A piora gradual da economia brasileira nos últimos anos tem se refletido nos ganhos do trabalhador. Os brasileiros que ganhavam até o piso do salário mínimo representavam 27,6% dos trabalhadores no último trimestre de 2015 passando para 30,09% no mesmo período de 2018, no fim do governo Temer. Em 2022, no primeiro trimestre, mesmo considerando os efeitos da sazonalidade no mercado, a quantidade de trabalhadores, formais e informais, que recebia até um salário mínimo chegou a 38,22% do total da força ocupada, segundo levantamento da Tendências Consultoria divulgado pelo jornal O Globo.
Isso significa que, no governo Bolsonaro, a fatia dos trabalhadores que ganha até o salário mínimo cresceu 8,2%. Em números absolutos, são 36,415 milhões de pessoas ganhando salário mínimo, ou seja, 8,3 milhões a mais que no fim do governo Temer.
Tanto no emprego formal quanto no informal esse percentual de trabalhadores ganhando até um salário mínimo aumentou . Entre os que têm carteira assinada, o total de pessoas com o piso passou de 14,06% no fim do governo Temer para 22,48% no primeiro trimestre deste ano.
Entre os informais, o salto foi de 53,46% para 61,73%. No grupo de trabalhadores sem carteira assinada, há, inclusive, um grande contingente que ganha menos que o salário mínimo.
Entre o primeiro trimestre de 2016 e o mesmo período de 2022, o Brasil registrou um saldo de criação de 4,6 milhões de postos de trabalho (considerando admissões e demissões), sendo 76% no mercado informal.
O mercado de trabalho já tinha sofrido muito desde 2016, especialmente com a pressão da taxa de desemprego, que ultrapassou no período a barreira dos 12%. Mais recentemente, em abril, houve movimento de recuperação, e a taxa ficou em 10,5%, seguindo uma tendência mundial.
No entanto, a geração de postos ocorreu majoritariamente pelo achatamento salarial: foram criadas, no período, 7 milhões de vagas com rendimento de até um salário mínimo. Em contrapartida, foram destruídos 2,4 milhões de postos de trabalho com rendimento superior a esse patamar.
A criação da maioria das vagas apenas com salário mínimo ajuda a derrubar a renda do trabalho no país, segundo dados da Pnad. Em janeiro de 2015, a renda média do trabalhador era de R$ 2.764, em valores corrigidos pela inflação. Em julho de 2020, turbinado com o Auxílio Emergencial, que aqueceu a economia, chegou ao recorde recente de R$ 2.967. Mas, desde então, teve diversas quedas e agora está em R$ 2.569.
Ganhos de até um salário mínimo indicam a precarização do trabalho depois da reforma
Para o economista do ICL André Campedelli, o fato de a quantidade de trabalhadores que recebe apenas um salário mínimo ter aumentado tanto desde 2015 mostra a verdadeira face do mercado de trabalho atualmente. “Os empregos estão cada vez menos especializados e os trabalhadores, com pouca capacidade organizacional, recebem menores remunerações com o passar dos anos. Isso é fruto da reforma trabalhista, que precarizou o trabalhador brasileiro e fez com que aumentasse em mais de 10 pontos percentuais a porcentagem dos trabalhadores que recebem apenas o salário mínimo exigido por lei”, afirma Campedelli.
A “reforma” que retirou direitos dos trabalhadores não teve sequer “impacto significativo” na evolução da taxa de desemprego no Brasil, segundo levantamento publicado pelos pesquisadores do Centro de pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades, da Universidade de São Paulo (Made-USP), a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE. De acordo com o estudo, a reforma trabalhista levou a uma precarização do trabalho.
O resultado da pesquisa desmonta o argumento do governo de Michel Temer, autor da “reforma”, que, à época, estimava que a medida criaria entre 2 e 6 milhões de empregos.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores Gustavo Pereira Serra, Ana Bottega e Marina da Silva Sanches compararam a taxa de desemprego do Brasil com a de 11 países da América Latina e Caribe que não passaram por mudanças nas leis trabalhistas no mesmo período.
Eles combinaram a taxa de desemprego e outras variáveis econômicas desses países, como crescimento do PIB, inflação, câmbio e juros, para criar o que chamaram “Brasil sintético”. Os países selecionados foram Bahamas, Bolívia, Chile, Colômbia, República Dominicana, Guiana, México, Nicarágua, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Trinidade e Tobago.
O resultado foi que, entre 2018 e 2020, as taxas de desemprego no Brasil real e no “sintético” tiveram comportamento similar. “Os resultados obtidos não nos permitem afirmar que a reforma trabalhista de 2017 teve impacto significativo para o menor (ou maior) crescimento da taxa de desemprego no Brasil”, afirmam os pesquisadores. Assim, eles também destacam que “o discurso político em torno dos resultados da reforma na época da sua proposta não se realizou”, afirmam os pesquisadores.
Já em relação à remuneração do trabalhador fica evidente o resultado da reforma.
Redação ICL Economia
Com informações do O Globo e das agências de notícias