Pela primeira vez, número de trabalhadores sindicalizados fica abaixo de 10 milhões no país, reflexo da precarização das relações de trabalho dos últimos anos

Número de trabalhadores sindicalizados somou 9,1 milhões no ano passado em 2022, segundo dados do IBGE, com base na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012
18 de setembro de 2023

O número de trabalhadores associados a sindicatos teve nova redução no Brasil em 2022, apontam dados divulgados na sexta-feira (15) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O número de trabalhadores sindicalizados somou 9,1 milhões no ano passado. É a primeira vez que o número fica abaixo de 10 milhões na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. 

Segundo a reportagem publicada no jornal Folha de S Paulo, os 9,1 milhões de trabalhadores sindicalizados representavam 9,2% do total de ocupados com algum tipo de trabalho no país (99,6 milhões). Também é a primeira vez que a taxa de sindicalização fica abaixo de 10% na série histórica.

A divulgação referente a 2022 marca a retomada desse módulo na Pnad, após a interrupção nos anos iniciais da pandemia (2020 e 2021). À época, as restrições sanitárias dificultaram a coleta dos dados.

Em 2019, o ano anterior da série, o Brasil tinha quase 10,5 milhões de ocupados sindicalizados. Ou seja, 1,3 milhão a mais do que em 2022 (9,1 milhões). A taxa de sindicalização, por sua vez, estava em 11%, 1,8 ponto percentual acima do ano passado (9,2%).

Já a população ocupada total alcançou o maior nível da série da Pnad ao chegar a 99,6 milhões em 2022. A alta foi de 4,9% frente a 2019 (95 milhões). “A expansão da ocupação não é acompanhada pela expansão da sindicalização no Brasil. Pelo contrário, a sindicalização só vem diminuindo”, disse Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, informa a reportagem da Folha de S Paulo.

De acordo com a economista do ICL Deborah Magagna, esse número de sindicalizados reflete a reforma trabalhista e o crescimento da informalidade. “Vale destacar que setores organizados conseguem maiores reajustes nas negociações salariais”, afirma a economista, apontando o quanto os trabalhadores perdem com a baixa sindicalização.

Número de trabalhadores sindicalizados está em ritmo de queda desde 2016

Os dados do instituto apontam que o número de trabalhadores sindicalizados vem em queda desde 2016. O movimento de baixa se intensificou em 2018. Segundo Beringuy, o quadro pode ser associado a uma combinação de fatores, incluindo o impacto da reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017.

O texto acabou com a cobrança da contribuição obrigatória para os sindicatos, chamada de imposto sindical. A reforma também deu aos trabalhadores a possibilidade de negociar bancos de horas, jornadas e outros itens individualmente.

A reforma trabalhista, além da questão do imposto sindical, trouxe consigo a flexibilidade de contratos dos trabalhadores, explica a coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE na reportagem da Folha de S Paulo.

Em outras palavras, a reforma trabalhista aumentou a chamada “uberização” das relações, enfraquecendo o poder de negociação do trabalhador sem um sindicato. Antes da reforma, houve uma verdadeira campanha contra os sindicatos, o que possibilitou que essa ideia de empresário de si mesmo fosse encarada como boa pela classe trabalhadora.

Nesta semana, o financiamento das entidades de classe voltou ao centro de discussões após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

A corte declarou constitucional a cobrança pelos sindicatos de uma contribuição assistencial de não sindicalizados. Segundo a decisão, a contribuição pode ser instituída por acordo ou convenção coletiva, desde que seja assegurado o direito de oposição do trabalhador.

A queda da sindicalização, conforme Beringuy, também reflete a natureza individual, menos ligada a mobilizações de classe, de uma parte dos postos de trabalho abertos nos últimos anos.

De acordo com o IBGE, a participação dos trabalhadores por conta própria aumentou de 22,4% do total de ocupados em 2012 para 25,9% em 2022. No sentido contrário, a parcela dos empregados no setor privado com carteira assinada passou de 39,2% para 36,3% no mesmo intervalo. “Estruturalmente, a gente tem mudanças dentro da dinâmica das atividades econômicas, rebatendo na forma de inserção dos trabalhadores”, disse Beringuy.

A Pnad também sinaliza que a queda da taxa de sindicalização se espalhou por diferentes setores. A redução mais intensa foi verificada em transporte, armazenagem e correio.

Nessa atividade, o percentual de sindicalização diminuiu de 11,8% em 2019 para 8,2% em 2022, uma baixa de 3,6 pontos percentuais. O indicador era de 20,7% em 2012, o ano inicial da série histórica.

De acordo com Beringuy, informa a reportagem da Folha de S Paulo, a população ocupada nesse setor teve impulso nos últimos anos de trabalhadores que passaram a atuar no transporte particular de passageiros, o que inclui os motoristas de aplicativos. Mas, que trabalham por conta própria.

Na série histórica da Pnad, o maior número de sindicalizados no Brasil foi registrado em 2013: 14,6 milhões. Havia quase 5,5 milhões a mais do que em 2022 (9,1 milhões). Em 2016, o último ano antes da reforma trabalhista, o contingente estava em 13,4 milhões. Na comparação com esse período, a redução foi de 4,3 milhões em 2022.

Redação ICL Economia
Com informações do jornal Folha de S Paulo 

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