60,4% dos reajustes salariais ocorridos em setembro não resultaram em ganho real de salário

A desorganização trabalhista, resultado direto da reforma realizada em 2017, continua dificultando os reajustes salariais, reduzindo a renda geral do trabalhador brasileiro e precarizando cada vez mais essa classe social
24 de novembro de 2022

A maior parte dos reajustes salariais em setembro não teve ganho real de salário. A alta da inflação segue sendo um desafio para sindicatos, trabalhadores e campanhas salariais. Apenas 40% das 450 negociações salariais analisadas, referentes à data-base de setembro, fixaram reajustes salariais acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outras 38% registraram resultados iguais ao índice inflacionário e 22,4%, abaixo dele. As informações foram divulgadas na quarta-feira (23) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Com 77,6% dos reajustes salariais iguais ou superiores ao INPC-IBGE, os resultados são os melhores das últimas 15 datas-bases. Refletem o impacto da queda dos preços (deflação) ocorrida nos últimos três meses e o efeito das negociações salariais de categorias com maior poder de  negociação. Os dados de setembro se assemelham aos de junho de 2022, quando 75,9% dos reajustes foram iguais ou superiores ao INPC. 

Segundo os economistas do ICL, Deborah Magagna e André Campedelli, mesmo com quase 40% das negociações com reajustes salariais acima da inflação em setembro, o Brasil está longe dos melhores momentos históricos, quando 90% dos reajustes resultaram em ganhos reais para o trabalhador brasileiro. “A desorganização trabalhista, resultado direto da reforma realizada em 2017, continua dificultando as negociações salariais, reduzindo a renda geral do trabalhador brasileiro e precarizando cada vez mais essa classe social”, dizem os economistas.

Segundo o balanço do Dieese, em setembro, houve o melhor resultado obtido no ano, com 39,3% das negociações salariais resultando em reajuste real nos rendimentos dos trabalhadores. Mesmo assim, esse número ainda se encontra abaixo do ideal, já que 60,4% das negociações se mantiveram sem nenhum ganho real, inclusive com 22,4% dos reajustes resultando em perdas salariais, uma vez que ocorreram abaixo do nível inflacionário. Importante lembrar que nos melhores momentos da série do Dieese, os reajustes acima da inflação se encontravam acima de 90%.

No ano, os resultados são decepcionantes, pois do total de reajustes salariais feitos nos três primeiros trimestres, 41,9% resultaram em reajuste abaixo da inflação, ou seja, com perda real do poder de compra, enquanto somente 21,6% das negociações resultaram em reajuste acima da inflação e 36,5% tiveram reajustes que somente recompuseram as perdas inflacionárias do período de 12 meses. Isso mostra que, mesmo com a melhora, a situação geral do trabalhador brasileiro continuou precarizada.

Pela primeira vez, em muito tempo, o reajuste médio do trabalhador apresentou valores positivos, com um aumento real de 0,13%. O resultado ocorreu após um longo período de reajustes salariais médios negativos e após três meses em que a inflação apresentou deflação mensal. Mesmo assim, o aumento médio foi meramente marginal, um ganho muito pequeno em média para os trabalhadores que tiveram seus reajustes no mês de setembro, restrito apenas às negociações salariais ocorridas neste mês. Desde 2021 não havia ganho médio real de salário, o que mostra a perda do poder de compra geral que os trabalhadores tiveram neste período.

A queda inflacionária dos últimos meses, que resultou também em uma queda do acumulado em 12 meses, fez com que os reajustes salariais necessários para recompor o salário das perdas inflacionárias apresentassem nova queda. Neste mês, para que a recomposição salarial mantivesse o poder de compra da renda foi necessário um reajuste de 7,19% ante 8,83% no mês anterior. Mesmo com o aumento inflacionário ocorrido em outubro, o valor deve voltar a reduzir no próximo mês, uma vez que no acumulado em 12 meses, a inflação voltou a recuar.

Região Sul foi a que apresentou melhores números, com 27,8% dos reajustes salariais acima da inflação 

reajustes salariais

A região Centro-Oeste continuou apresentando os piores resultados, com apenas 11,5% dos reajustes salariais deste ano resultando em ganho real, enquanto 67,1% dos reajustes ocorridos resultaram em perda de poder de compra do salário. As regiões Norte e Nordeste também apresentaram números baixos, com a primeira tendo 16,3% dos reajustes acima da inflação e 58% dos reajustes abaixo da inflação, enquanto para a segunda temos 15,6% dos reajustes ocorrendo acima da inflação e 58,1% dos reajustes abaixo da inflação. A região Sul ainda foi a que apresentou melhores números, com 27,8% dos reajustes acima da inflação e 23,4% dos reajustes ocorrendo abaixo da inflação. Para o Sudeste, 21,8% dos reajustes acima da inflação e 43% dos reajustes abaixo da inflação .

Por ramo de atividade, a indústria continuou apresentando os melhores dados, com 27,6% das negociações resultando em reajustes acima da inflação, enquanto 32,2% dos reajustes salariais deste setor ocorreram abaixo da inflação. O comércio apresentou até agora neste ano um total de 20,7% dos reajustes acima da inflação e 29,2% dos reajustes abaixo da inflação, enquanto os serviços apresentaram 18,2% dos reajustes acima da inflação, enquanto os reajustes abaixo da inflação foram de 50,2%. O setor mais dinâmico da economia hoje é também aquele que apresenta a situação de maior precariedade das negociações salariais neste momento.

Redação ICL Economia
Com informações Redação ICL Economia
Com informações do Economia Para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado e do Boletim de Olho nas Negociações do Dieese (out2022)

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