As negociações salariais só começaram a ser mais positivas para os trabalhadores nos últimos meses de 2022, devido à combinação entre queda da inflação acumulada nos últimos 12 meses e a melhora do mercado de trabalho, o que eleva um pouco o poder de barganha do trabalhador em suas negociações salariais. No último mês registrado, que foi novembro, 45,7% das negociações salariais resultaram em reajustes acima da inflação, ou seja, com ganho real de salário, enquanto 47,8% dos aumentos concedidos foram iguais à inflação passada, o que significa que não tiveram perda de poder de compra. No período avaliado, somente 6,5% das correções resultaram em reajustes abaixo da inflação.
Os dados das negociações salariais, elaborados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), foram compilados e analisados pelos economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli, no “Economia Para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado”.
Contudo, no acumulado do ano, 40,3% das negociações salariais resultaram em reajuste abaixo da inflação, enquanto 23,8% destas negociações geraram aumentos acima da inflação e 36% ficaram no mesmo patamar que o indicador inflacionário, o que mostra o baixo nível de ganho real do salário no ano.
“Somente nos últimos dois meses registrados, setembro e novembro, ocorreu um aumento do salário real total, o que só foi possível devido à queda da inflação e leve melhora dos resultados das negociações salariais. Porém, nos demais meses do ano passado, foram registradas quedas da renda média real total do trabalhador. Isso mostra que somente ao fim do ano o trabalhador conseguiu ter alguma melhora, após meses de um ano difícil de queda de renda e baixo sucesso na sua negociação salarial”, dizem os economistas no boletim.
A renda observada no mês de outubro, segundo Deborah e André, teve um aumento real de 0,89% em média e, em novembro, de 0,56%. Esse movimento ocorreu após meses consecutivos de queda de poder de compra e, ainda assim, foi pouco expressivo e não corrige a perda salarial observada pelo menos desde 2020.
“A melhora, tanto da renda quanto do sucesso nas negociações salariais em novembro, só ocorreu quando a porcentagem de reajuste necessária para se manter o poder de compra do salário passou a reduzir consideravelmente. Enquanto tínhamos inflação acima de 8%, tanto os reajustes quanto a renda média total do trabalhador apresentaram resultados decepcionantes. Com valores mais baixos, as negociações têm maior chance de serem reajustadas acima da inflação, já que é menor a necessidade de custo para aumentos salariais por parte das empresas. E foi exatamente isso que passou a acontecer nos últimos meses do ano de 2022”, pontuam os economistas.
Negociações salariais foram piores na região Centro-Oeste e melhores no Sul do país
Nos dados acumulados de 2022 até novembro, a pior situação ficou com a região Centro-Oeste, onde apenas 12,9% das negociações salariais resultaram em reajuste acima da inflação e 65,9% delas tiveram como consequência ajustes abaixo da inflação. Em seguida, ficou a região Nordeste, com apenas 17% dos reajustes acima da inflação e 56,9% deles abaixo.
Na região Norte, 18,4% das correções salariais ficaram acima da inflação e 55,9% delas, abaixo. No Sudeste, 24,4% dos reajustes foram maiores que a inflação, enquanto 41,1%, menores.
Os melhores resultados apontados no Brasil ficaram na região Sul, com 29,7% dos reajustes acima da inflação e 22% deles, abaixo.
Por ramo de atividade econômica, o setor industrial apresentou os melhores resultados, com 31,5% das negociações salariais resultando em correções acima da inflação, enquanto 30% ficaram abaixo do indicador.
Para o comércio, 22,7% dos reajustes ficaram acima da inflação, enquanto 26,7% ocorreram abaixo dela. A pior situação continuou com o setor de serviços, no qual apenas 18,7% das negociações salariais resultaram em aumentos acima da inflação e 50,3% em reajustes abaixo.
“Os dados das negociações salariais no ano mostraram a frágil situação do trabalhador em 2022. Apenas no final do ano a situação melhorou, com reajustes acima da inflação e melhora da renda média total do trabalho. Mesmo assim, em boa parte do ano, a situação foi de pouco reajuste real do salário e queda da renda média do trabalho”, observam Deborah e André.
Segundo eles, o trabalhador brasileiro continua bastante desprotegido e precarizado, e isso precisa ser um dos pontos de maior atenção para o novo governo Lula.
Redação ICL Economia
Com informações do Economia Para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado