A Petrobras anunciou ontem (16) o fim do PPI (Paridade de Preço de Importação), que acaba provocando muita volatilidade nos preços dos combustíveis no Brasil, uma vez que a antiga política estava atrelada ao dólar e ao preço do barril do petróleo no mercado internacional. Para o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, a mudança na política é bastante positiva, pois tira do foco os importadores de combustíveis para priorizar quem deve ser prioridade, neste caso, o consumidor brasileiro.
“O PPI era uma maluquice! O Brasil não tem a quantidade de gasolina suficiente para abastecer o mercado, pois o Brasil não refina tudo [o petróleo] e temos que importar. Então, em vez de aumentar a capacidade de refino, optou-se por estimular os importadores [de derivados de petróleo]”, disse o economista na edição desta quarta-feira (17) do ICL Notícias, programa diário veiculado no YouTube.
Atualmente, a Petrobras tem 70% do mercado de combustíveis do Brasil. Por essa razão, Moreira acredita que, ao se extinguir a PPI, eliminam-se as distorções na formação de preços. “Com a PPI, a Petrobras tem que vender a gasolina na bomba igual seria o preço de importação dos Estados Unidos, com todos os custos [logísticos] até [o combustível] chegar aqui”, explicou.
Se fosse uma política diferente, segundo Moreira, a Petrobras, com a fatia que tem do mercado, poderia amortecer os preços no mercado interno quando houvesse, por exemplo, choque de petróleo ou alta do dólar, ainda que os 30% importados subissem seus preços. “Na média, a matriz energética brasileira teria preços mais baixos”, frisou.
Moreira lembrou que o fim da PPI não corresponde ao encerramento das atividades dos importadores, os quais “vão continuar existindo porque não temos 100% de capacidade de refino”. “O que deixa de existir é uma situação favorável às importadoras. Agora, a Petrobras vai ter que praticar preços competitivos, o que é bom para a estatal, que pode ganhar mais fatia de mercado, com tendência de se tornar cada vez mais competitiva”, disse. “Agora, temos um grau de liberdade para segurar [os choques de petróleo] isso”, complementou.
Ontem, após o anúncio da mudança na política de preços, as ações da petroleira chegaram a subir mais de 5%, mas arrefeceram e encerraram a sessão com ganhos de 2,24% (ordinárias, com direito a voto) e 2,73% (preferenciais, sem direito a voto).
O presidente da estatal, Jean Paul Prates, disse que a nova política de preços vai “seguir as referências de mercado, sem abdicar das vantagens competitivas de ser uma empresa com grande capacidade de produção e estrutura de escoamento e transporte em todo o país”.
Queda nos preços de combustíveis pela Petrobras não tem nada a ver com a mudança na política, diz Eduardo Moreira
Ainda ontem, a Petrobras também anunciou a redução, a partir desta quarta-feira, de 21,3% nos preços da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha (GLP). A partir de hoje, haverá corte em R$ 0,44 no preço médio do litro do diesel A para as distribuidoras – de R$ 3,46 para R$ 3,02 o litro. Para a gasolina A, também haverá redução em R$ 0,40 por litro do preço médio de venda para as distribuidoras, redução de 12,6%. O preço do botijão de 13 quilos – demandado principalmente pela população de baixa renda – também cai, em R$ 8,97.
No entanto, várias notícias veiculadas pela imprensa davam conta de que os postos de combustíveis elevaram seus preços ontem e a queda ainda não era sentida nesta quarta-feira pelos consumidores.
Eduardo Moreira elogiou a postura da direção da Petrobras e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de terem sido corajosos para acabar com uma política de preços distorcida e, no caso de Lula, de estar cumprindo uma promessa de campanha.
No entanto, ele lembra que não há mérito algum do governo na queda do preço dos combustíveis, provocada, ironicamente, pela PPI. “A queda nos preços dos combustíveis não tem nada de vontade do Lula, não é mérito desse governo”, frisou.
Isso porque, conforme ele explicou, o preço do petróleo caiu de US$ 120 o barril no mercado internacional para os atuais US$ 70. Além disso, o dólar caiu também, de R$ 5,30, R$ 5,40 para em torno de R$ 4,90. “O preço do barril [de petróleo] em reais caiu absurdamente!”, disse.
Assim, o preço da gasolina volta aos patamares anteriores ao aumento do barril do petróleo, provocado muito em função da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Lembrando que, naquela ocasião, o ex-presidente Jair Bolsonaro interferiu na Petrobras, trocando os presidentes da estatal várias vezes para forçar a queda nos preços dos combustíveis, e implementou um pacote para desonerar os combustíveis, o que afetou o caixa de estados, municípios e da própria União. Tudo isso visando a ganhos eleitorais.
“O que a gente tem agora é uma estabilidade [nos preços]. A gasolina tinha subido de preço em relação ao petróleo e foi ficando mais cara. Agora, volta aos níveis que estava antes”, disse Moreira.
Com a queda nos preços dos combustíveis, espera-se que a inflação também caia, o que elevaria o nível de pressão sobre o Banco Central para reduzir a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75%. Como os juros são elevados para controlar as pressões inflacionárias, não faria sentido manter a taxa no patamar atual numa possível queda da inflação.
Resta saber, no entanto, se o presidente do BC, Roberto Campos Neto, alvo de crítica do presidente Lula e da equipe econômica pela teimosia em manter a Selic alta, sacará da cartola mais um dos argumentos sem pé na realidade para manter os juros nesse nível.
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias