A interface da “nova economia” e os processos de privatizações das empresas públicas no Brasil foram abordados pelo economista Eduardo Moreira no programa ICL Notícias, desta quinta-feira (19).
A teoria “comprada” por parte dos brasileiros de que o Estado não sabe “tomar conta de nada “e por isso é preciso seguir com as privatizações das estatais foi desvendada pelo economista. “É preciso entender, que as empresas que o Brasil está privatizando serão compradas por outros estados, por fundos soberanos e estatais de outros países. Então, não é que o Estado brasileiro não sabe tomar conta de nada, é que essas operações de aquisições e emissões rendem muito dinheiro para aqueles que as organizam”.
Para além desse lucro aos operadores, Moreira ressalta o perigo de setores que são naturalmente monopólios serem transferidos para outros países, “porque o objetivo passa a ser só lucro. Não vai cair o seu preço, vai subir o seu preço. E a qualidade vai piorar”.
Como exemplos ele cita que, quando uma empresa de lixo é privatizada, ela irá ganhar mais dinheiro quando coleta mais lixo. “Então, olha que maluquice o conflito de interesses. A empresa tem interesse que as pessoas produzam mais lixo”, o que está totalmente incoerente com o mundo atual, onde para evitar sua destruição é necessária a produção de menos lixo.
O mesmo caso se aplica a uma empresa de água. “Ela ganha mais dinheiro se as pessoas e empresas gastarem mais água e isso não tem algum sentido em um mundo onde a água é cada vez mais escassa”.
Com privatizações, função social das estatais é deixada de lado para dar lugar ao lucro
Em empresas estatais essa lógica do lucro integra-se a políticas públicas para a melhor qualidade de vida dos cidadãos.
Eduardo Moreira explicou sobre a “nova economia”, que ele classifica como aquela onde, teoricamente, todo mundo pode ser o dono do seu próprio destino, ser o empreendedor. E isso também se aplica em relação às empresas que estão nos planos do governo atual para serem privatizadas.
Essa economia está baseada em três principais custos. Primeiro, o custo de financiamento, porque as pessoas, quando querem abrir um negócio, elas não têm o capital e têm que levantar esse dinheiro. Em segundo lugar, o custo da energia para transformar aquilo querem vender e, em terceiro, o custo do envio dos produtos.
Diante disso, “dá para entender por que estão querendo privatizações dos bancos públicos – Caixa e o Banco do Brasil, as empresas de energia – Eletrobras e Petrobras – e os Correios?”. São justamente essas empresas onde está o interesse do setor privado, que estimula essa “nova economia”.
Seguindo seu raciocínio, o economista diz que é fácil entender o que irá acontecer quando privatizarem esses três principais custos. “O custo do seu financiamento, da energia e do envio vai ser dez vezes mais caro. E como vai ficar para o pequeno empreendedor que acha que vai competir com o grande? Que acredita nas promessas de Paulo Guedes, do livre comércio? O que vai acontecer para o pequeno, que não terá mais subsídio, não contará mais com política pública? A resposta é que o pequeno vai ter que trabalhar para os grandes”.
Ainda, segundo Eduardo Moreira, “é esse o plano. Tudo no final é para fazer a mão de obra ficar mais barata e o lucro das empresas ficarem maiores. Agora só depende de você querer ser enganado, achar que a sua gasolina vai ficar mais barata, que a sua conta de luz vai ficar melhor e que um serviço de correios igual ao dos filmes dos EUA vai chegar onde você mora, independentemente de qual for o lugar. Cada um acredita no que quiser”.
Redação ICL Economia