Privatização da Eletrobras: inclusão de térmicas custa R$ 52 bi e aumenta conta de luz

Processo de venda da estatal no TCU foi suspenso por 20 dias com o pedido de vista do ministro Vital do Rego no último dia 20
25 de abril de 2022

As novas usinas termelétricas que estiveram no centro de uma manobra dos parlamentares no Congresso Nacional como condição para permitir a privatização da Eletrobras, podem gerar custo adicional de R$ 52 bilhões ao país para operação até 2036, e o gasto extra pode ocorrer mesmo que a estatal não seja vendida neste ano. As usinas têm entrada em operação prevista entre 2026 e 2030.

Quando da aprovação da Medida Provisória (depois convertida em lei) que permite a venda da estatal, os congressistas incluíram a exigência das térmicas no principal artigo da MP, que ficou redigido assim como um único parágrafo de várias páginas, para evitar que o governo vetasse este trecho — se optasse pelo veto, a própria privatização da Eletrobras seria inviabilizada.

Reportagem publicada pelo O Globo, nesta segunda (25), traz dados que integram parte de documento elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, e publicado no último dia 6 de abril. O relatório mensura esse impacto do uso dessas termelétricas, que acabará chegando ao bolso do consumidor.

A previsão de contratação de 8 mil megawatts (MW) de novas usinas a gás, que serão construídas nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, foi incluída como um “jabuti” na medida provisória, que trata da oferta de ações ao mercado da Eletrobras, maneira pela qual a estatal será privatizada.

O valor de R$ 52 bilhões estimado pela EPE considera apenas o ônus de acionar essas usinas. Além disso, haveria o custo da construção delas e de gasodutos para abastecê-las — muitas dessas térmicas estão previstas para áreas sem fornecimento local de gás.

Ainda segundo especialistas ouvidos pelo O Globo, a despesa extra (R$ 52 bilhões), assim como os custos da construção e implantação das térmicas, vai pressionar ainda mais a conta de luz nos próximos anos, já que todo os gastos extra são repassados às tarifas. Clarice Ferraz, diretora do Instituto Ilumina, explica que é “um processo cercado de incertezas e custo superior aos cerca de R$ 50 bilhões, que vai bater no bolso do consumidor. E a lei não é clara sobre fazer ou não o leilão em caso de não ocorrer a privatização da Eletrobras”.

Privatização da Eletrobras adiada

Com o pedido de vistas do ministro do Tribunal de Contas da União Vital do Rego no processo que analisa a segunda etapa de privatização da Eletrobras no órgão, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou na sexta-feira (22) que, agora, a privatização da empresa deve acontecer em junho ou julho deste ano. A intenção do Executivo era viabilizar a privatização até 13 de maio, data-limite considerada ideal pelo governo federal.

O TCU adiou por 20 dias o julgamento da segunda e última etapa do processo da Eletrobras, no último dia 20 e, ao pedir vista, o ministro Vital do Rêgo teceu críticas ao processo, disse que a Eletrobras foi subavaliada e que a privatização pode resultar no aumento da conta de luz, impacto que o governo não projetou.

Pela visão do governo, Bento Alburquerque afirmou que uma vez dado o aval do TCU, “será possível realizar a capitalização até julho”.  Ao ser questionado se a proximidade com as eleições poderia prejudicar a operação de venda, o ministro negou, ponderando que há muito interesse do mercado e não vê o processo sendo contaminado por qualquer questão política ou eleitoral.

Se, por um lado, o pedido de vista de Vital do Rego prejudicou os planos do governo, por outro lado, foi considerado como uma vantagem pelos partidos da oposição na batalha contra a privatização da Eletrobras. A oposição é contra a venda da estatal do setor elétrico por ser um patrimônio da sociedade brasileira e colocar em risco a soberania energética nacional. Isso sem contar com prováveis aumentos abusivos nas contas de luz, uma vez que a Eletrobras nas mãos do mercado terá como único objetivo o lucro, sem se preocupar com políticas sociais, como é o caso do programa Luz para Todos.

O processo de privatização da Eletrobras está em análise no TCU desde setembro do ano passado e, nesta segunda fase, agora em julgamento, o tribunal avalia o modelo de venda proposto pela União, incluindo faixa de valor das ações a serem ofertadas na bolsa de valores.

Redação ICL Economia
Com informações das agências

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