

Já para 2023, os analistas são um pouco mais pessimistas, pois, a partir de janeiro, os tributos federais voltam a incidir sobre a gasolina e, consequentemente, a pressionar os preços na bomba. “Para 2023, é outra conversa. Acho que tem que esperar um pouco mais para a gente conseguir se aprofundar. Existe uma eleição aí no meio do caminho que pode modificar a medida do ICMS, a questão toda da PEC dos benefícios (Auxílio Brasil de R$ 600 e benefícios para caminhoneiros e taxistas), enfim, então preferimos esperar para entender”, diz Nobre, da Warren.

Nas redes sociais, internautas fazem troça com preços da gasolina

Será divulgada no fim da tarde desta quinta-feira (18) pesquisa eleitoral Datafolha, que mostrará se Bolsonaro melhorou seus índices de intenção de votos frente ao primeiro colocado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na rede social Twitter, alguns deles ironizaram os preços dos combustíveis na bomba, dizendo que vão esperar o resultado da pesquisa de hoje para abastecerem seus veículos.

Um deles postou: “AVISO URGENTE. Não encha seu tanque de combustível até sexta-feira, quinta-feira sai pesquisa Datafolha”. Já outro disse: “Até outro dia, o preço dos combustíveis no Brasil estava atrelado ao dólar, agora está atrelado ao Datafolha!”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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