A pesquisa Ipec divulgada ontem à noite (12) estragou as expectativas da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. Mesmo com todo o pacote eleitoreiro sacado da cartola pouco antes das eleições, como Auxílio Brasil, bolsa caminhoneiro e taxista, desoneração dos combustíveis, o presidente não consegue sair da sua bolha e permanece engessado nos pouco mais de 30% dos eleitores fiéis à sua cartilha. Ainda, a pesquisa reflete que a tentativa de captar para si a festa dos 200 anos da independência, no 7 de Setembro, foi por água abaixo.
Os dados do Ipec mostram que o ex-presidente Lula possui 46% das intenções de voto na corrida eleitoral contra 31% de Bolsonaro. Há uma semana, a mesma pesquisa mostrava Lula com 44% (ou seja, oscilou dois pontos para cima, dentro da margem de erro), enquanto o presidente tinha os mesmos 31%. A diferença entre eles passou de 13 para 15 pontos percentuais. Na sequência, Ciro Gomes (PDT) aparece com 7% ante 8% da pesquisa anterior, enquanto a senadora Simone Tebet (MDB-MS) se manteve com 4%.
Além disso, os dados mostram que há uma chance, ainda que mínima, de o ex-presidente Lula vencer as eleições no primeiro turno. Considerando os votos válidos, excluindo brancos ou nulos, o petista flutuou de 50% para 51%, enquanto o atual mandatário manteve-se em 35%. Para que um candidato vença em primeiro turno, ele precisa superar 50% dos votos válidos. Mas, neste caso, é preciso considerar a margem de erro.
Ou seja, o eleitorado não é bobo. Desde sempre, a narrativa de Bolsonaro é endereçada aos bolsonaristas já convertidos. O discurso do 7 de Setembro, em que presidente se autodenominou “imbrochável”, foi nesse caminho.
Ademais, as pesquisas têm mostrado que, a despeito de o presidente ter dito, tanto na entrevista concedida ao Jornal Nacional quando no primeiro debate presidencial transmitido pela TV Bandeirantes, que a “economia está bombando”, a realidade das ruas tem se imposto ao discurso.
Com mais de 33 milhões de brasileiros passando fome, a maioria sabe que todas as medidas adotadas até aqui pelo governo não têm efeito de longo prazo. Pesquisa recente realizada pelo próprio Ipec a pedido do jornal O Globo mostra que a maioria dos brasileiros atribui a culpa pela fome no Brasil ao governo federal. Além disso, o mesmo levantamento mostra que o povo prefere ter emprego a benefícios.
Outro estudo elaborado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aponta que, embora a desoneração dos combustíveis tenha, realmente, conseguido negativar a inflação oficial de julho e agosto, por outro lado, esses efeitos são de curto prazo.
Além disso, a medida que alterou o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis, serviços de energia, transportes coletivos e comunicação, impactou fortemente o caixa dos estados e municípios em um momento econômico muito desfavorável, prejudicando o investimento em serviços essenciais, como educação e saúde.
Pesquisa Ipec mostra que avaliação negativa da gestão Bolsonaro é de 45% entre ruim e péssima
A pesquisa Ipec também mostra que 45% dos brasileiros acham a gestão Bolsonaro ruim ou péssima, ante 43% da semana passada. Por outro lado, 30% a consideram ótima ou boa, e 23% a veem como regular, ante 25%. Grosso modo, a pesquisa sinaliza que quem acha o governo Bolsonaro ótimo ou bom é quem vota nele.
Em relação ao ex-presidente Lula, a pesquisa indica que o crescimento do petista, ainda que dentro da margem de erro, veio em parte do eleitorado que até pouco tempo atrás não estava decidido: eram apenas 4% de indecisos na semana passada e agora são 3%.
A oscilação negativa de Ciro Gomes no mesmo período, de 8% para 7%, pode representar o início de uma migração de votos por parte de seu eleitorado para Lula. Salientando que Ciro, que foi ministro de Lula, tem sido bastante criticado por uma ala esquerdista por colocar Lula e Bolsonaro com o mesmo peso na balança de críticas.
Importante lembrar também que, daqui até as eleições de 2 de outubro, muita água pode rolar por debaixo da ponte. Afinal, movimentos estratégicos do eleitorado na reta final são comuns. Marina Silva e Geraldo Alckmin experimentaram esses processos na última eleição: seus resultados nas urnas (1% e 4,5%, respectivamente) foram muito inferiores ao que as pesquisas indicavam dias antes. Por estratégia, boa parte de seus eleitores na ocasião migraram para candidatos em posições melhores e isso pode acontecer agora também.
O Ipec ouviu 2.512 brasileiros de 9 a 11 de setembro, em 158 municípios do país, com margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. A sondagem foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-01390/2022.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias