O canal do Panamá enfrenta uma das piores secas históricas, com reflexos para o comércio global. Embora o Panamá seja um dos países com maior incidência de chuvas do mundo, a nação localizada na América Central enfrenta uma das estações mais secas já registradas.
Por essa razão, a falta de chuvas abundantes tem levado os níveis de água do Canal do Panamá aos mais baixos já registrados, o que levou as autoridades a impor restrições ao peso dos navios e ao tráfego diário.
O que acontece no canal é mais um exemplo de uma via fluvial afetada pelas condições meteorológicas causando atrasos no fluxo de mercadorias essenciais, entre os quais também estão os rios Reno e Mississippi.
No fim do mês passado, as autoridades anunciaram a redução gradual do tráfego de navios a partir de 3 de novembro para economizar água.
A ACP (Autoridade do Canal de Panamá) informou que cogita reduzir inicialmente para 25 o número de travessias diárias pela via, mas o limite pode cair a 18 até fevereiro de 2024.
Em 2022, 39 navios passaram em média por dia pelo local, mas o número registra queda há vários meses. Desde o começo do ano, a média vem sendo mantida em 31. Quase 6% do comércio marítimo mundial passa pelo Canal do Panamá.
“O mês de outubro foi o mais seco desde que os registros começaram há 73 anos. A seca provocada pelo fenômeno El Niño continua impactando severamente o sistema de reservatórios do Canal do Panamá e, como consequência, a disponibilidade de água foi reduzida”, afirmou a ACP.
O cronograma foi distribuído da seguinte maneira:
- 3 a 7 de novembro: média de 25 navios por dia
- 8 a 30 de novembro: média de 24 navios por dia
- 1º e 31 de dezembro: média de 22 navios por dia
- 1º e 31 de janeiro de 2024: média de 20 navios por dia
- A partir de fevereiro de 2024: média de 18 navios por dia
Seca no Canal do Panamá deve trazer implicações para o agronegócio
Uma das maiores obras da engenharia mundial e uma das rotas marítimas globais mais movimentadas, responsável por aproximadamente 6% do comércio marítimo global, o canal tem sido impactado principalmente pelo fenômeno El Niño, que afeta o regime de chuvas.
O agronegócio deve ser um dos setores a serem afetados pelas restrições impostos pelas autoridades para lidar com o problema da seca.
Em entrevista ao Canal Rural, Marcela Marini, analista de Grãos e Oleaginosas do Rabobank Brasil, aproximadamente 50% de todo o volume transportado pelo Canal do Panamá tem origem na costa leste dos Estados Unidos e destino no mercado asiático. Portanto, uma das principais implicações dessa restrição seria a redução do volume disponível para exportações, especialmente no que diz respeito aos grãos norte-americanos.
A região do Canal do Panamá desempenha um papel crucial na logística global, e suas restrições teriam um impacto significativo nas exportações dos Estados Unidos.
No ano passado, cerca de 26% do volume exportado de soja dos EUA e aproximadamente 16% das exportações de milho utilizaram o Canal do Panamá para acessar o mercado asiático.
O Canal do Panamá depende da água doce dos lagos vizinhos. Um sistema de eclusas utiliza enormes quantidades de água — pelo menos 50 milhões de galões, ou 190 milhões de litros — para fazer cada embarcação flutuar através do canal.
Normalmente, nesta época do ano, os níveis dos lagos estão aumentando. No entanto, a precipitação no Panamá nesta primavera e no verão foi a mais baixa desde o início do século.
Devido ao problema, o canal também reduziu o calado (distância vertical entre a parte inferior da quilha e a linha de flutuação de uma embarcação) dos navios, o que obrigou alguns navios mercantes a descarregar contêineres antes de entrar na via interoceânica.
Segundo informações do portal La Prensa, do Panamá, um sindicato de condutores de navios do canal questionou o governo pela falta de resposta à crise devido aos baixos níveis das águas dos lagos Gatún e Alajuela, que abastacem o canal com água doce. Em comunicado, o grupo destacou que esta questão é de “extrema preocupação”.
Redação ICL Economia
Com informações da CNN