Pesquisa da XP Investimentos é cancelada por pressão bolsonarista. Entenda o que está por trás disso

Eduardo Moreira explica como funcionam essas pesquisas
9 de junho de 2022

A XP Investimentos cancelou divulgação de pesquisa do Instituto Ipespe que seria publicada esta semana. Os estudos vinham sendo publicados semanalmente, sempre com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na dianteira e Jair Bolsonaro (PL), em segundo. Na semana passada, a pesquisa mostrava o petista com 45% das intenções de voto, enquanto o atual mandatário aparecia com 34%.

Nesta quarta (8), o levantamento da XP Investimentos – já registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-06295/2022 –  foi retirado do site por determinação da própria corretora. A informação é da colunista da Folha de S. Paulo Mônica Bergamo.

Segundo a jornalista, a pressão sobre a XP Investimentos estava crescendo e “explodiu” na semana passada. O motivo seria o resultado da questão levantada pela pesquisa de que 35% dos eleitores consideram a honestidade como característica de Lula, frente a 30% dizerem atribuir o predicado a Bolsonaro.

A XP Investimentos, então, passou a ser atacada nas redes sociais. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ironizou os resultados em seu perfil no Telegram. “O mesmo instituto deu Lula com 45% e Bolsonaro com 34% kkkkk”, escreveu o filho “zero um” do presidente.

O bolsonarismo dá sinais de que está literalmente fora de si não só diante das pesquisas. Está também inconformado com a derrota desta terça (8), no Supremo Tribunal Federal (STF), quando a Corte derrubou a liminar do ministro Nunes Marques que devolvia o mandato ao deputado estadual bolsonarista Fernando Francischini (União-PR). O parlamentar foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em outubro de 2021, por espalhar no Facebook uma informação falsa contra as urnas eletrônicas em pleno horário de votação, em 2018.

Bolsonaro teria ficado  “transtornado” com o resultado da pesquisa da XP Investimentos

A repórter Andréia Sadi, da GloboNews, afirmou no G1 ter ouvido dos próprios assessores de Bolsonaro que o presidente se mostrou “transtornado” (palavra deles, segundo Sadi) após a decisão do STF. A atitude do mandatário teria extrapolado o normal até mesmo para seus aliados, acostumados com seu destempero.

Logo após o julgamento da Segunda Turma do STF, o presidente novamente atacou a Corte. “Uma turma do STF, por 3 a 2, mantém a cassação de um deputado acusado em 2018 de espalhar ‘fake news‘. Esse deputado não espalhou ‘fake news’ porque o que ele falou na ‘live’ eu também falei para todo mundo: que estava tendo fraudes nas eleições de 2018”, disse Bolsonaro em evento transmitido ao vivo.

A mentira é a mesma que levou Francischini a ser cassado. Segundo o fantasioso de Bolsonaro, nas eleições em que ele próprio se elegeu, “quando se apertava o número 1 já aparecia o 13 na tela e concluía a votação”. O chefe de governo acrescentou que “não existe infração penal para fake news“, demonstrando, portanto, confiar na própria impunidade.

A irritação do presidente não é com o futuro de Francischini, diz a reportagem de Sadi, mas com a sinalização pelo STF de que não vai tolerar o uso da desinformação na campanha eleitoral deste ano.

Eduardo Moreira explica que esse tipo de pesquisa é peça de marketing e, quando desagrada o governo, perde o sentido

No ICL Notícias desta quinta (9), o economista e sócio-fundador do ICL, Eduardo Moreira, explicou que essas pesquisas funcionam como peças de marketing. “A ideia é todo mundo entrar para ver a pesquisa e esses bancos e corretoras capturarem clientes. No momento em que aquilo parou de funcionar para capturar clientes, deixa de ter sentido a pesquisa. Se ela arranha a relação com o governo, não tem mais sentido. Aí um papelão desse escancara como funciona essa relação”, disse Moreira durante o programa e acrescentou: “A não divulgação às vezes é importante para a gente entender o papel dessas pesquisas”.

A analista de pesquisas da Fundação Perseu Abramo fez questão de destacar que, apesar da pressão sofrida, o Ipespe não modificou os resultados da pesquisa, mostrando a idoneidade do instituto. “Agora o que o contratante vai fazer com isso é uma decisão política. Neste caso, optaram por não divulgar”, explicou Jornada.

Redação ICL Economia

Com informações da Rede Brasil Atual

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