Mesmo com ex-CEO da Americanas afirmando que os principais acionistas participavam ativamente da gestão da empresa, CPI não convoca novos depoimentos

Para o economista Eduardo Moreira, "bilionário no Brasil pode deitar e dormir tranquilo. Porque bilionário no Brasil tem um monte de deputado no bolso"
11 de setembro de 2023

Reportagem do UOL, desta segunda-feira (11/9), revela que bem antes da carta enviada por Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, à CPI (tornada pública na semana passada), em que afirma que nenhuma decisão estratégica da empresa era tomada sem o conhecimento e anuência de seus acionistas de referência – Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles -; a afirmação já estava registrada em depoimento em vídeo à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), gravado em 16 de março e foi repetida em depoimento à Polícia Federal, em 21 de junho.

Na carta escrita aos parlamentares, Miguel Gutierrez afirma que a gestão atual tenta blindar Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Sicupira dos malfeitos da administração contábil da companhia.

Segundo o comitê independente convocado pela Americanas para apurar o caso, há pelo menos 25 indícios de materialidade que ligariam a antiga diretoria à fraude.

Na última semana, um pedido de vistas coletivo adiou a votação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga indícios de fraude nas Lojas Americanas.

Estranhamento: CPI da Americanas não convoca novos depoimentos

O que causa grande estranhamento é que, diante uma revelação como essa de que os três acionistas participavam ativamente da gestão das empresas e que tinham influência e controle sobre a contabilidade da companhia, a CPI não convoque depoimentos dos três.

Eduardo Moreira, economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), nesta manhã (segunda, 11), enfatizou que essa cronologia [apresentada pelo UOL] deixa escancarada a proteção dos três acionistas [Sucupira, Lemann e Telles], principalmente Sucupira, apontado como o mais envolvido. “O ex-CEO durante todo o período da fraude da empresa diz com todas as letras que os acionistas estavam conscientes de tudo o que acontecia. Assim, existia uma tentativa de blindar os três, e o mínimo que se esperaria seria chamá-los e ver o que eles têm a dizer, mas não o chamaram”, destaca Moreira.

O economista ainda questiona: “e por que não chamaram? Não havia nenhum indício de que eles poderiam estar envolvidos? Não chamaram porque bilionário no Brasil pode deitar e dormir tranquilo. Porque bilionário no Brasil tem um monte de deputado no bolso. Bilionário no Brasil financia campanha de deputados e deputadas. E, diga-se, de direito, de centro e de esquerda”.

Para Moreira, os três não serão chamados e seguirão “jogando tênis, fazendo caça-submarina, estourando champagnes, passeando de iates”.

Gutierrez, que ficou no cargo oficialmente até dezembro de 2022, afirma que, durante toda a sua gestão, sua ligação com Beto Sicupira foi “contínua” e “muito intensa” e se estendeu mesmo depois que o sócio deixou a presidência do conselho de administração da companhia, em 2020.

“O Beto, ou você não se dá com Beto ou se dá com Beto. É uma pessoa de personalidade muito, muito forte. Se eu estava há 20 anos me relacionando com Beto no cotidiano, não dá para agora eu vou falar com [Eduardo] Saggioro [que substituiu Sicupira na presidência do conselho de administração]”, contou Gutierrez à CVM, em março.

Desde janeiro, a Americanas está em recuperação judicial com mais de R$ 40 bilhões em dívidas declaradas, além de outros quase R$ 7 bilhões em debêntures. Em 11 de janeiro, foi revelado pelo substituto de Gutierrez, Sergio Rial, que ficou somente nove dias no cargo, que havia “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões – isto é, o valor não estava registrado no balanço como dívida.

Prazo de funcionamento da CPI termina quinta-feira

O prazo de funcionamento da CPI termina na próxima quinta-feira (14 de setembro). Insatisfeitos com o teor do relatório apresentado pelo deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), na semana passada, alguns parlamentares adiantaram que pretendem apresentar relatórios em paralelo.

Os deputados também protestaram diante da relutância do presidente da CPI, deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos- SE), em prorrogar o funcionamento da comissão por mais 60 dias, conforme permite o regimento da Casa.

Em seu relatório, Chiodini não trouxe conclusões claras em relação aos culpados pela fraude no balanço da empresa. Embora reconheça a existência da fraude, o texto diz que não foi possível “imputar a respectiva responsabilidade criminal, civil ou administrativa a instituições ou pessoas determinadas”. A jornalistas, o parlamentar afirmou que a prerrogativa do habeas corpus, que dá aos acusados o direito de não responder a perguntas, prejudicou as oitivas.

Redação ICL Economia
Com informações do UOL

 

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