O governador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu na quarta (23) a venda de parte de uma fazenda histórica localizada em Sumaré, interior do estado, que abriga o IAC (Instituto Agronômico de Campinas). Segundo o governador, “não dá para ficar se apegando ao patrimônio”, afinal, é preciso “gerar valor para o Estado”.
Freitas esteve visitando a Fazenda Santa Elisa, que deve entrar na lista de privatização do governo do estado. A primeira foi a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), concluída este ano.
“Não dá para ficar se apegando à área, patrimônio. Isso é uma lógica meio patrimonialista. Então, tem áreas importantes para a pesquisa? Vamos ver. Qual é a área que, de fato, é importante para a pesquisa? Vamos manter a área importante para a pesquisa e o resto, vamos vender”, afirmou.
Segundo ele, as áreas utilizadas em pesquisas devem ser mantidas, mas o que for considerado subutilizado pode ser revertido, por exemplo, para a construção de empreendimentos habitacionais.
Quando veio a público a possibilidade de venda de uma gleba de 70 mil metros quadrados dentro da área do IAC, denominada de São José, entidades e pesquisadores se mobilizaram, porque o terreno abriga a população mais antiga do mundo de plantas de cafeeiro arábica clonadas por cultura de tecidos.
O instituto possui cerca de 700 hectares e a área cogitada para venda corresponde a 1% do total. Apesar disso, os impactos de destino da área para projetos habitacionais, por exemplo, podem gerar impactos.
A venda do terreno é permitida sem a necessidade de autorização da Assembleia Legislativa pela lei nº 16.388, de 2016. “Por que o Estado vai manter um patrimônio gigantesco em termos de terra? Não faz sentido isso. A gente tem que ter racionalidade. Já passou a fase de você ter aquele Estado que tem muito patrimônio, que tem muita terra, que tem muito prédio etc. Não faz sentido. Isso não tem lógica econômica, não tem sentido econômico”, complementou o governador.
Tarcísio de Freitas se esquece de que patrimônio abriga maior banco de germoplasma de café
A comunidade científica tem se manifestado contrariamente à venda. A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) ressaltou que a fazenda concentra o “maior banco de germoplasma (amostras para conservar o material genético) de café do Brasil, um dos principais do mundo.
A área experimental reúne cerca de cinco mil ‘acessos’, que são plantas de diferentes tipos de café, muitos considerados raros e em extinção”.
Entre o acervo, destacam-se as amostras de plantas de café resistentes pragas, como ferrugem e, mais recentemente, ao bicho mineiro.
A associação ainda reforçou que 90% do café produzido no Brasil utiliza variedades desenvolvidas a partir desse banco de germoplasma. Além disso, o IAC está a caminho de se tornar a única instituição no mundo a desenvolver cultivar de café arábica sem cafeína nos grãos.
“Esta fazenda experimental é um patrimônio incomensurável do estado de São Paulo, que precisa ser defendida não apenas por cafeicultores, que dependem destas pesquisas para seguir produzindo cada vez melhor, mas por todos os cidadãos brasileiros que zelam pela ciência e, principalmente, pela sociedade paulista que evoluiu e se fortaleceu no país a partir da cultura do café”, defendeu, em nota, Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC.
A Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Campinas (ADunicamp) também divulgou uma nota manifestando “indignação e repúdio diante da decisão do governo Tarcísio de vender a Fazenda Santa Elisa”.
Em nota enviada ao site g1 na segunda-feira (21), a secretaria estadual de Agricultura e Abastecimento confirmou que realiza estudos para avaliar a viabilidade de venda de áreas pertencentes à pasta, mas garantiu que as áreas com pesquisas em andamento não serão alteradas.
Redação ICL Economia
Com informações do g1