Homenagem a Maria da Conceição Tavares: Entenda o legado que a economista deixou para o Brasil

10 de junho de 2024

Morreu no último sábado (8), aos 94 anos, a economista Maria da Conceição Tavares, uma das maiores referências no campo econômico desenvolvimentista. Como não podia ser diferente, o programa ICL Mercado e Investimentos, desta segunda-feira (10), foi inteiramente dedicado a homenagear essa grande mulher e economista, que formou várias gerações de economistas heterodoxos no país.

Nascida em Anadia, em Aveiro, Portugal, ela cresceu em Lisboa, filha de uma mãe católica e um pai anarquista que abrigava refugiados da Guerra Civil Espanhola durante a era Salazar. Veio para o Brasil nos anos 1950, para fugir da ditadura salazarista.

Naturalizou-se brasileira em 1957 e, nesse mesmo ano, matriculou-se no curso de Economia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aqui, também chegou a ser presa pela ditadura militar brasileira.

Ao longo de sua carreira, atuou para a construção de vários planos econômicos, foi deputada federal pelo PT e também trabalhou no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), além da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).

Os economistas do ICL e apresentadores do programa, Deborah Magagna e André Campedelli, destacaram as homenagens feitas a ela, incluindo as do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidenta, Dilma Rousseff, e mensagens em redes sociais que usam falas da própria Maria da Conceição, cujo pensamento crítico é bastante conhecido.

“Ela é querida e sempre presente quando abordamos o papel social da economia, inclusive no nosso chat [do programa] as frases dela, como ‘não se como PIB’ e outras conhecidas são sempre lembradas”, disse Deborah.

André lembrou ainda que Dilma Rousseff foi aluna de Maria da Conceição no mestrado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “E, acredite se quiser, sabe quem estudava com a Dilma naquela época e escrevia com a Conceição Tavares? O José Serra – acredite”, brincou. “Dizem até que, durante a campanha eleitoral de 2010 [quando Serra e Dilma concorreram à Presidência], eles até pararam de guerrear para jantar com a Conceição Tavares, tamanha a importância dela”, complementou.

O economista do ICL, que fez doutorado na Unicamp, disse que a presença de Maria da Conceição Tavares é muito forte lá. “Ela faz parte da literatura básica lá para entendermos o pensamento dela”, disse André.

No programa, foi passado um trecho de uma entrevista dela, na qual diz que teve dezenas de alunos, das quais ao menos a “metade se corrompeu, uma outra parte desistiu, cansou, e umas poucas dezenas continuaram lutando, estudando e batalhando”. “Alguns que estão aqui e não foram meus alunos, mas estou muito contente de ver uma equipe econômica que redime politicamente esse país, que dá uma contribuição política, que ajuda o governo a reencontrar o seu rumo”, disse.

Economistas fazem homenagem a Maria da Conceição Tavares com frases icônicas ditas por ela

O economista e influenciador digital Presley Vasconcellos, enviou um vídeo ao ICL Mercado e Investimentos homenageando Maria da Conceição com uma das frases mais conhecidas dela, dita durante uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1995.

“A economia que não se preocupa com a justiça social é uma economia que condena os povos. É isso o que está acontecendo no mundo inteiro: uma brutal concentração de renda e de riqueza, desemprego e miséria”, recitou. “E isso está acontecendo no norte, não é só no Brasil não (…) Uma economia que diz que, primeiro, precisa estabilizar, depois crescer, depois distribuir, é uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos e depois distribui. E essa a história da economia brasileira desde o pós-guerra. Ou não é? Se não se preocupa com a justiça social ou com quem paga a conta, você não é um economista sério, você é um tecnocrata”, complementou.

O também economista Paulo Robilloti participou do programa para fazer uma homenagem a ela. “A Conceição é uma figura emblemática para todos nós, economistas mais heterodoxos. É como se tivéssemos acordado órfãos. Meu primeiro contato com ela foi engraçado. Eu estava trabalhando na corretora de valores do Itaú e eu descobri que ela estaria na Unicamp em comemoração aos 40 anos do Instituto de Economia. Isso foi em 2008. Me questionei como chegaria até ela, porque ela sempre estava rodeada por uma horda de figuras importantes”, disse.

Chegando lá, ele viu que ela estava sozinha na sala dos professores, quando a abordou. “Eu não tinha nem 21 anos, cheguei e disse: ‘professora, sou apaixonado pela senhora, estou estudando o seu pensamento e eu queria muito que a senhora me desse o seu telefone para conversarmos quando eu formular algumas perguntas. Ela falou um não categórico e me mandou falar com o pessoal dela”, brincou.

Mesmo com a negativa, começou a conversar com ela, a fazer perguntas aleatórias da economia, da vida dela. “E todo mundo esperando a entrada dela, e ela atrasando meia hora para conversar comigo”, complementou. “No final ela falou: ‘anota aí o meu telefone’”.

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