O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi eleito sob as bandeiras da honestidade e da moralidade, termos os quais, aliás, ganharam outras tintas sob o seu governo. À medida que a caixa preta de seu mandato é aberta, os fatos jogam por terra todo o discurso que permeou o imaginário de uma nação crente, na inocência ou não, de que tinha um presidente honesto. Bolsonaro jurou, por exemplo, que não fazia uso do cartão corporativo, o que tem se mostrado mais uma de suas inverdades.
Várias reportagens realizadas recentemente mostraram que o ex-mandatário realizou uma verdadeira farra com o dinheiro público, comprando picanha, leito condensado, Rivotril e promovendo até as famosas motociatas com o cartão corporativo, durante as eleições presidenciais de 2022.
Nesta quarta-feira (5), o site UOL publicou reportagem, com base em várias notas fiscais obtidas, que revela que o ex-presidente pagou ao menos 21.447 lanches com cartão corporativo em viagens de campanha para reeleger-se. Os lanches eram destinados à equipe de segurança e assessores que o acompanhavam (cerca de 20 pessoas), mas também a militares e policiais escalados para dar apoio às atividades eleitoreiras dele, incluindo festas de peão e cultos religiosos.
Além dos lanches, os comprovantes incluem outras 5.075 compras de refeições, num valor total de R$ 754 mil, dinheiro de todos os contribuintes brasileiros visando às eleições.
Os dados obtidos pela reportagem estavam sob sigilo e foram obtidos pela agência independente Fiquem Sabendo por meio da (LAI) Lei de Acesso à Informação.
Farra eleitoreira com o cartão corporativo é questionada por especialistas em direito eleitoral
Especialistas em direito eleitoral consultados pela reportagem do UOL são categóricos ao afirmar que não cabe ao presidente da República e muito menos ao candidato fornecer alimentação a forças de segurança locais escaladas para trabalhar nesses eventos. Muito menos usar o cartão corporativo da Presidência para isso.
Segundo eles alegam, a alimentação de agentes locais é de responsabilidade das corporações, como batalhões da PM (Polícia Militar) e do Exército; e não é permitido o uso de recursos públicos em viagens eleitorais nem mesmo mediante ressarcimento à União, com exceção do uso de transporte.
Os próprios agentes de segurança pública consultados pela reportagem estranham a prática. “Quando você pede o apoio [de segurança], ele já vem com tudo pronto. As autoridades têm direito a escolta, mas o próprio estado que provê a alimentação”, afirmaram à equipe do UOL.
As notas fiscais e comprovantes de pagamentos obtidos pela reportagem do UOL mostram que as compras foram feitas entre agosto e outubro de 2022. A reportagem teve acesso a relatórios do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e do Departamento de Coordenação de Eventos e Viagens do então presidente-candidato, nos quais são solicitados lanches para alimentar servidores locais que trabalhassem no “apoio à missão” de Bolsonaro.
Na lista de servidores que receberiam o kit – em sua maioria contendo dois sanduíches de presunto e queijo, uma fruta, uma barra de cereal e um refrigerante e/ou água -, estão militares do Exército, policiais militares, federais e rodoviários, guardas municipais, bombeiros, agentes de trânsito e do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Os documentos ainda mostram que os kits foram comprados em ao menos 35 viagens durante o período eleitoral. A depender do tamanho da cidade — e da duração da visita, que por vezes não passava de algumas poucas horas—, as compras variavam de centenas a mais de 1.500 kits.
Procurados pela reportagem, Bolsonaro e o PL não se manifestaram sobre as despesas, mas integrantes da campanha dele afirmaram que os gastos são legais, pois se referem à segurança presidencial em viagens.
Redação ICL Economia
Com informações do site UOL