A saída de Pedro Guimarães da presidência da Caixa Econômica Federal, depois das acusações de assédio sexual divulgadas na terça (28) à noite, foi adiada pelo presidente Jair Bolsonaro, que não o exonerou e aguardou seu pedido de demissão, feito somente nesta quarta (29) ao final do dia. Isso mesmo diante da pressão do núcleo político responsável pela sua campanha de reeleição, que avalia que, com esse episódio, Bolsonaro pode perder mais espaço no eleitorado feminino, em que já enfrenta altíssima rejeição.
A resistência de Bolsonaro pode ser explicada por sua proximidade com Guimarães, inclusive na vida pessoal, onde apareciam frequentemente lado a lado em viagens e nas transmissões em redes sociais.
Pedro Guimarães entrou no governo junto com o presidente Bolsonaro e logo ganhou a confiança do presidente. “A gente não pode errar”, disse ela ao tomar posse na Caixa, dirigindo-se a Bolsonaro. Na famosa reunião ministerial de abril de 2020, divulgada depois de ordem judicial, afinado ao discurso de Bolsonaro, ele debochou do medo à pandemia.
Durante muitas das lives de Bolsonaro, Guimarães esteve presente – 13 no total. Reportagem do G1 lembra que, em uma das lives, houve um momento em que Bolsonaro se queixava das acusações de ser negacionista, racista e misógino, ou seja, de ter aversão a mulheres. Em tom irônico, o presidente provocou Guimarães: “Essas narrativas que somos negacionistas, não acreditamos em vacina, aquela história toda para boi dormir como fizeram na minha campanha em 2018, dizendo que eu era racista, que eu era misógino. Misógino não gosta de mulher. Você é misógino, Pedro?”, diz Bolsonaro.
Muitos afirmam que Guimarães poderia ser o candidato a vice de Bolsonaro na sua campanha a reeleição tamanha a proximidade entre os dois.
A saída de Pedro Guimarães trouxe à tona sua antiga ligação com Bolsonaro
O comentarista do ICL Notícias Eduardo Moreira, ainda nesta quarta (29), apresentou um roteiro de “fatos notórios e públicos, colocando-os em ordem cronológica” a ligação de Bolsonaro e Guimarães, o que, segundo ele justificaria a pressa do governo em abafar todo o caso.
“Primeiro porque Pedro Guimarães, das pessoas que estão em cargos importantes, é a mais próxima a Bolsonaro, como também a que está há mais tempo junto a ele, participando do processo que resultou em sua eleição a presidente da República. Guimarães articulou contatos com o mercado financeiro, inclusive internacional, ainda quando Bolsonaro era muito ‘pequeno’ nas pesquisas de intenções de voto”.
Em 2018, a jornalista Julia Duailib, em reportagem para o G1, afirmava: “O indicado para ser o novo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, foi o anfitrião de Jair Bolsonaro em um giro pelos Estados Unidos para conversas com investidores estrangeiros. Os encontros se deram em outubro de 2017, em Boston. Foram quatro reuniões articuladas por Guimarães com gestores de fundos americanos, das quais também participaram os seus três filhos. Estava previsto ainda um encontro com integrantes do mercado financeiro em Nova York, que acabou cancelado.”
Em outro trecho, apontava: “Guimarães, um dos sócios da Brasil Plural, foi um dos primeiros integrantes do mercado financeiro a apostar na candidatura de Bolsonaro. Ele articulou a agenda de reuniões, que tinha como objetivo tornar o nome do então pré-candidato à Presidência mais palatável aos investidores. Segundo relatos dos encontros, a ideia foi mostrar um presidenciável mais palatável às propostas do mercado financeiro, ideias que passaram a ser defendidas por Bolsonaro com a adesão do economista Paulo Guedes à sua candidatura.”
Outros fatos lembrados por Moreira durante o ICL Notícias estão ligados ao poder de Guimarães junto a grandes recursos financeiros do governo federal, como durante a pandemia e a criação do novo banco digital da Caixa que incorpora todos os ativos da instituição “física”. Leia mais aqui.
Daniella Marques Consentino é nova presidente da Caixa
Depois de uma conversa tensa com o presidente Bolsonaro, na tarde desta quarta-feira (29), no Palácio do Planalto, Pedro Guimarães apresentou sua carta de demissão e o presidente da República anunciou Daniella Marques Consentino para seu lugar.
A nova presidente da Caixa, Daniella Marques Consentino, tem formação de administradora de Empresas pela PUC/RJ, com MBA em Finanças pelo Ibmec. Até ontem (29), ela estava na Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, cargo que assumiu em fevereiro deste ano.
Daniella é próxima do ministro da Economia, Paulo Guedes. Já foi sua sócia na Bozano Investimentos, onde atuou como Diretora de Compliance e Operações Financeiras (COO e CFO). Trabalhou também por anos no mercado financeiro, na área de gestão independente de fundos de investimentos. Também foi diretora-executiva da Oren Investimentos; na Mercatto Investimentos, diretora de Risco e Compliance, Sócia e Gestora de Renda Variável.
Com acesso direto a Paulo Guedes, Daniella goza de prestígio dentro do governo, onde já discursou, por exemplo, em um evento do dia das Mulheres, no Palácio do Planalto, em março deste ano.
Entenda as denúncias de assédio sexual do presidente da Caixa
As acusações de assédio sexual praticadas por Pedro Guimarães foram reveladas pelo portal Metrópoles, nesta terça (28). Ao menos cinco funcionárias da Caixa dizem ter sido vítimas de assédio sexual. Em um dos relatos, uma delas diz que uma pessoa ligada ao presidente do banco perguntou o que fariam “se o presidente” quisesse “transar com você?”.
Segundo a denunciante, ele estava na piscina e “parecia um boto se exibindo”. Além disso, funcionárias recebiam chamados para ir no quarto de Guimarães, entre outros relatos.
Uma apuração foi aberta na Procuradoria da República no Distrito Federal. O caso sobre assédio sexual tramita sob sigilo.
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias e das agências de notícias