Indignada com sua demissão da presidência da Caixa, entregue pelo governo Lula após pressão do Centrão, a economista Rita Serrano se pronunciou pela primeira vez desde que foi demitida do cargo. Em um artigo publicado na internet, Rita ressaltou a dificuldade das mulheres em ocupar “espaços de poder” e disse que “é preciso pensar em outra forma de fazer política”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu Rita na quarta-feira (25), em reunião no Palácio do Planalto. No lugar dela, foi anunciado o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, servidor de carreira da Caixa e que ocupou a secretaria-executiva do Ministério das Cidades durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Na época, o titular da pasta era o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), aliado de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e líder do grupo político chamado Centrão.
“Ser mulher em espaços de poder é algo sempre desafiador. Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses à fio na imprensa. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e entregar resultados, de que é possível ter um banco público eficiente e íntegro, de que é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política e ter relações humanizadas no trabalho”, desabafou Rita.
Funcionária de carreira da Caixa desde 1989, ela estava desde janeiro como presidenta da instituição. Antes, ela participou do Conselho de Administração do banco.
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, lamentou a demissão de Rita na edição, desta sexta-feira (27), do ICL Notícias, programa diário veiculado nas redes sociais. “Sai da Caixa uma guerreira brilhante, que conheço pessoalmente, que sozinha, no Conselho de Administração, lutou contra mais de uma dezena de homens que praticavam assédio moral, sexual, que estavam entregando a Caixa para a iniciativa privada. Ela lutou como guerreira representando os funcionários do banco sozinha durante quatro anos”, disse Moreira, lembrando que ela foi eleita para o cargo para representar os funcionários com mais de 90% dos votos.
Assim como o desabafo de Rita, o economista também lembrou que a grande mídia deixa subjugadas as mulheres que ocupam o governo Lula. E lembrou que, antes dela, outra duas já haviam sido “sacadas”: a ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro e Ana Moser, que ocupava o Ministério do Esporte também entregue ao Centrão.
No dia da demissão de Rita, o fundador do ICL já havia se manifestado em um vídeo postado em sua redes sociais. “Pois é, turma, perdemos. O grupo de Arthur Lira conseguiu ganhar a Caixa Econômica Federal”, disse Eduardo, em vídeo postado no Instagram. “Quem, assim como eu, acreditava que a gente tinha conseguido uma vitória, vimos que eles só esperaram o momento em que a atenção estivesse desviada um pouco para o lado pra poder cumprir o combinado”.
A troca de comando da Caixa já vinha sendo antecipada. Como ressaltou Moreira, “Lira estava dormindo tranquilo”, pois já sabia que ganharia o banco, de porteira fechada, para que possa indicar substitutos para as vice-presidências também.
Lula e Lira, no entanto, ainda devem se reunir ao longo desta semana para confirmar as substituições. O comando da Caixa e de outros órgãos públicos, como os Correios e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), era reivindicado pelo grupo político desde julho.
Presidente da Fenae faz duras críticas à demissão de Rita Serrano
Em entrevista ao site ICL Notícias, o presidente da Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal), Sérgio Takemoto, fez duras críticas à troca de comando da Caixa, motivada pela tentativa do governo de conseguir mais apoio no Congresso.
“Entendemos como um grande retrocesso a saída da Rita Serrano da presidência da Caixa”, disse Takemoto. “Ainda mais que a motivação foi atender ao pedido do Centrão, ou seja, a instituição foi usada como moeda de troca”, complementou.
O sindicalista elogiou o trabalho que vinha sendo executado por Rita desde o início do governo de Lula.
“Sob a gestão da Rita, a Caixa retomou o seu papel de principal agente do governo nos programas sociais e no financiamento habitacional. No âmbito interno, houve a retomada do diálogo com as entidades sociais e sindicais e a valorização e respeito aos empregados”, disse o presidente da Fenae.
Takemoto sinaliza que os funcionários podem reagir a retrocessos: “Não vamos aceitar que a política do governo passado seja retomada, como o desmonte da empresa, das políticas públicas e também o retrocesso na gestão de pessoas”.
Ele também fez referência indireta aos prejuízos gerados pelo governo Bolsonaro. “A experiência com uma gestão que causou grandes danos à empresa e aos empregados deixou muitas lições para as entidades e empregados: temos que enfrentar e denunciar os desmandos e abusos cometidos contra o patrimônio público e o desrespeito aos funcionários.”
Quando perguntado sobre qual forma de resistência é possível fazer, ele explicou: “Isso se faz apostando na organização dos trabalhadores através das entidades sindicais e associativas”.
Redação ICL Economia
Com informações do G1 e do ICL Notícias