Em retrocesso maior que a média mundial, Brasil retorna ao nível de 2014 no IDH da ONU. País ocupa a 87ª posição entre 191 nações

Indicador também mostra que, no ano passado, expectativa de vida do brasileiro caiu de 75,3 anos para 72,8 anos. Com esse resultado, o Brasil retrocedeu 13 anos nesse quesito
8 de setembro de 2022

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) insiste em dizer que a economia do país “está bombando” e nega que existam famintos nas ruas brasileiras, a realidade social se impõe e é escancarada em números. O IDH da ONU (Organização das Nações Unidas) mostra que o Brasil desceu para a 87ª posição em 2021, no ranking que mede o bem-estar da população considerando os indicadores de saúde, escolaridade e renda. É a primeira vez em três décadas que o Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil cai por dois anos seguidos globalmente.

O relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) foi divulgado na manhã desta quinta-feira (8). No documento, o Brasil aparece com um IDH de 0,754, entre 191 países, apontando queda de três posições em relação a 2020, quando o país ocupou o 84º lugar com 0,765. Ou seja, o Brasil recuou ao patamar de 2014, quando o IDH do país também era de 0,754. É um retrocesso maior do que a média mundial — o IDH global retrocedeu ao nível de 2016.

Dos indicadores que medem o IDH, o que pesou mais para derrubar o Brasil no ranking foi a saúde. Isso evidencia o impacto da pandemia de Covid-19 nos dados brasileiros. Com mais de 670 mil mortes pela doença, o Brasil só perde para os Estados Unidos no ranking mundial de óbitos. A inépcia do governo federal em gerir a crise sanitária e o discurso negacionista do presidente, que chamou a Covid-19 de “gripezinha”, contribuíram bastante para esses números.

Na América do Sul, o Brasil fica atrás de seus principais vizinhos. Na região, o país mais bem colocado é o Chile, com IDH de 0,855, em 42º lugar. Em seguida vem Argentina, em 47º (0,842); Uruguai, em 58º (0,809), bem à frente de Peru (84º, com 0,762).

Os dados da ONU corroboram com outro estudo. O 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles mostra que a disparada da inflação, junto ao mercado de trabalho insuficiente, mais o corte do Auxílio Emergencial no fim do ano passado elevaram o número de pessoas em situação de pobreza para 19,8 milhões nas metrópoles brasileiras em 2021, representando 23,7% – quase um quarto – da população total dessas regiões.

O estudo analisa estatísticas das 22 principais áreas metropolitanas do país. O percentual de 23,7% também é, com folga, o maior da série histórica. Até então, a porcentagem nunca havia alcançado 20%

Ainda segundo o boletim, o grupo em situação de pobreza teve acréscimo de 3,8 milhões de pessoas na comparação com 2020, quando estava em cerca de 16 milhões. O avanço equivale a praticamente o dobro da população total estimada para uma cidade como Curitiba – quase 2 milhões de habitantes.

IDH da ONU mostra indicadores da educação estagnados e menor expectativa média de vida do brasileiro

Em 2019 a expectativa de vida média do brasileiro ao nascer era de 75,3 anos. No ano passado, esse indicador caiu para 72,8 anos. Com esse resultado, o Brasil retrocedeu 13 anos nesse indicador. A esperança de vida média ao nascer hoje é praticamente igual à de 2008, que era de 72,7 anos.

Ainda, o Índice de Desenvolvimento Humano mostrou que a renda média do brasileiro avançou em relação a 2019. Por outro lado, os indicadores de educação ficaram estagnados.

A situação do Brasil piora no ranking quando a desigualdade entra na equação. O país perde 20 posições quando o IDH é ajustado à desigualdade, passando de 0,754 para 0,576, redução de 23,6%. Isso acontece, principalmente, pela desigualdade de renda no país — o que já vinha sendo observado em anos anteriores.

Globalmente, o IDH voltou aos níveis de 2016, com mais de 90% dos países registrando declínio na pontuação em 2020 ou 2021, anos em que o planeta foi afetado fortemente pela pandemia. A guerra na Ucrânia também puxou os indicadores para baixo, segundo o Pnud. O IDH global é de 0,732. Quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano.

Entre os cinco primeiros colocados estão Suíça (0,962), Noruega (0,961), Islândia (0,959), Hong Kong (0,952) e Austrália (0,951). Maior economia da Europa, a Alemanha figura na nona posição, com IDH de 0,942, seguida pelos Países Baixos, com 0,941. Reino Unido ficou com a 18ª posição (0,929). Nas Américas, o Canadá é o mais bem colocado, com índice de 0,936, na 15ª posição, enquanto os Estados Unidos aparecem em 21º lugar, com 0,921. Cuba aparece em 83º, com 0,764 de índice. México está abaixo, com 0,758, em 86º lugar.

Redação ICL Economia
Com informações de agências de notícias

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