O volume de empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao setor industrial subiu no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e já é o maior em relação ao total acumulado em oito anos. De janeiro a setembro, o montante liberado para o segmento já supera o destinado ao agronegócio, algo inédito em oito anos.
No acumulado de janeiro a setembro, o setor industrial contou com 27% de todo o crédito aprovado pelo BNDES, ante 26% da agropecuária. No mesmo período do ano passado, a ordem foi inversa. O campo ficou com 31% e as fábricas, com 18%.
Nos últimos 12 meses até junho (último período com dados completos consolidados), foram aprovados R$ 208 bilhões aos diferentes setores. O valor representa o dobro do verificado dois anos antes (a preços constantes).
O aumento de recursos ao setor industrial ocorre em meio a uma série de iniciativas importantes do governo Lula 3 para retomada do setor, sendo o principal deles o Nova Indústria Brasil, lançado em janeiro deste ano, que deve gerar R$ 20 bilhões em investimentos.
O próprio presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, chegou a defender o programa, dizendo que o país precisa “enfrentar o complexo de vira-lata”. “Temos que proteger o mercado. Senão, não tem industrialização como o mundo está vendo”, defendeu. “Temos de enfrentar o complexo de vira-lata”, complementou.
Na semana passada, em evento no Palácio do Planalto, Mercadante, destacou o momento de aumento de investimentos do setor. “Depois de muito tempo, presidente [Lula], é a primeira vez que a indústria lidera o crescimento nesse último trimestre. E o investimento lidera o crescimento”, disse.
A indústria foi um dos setores responsáveis por ajudar o país a registrar taxa de desemprego de 6,4% no trimestre encerrado em setembro, a segunda menor da série histórica da PNAD Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, iniciada em 2012.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o Nova Indústria Brasil fez com que mais empresas demandassem recursos do BNDES. A demanda dobrou neste ano, na comparação com um ano antes.
BNDES: “indústria foi totalmente deixada de lado em governos anteriores”
À reportagem da Folha, José Luis Pinho Leite Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, disse que a instituição está em processo de gradual retomada do apoio ao setor após os números observados nos últimos governos.
“Nos anos anteriores aos do governo do presidente Lula, a indústria foi totalmente deixada de lado. O BNDES deixou de apoiar o setor industrial no sentido não só de financiamento, porque diminuiu muito, mas também deixou de ter uma diretoria que olhava para a indústria”, afirmou.
“Estamos nos reaproximando do setor industrial sem deixar de apoiar os outros. Não queremos deixar de apoiar o agro nem a infraestrutura”, disse. “O agro também demanda máquinas e equipamentos do setor industrial. Não queremos deixar de apoiar isso”, completou.
Lembrando que o setor do agronegócio ainda é bastante próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Lula buscou, por vários meios, uma proximidade com o segmento.
Tanto que, no ano passado, uma das primeiras medidas do presidente foi anunciar um volume recorde de recursos para o Plano Safra 2023/2024, no valor de R$ 364,22 bilhões.
Apesar do aumento do volume de recursos do BNDES à indústria, o montante está longe do que foi no passado. Em meados dos anos 1990, por exemplo, a indústria liderava as aprovações e chegou a obter mais de 50% dos recursos concedidos pela instituição (ao longo dos anos, a infraestrutura passou a ser a campeã).
“Você não sai do nada e volta ao que era lá em 2010, no governo Lula, que era 40% [de aprovação para a indústria]. Você vai caminhar aos pouquinhos. E é isso que nós estamos fazendo”, disse Gordon.
Entre os segmentos dentro da indústria que receberam mais recursos estão:
- Alimentos e bebidas: 25% do total à indústria;
- Mecânica: 18%;
- Química e petroquímica: 12%; e
- Transportes (12%) lideram as aprovações no setor.
CNI
“O BNDES tinha se fechado bastante para todos os setores e as aprovações tinham caído muito. É um momento de inflexão importante, com demanda maior, um mercado de trabalho crescendo e concessões de crédito avançando. As aprovações para a indústria cresceram significativamente em 2023 e estão crescendo neste ano em relação ao mesmo período do ano passado”, disse Mário Sérgio Telles, superintendente de Economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
No entanto, ele comentou que a condição geral do setor, como problema tributário, custos de energia e de infraestrutura, além do financiamento do crédito, estão longe do ideal. “Não é um momento espetacular. Longe disso”, afirmou.
Ainda assim, dados compilados pela CNI mostram que produção, faturamento, emprego e intenção de investimento na indústria cresceram nos últimos meses. A utilização da capacidade instalada, por outro lado, mostra uma melhora em agosto ainda com margem de elevação sem pressão nos preços.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo