Pressionado pela grande mobilização popular, Bolsonaro se agarra a números exagerados da economia

Em reação a atos, Bolsonaro e ministros como Ciro Nogueira ressaltaram redução do preço do diesel pela Petrobras
12 de agosto de 2022

Sentindo-se acuado pela intensa mobilização popular em prol da democracia e por eleições livres, em atos realizados em várias partes do país ontem (11), o presidente Jair Bolsonaro e parte de seus asseclas, no mesmo dia, se agarraram a dados econômicos exagerados em uma reação às manifestações.

Nas redes sociais, o mais boquirroto dos ministros – Ciro Nogueira, da Casa Civil – destacou a queda da inflação no mês de julho para se contrapor às manifestações que se espraiaram pelas ruas brasileiras. Foi a maior reação popular contra as declarações golpistas do presidente, que, ao aparecer em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, tenta deslegitimar o processo eleitoral brasileiro, colocando em dúvida a honestidade dos números mostrados pela urna eletrônica.

Em outra reação ontem, ao mesmo tempo em que ocorria o ato em prol da democracia na Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo (USP), a Petrobras, alvo de ataques e interferência constantes do presidente, anunciava corte de R$ 0,22 no preço médio do diesel nas refinarias a partir de hoje (12).

Isso significa que toda a ação do governo é orquestrada com o propósito de deslegitimar seus opositores e jogar cortina de fumaça sobre o que realmente é mais importante para a sociedade brasileira.

Há dias, Bolsonaro tem tentado minimizar as cartas em prol da democracia elaboradas por dois movimentos: um encabeçado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a “Carta aos Brasileiros e Brasileiras” – que já conta com mais de um milhão de assinaturas de artistas, intelectuais, esportistas, políticos, entre outros – e outro pela Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo), com assinatura também da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que também foi lida no ato de ontem no centro da capital paulista.

Ontem, enquanto milhares de pessoas iam às ruas, Bolsonaro, que foi deputado federal por 28 anos, inclusive sendo eleito pelas urnas eletrônicas (e seus filhos também), fazia cara de paisagem minimizando as mobilizações e ressaltando a decisão da Petrobras de baixar o diesel. “Um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro”, disse o presidente.

De seu lado, Ciro Nogueira foi mais incisivo dizendo que, naquele momento, o governo escrevia outra carta. “Carta ao povo brasileiro: estamos escrevendo a carta que muda o Brasil para melhor. Combustível mais barato, redução do preço do diesel!”, disse.

Paulo Guedes, o “posto Ipiranga” da Economia brasileira, também foi outro que saiu em defesa do presidente. Em reunião com integrantes do mercado financeiro ontem, ele também destacou feitos econômicos do governo.

Além disso, Nogueira citou a inflação negativa de 0,68% em julho, muito em função da redução dos preços dos combustíveis. O que o ministro não contou, no entanto, é que os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, enquanto ocorre a queda dos preços dos  combustíveis por meio de medidas eleitoreiras, beneficiando a camada privilegiada da sociedade brasileira, os preços dos alimentos continuam nas alturas, punindo a população mais vulnerável do país.

À noite, em sua live semanal em suas redes sociais, Bolsonaro voltou a atacar os atos, dizendo que a CUT (Central Única dos Trabalhadores), aliada do PT, assinou a carta porque “está com saudade” do imposto sindical obrigatório, extinto pela reforma trabalhista do governo de Michel Temer que cortou o importo. Sobre o apoio de artistas, Bolsonaro disse que estão interessados no retorno da Lei Rouanet como era antes de seu governo.

Números do Dieese se contrapõem aos dados exagerados da economia usados por Bolsonaro

Com números que traduzem a realidade brasileira, levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que, a partir do segundo semestre de 2020, a inflação brasileira começou a subir e não parou mais.

O indicador, segundo o Dieese, saiu de um acumulado em 12 meses de 2,5%, em maio de 2020, para os atuais 10,12%, em julho de 2022. Entre as causas principais para que a inflação esteja em trajetória ascendente ao redor do mundo e não só no Brasil está a pandemia de Covid-19, em um primeiro mundo, e a guerra da Rússia contra a Ucrânia em um segundo momento.

Porém, o Dieese aponta que, no Brasil, a inflação “adquiriu características próprias, que agravaram esse contexto”. Entre as razões estão a falta de políticas adequadas para produção de alimentos, de estoques reguladores e demais políticas de abastecimentos.

Ainda, o órgão atribui a inflação nacional à desastrosa política de preços da Petrobras, “aliada a um contexto de forte desvalorização do real frente ao dólar, com excessiva oscilação devido à completa omissão do governo”.

O conjunto da obra da falta de habilidade e, muitas vezes, inação do governo fizeram com que a inflação chegasse aos 12,47% no acumulado do ano em abril de 2022 – a maior taxa desde 2003.

Agora, às vésperas da eleição e com resultados econômicos insatisfatórios, o governo do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, buscou aplicar medidas que colaborassem para a redução da inflação, “ainda que sem atingir a raiz dos problemas” já citados.

Além disso, o Dieese aponta que não foi somente a desoneração dos preços dos combustíveis a responsável pela queda dos valores nas bombas, mas, especialmente, a redução do preço do barril do petróleo no mercado internacional, um dos principais parâmetros usados na política de preços da Petrobras.

Redação ICL Economia
Com informações do Dieese

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