Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já haviam manifestado suas preocupações com os impactos da fragilidade da economia global sobre o cenário interno. Entre os elementos elencados estavam os juros dos Estados Unidos e os preços do petróleo. Agora, o conflito entre o grupo Hamas e Israel joga nova sombra sobre o ambiente externo, que já vem colecionando incertezas.
No caso do petróleo especificamente, há preocupação de que a escalada do conflito no Oriente Médio provoque uma crise de abastecimento global. Isso porque três grandes fornecedores de petróleo são Arábia Saudita, Rússia e Irã. Se este último sofrer aumento de sanções pelo apoio que dá ao Hamas, a oferta do produto diminuirá.
Em entrevista ao blog da jornalista Miriam Leitão, em O Globo, o ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero, disse que o problema do petróleo dependerá da duração do conflito. “Se durar muito tempo, haverá consequências. Se a resposta de Israel for muito dura e longa, a perspectiva do petróleo ficará complicada”, disse.
Na avaliação de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, a pergunta que fica no ar é o quanto a extensão da guerra pode afetar a trajetória de juros determinada pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
“O que eles decidem nos afetam. O Brasil está entrando no momento dessa crise um pouco fragilizado. Os ajustes na área fiscal estão difíceis, a agenda de desenvolvimento não está clara”, disse também ao O Globo.
No entanto, Fraga não acredita em alta de juros americanos nesse momento de grande incerteza. “Normalmente nessas horas, os bancos centrais não jogam gasolina no fogo. Então a minha expectativa é que eles vão dar uma segurada”, disse.
O ex-ministro Ricupero teme os impactos do conflito na próxima reunião da COP, conferência de cúpula das Nações Unidas sobre o clima. “A próxima reunião da COP, neste fim de ano, será naquela região, e tudo isso vai reduzir o nível de atenção no encontro. No ano passado, a guerra da Ucrânia desviou atenção do problema climático e, além disso, estimulou o uso de combustíveis fósseis”, pontuou.
Tanto ele quanto Armínio Fraga avaliam que o conflito não resolverá os problemas históricas daquela região, além de tirar questões importantes, como o combate às mudanças climáticas, dos holofotes da agenda internacional, o que é ruim para a maioria dos paíseis.
Enquanto a economia global segue fragilizada, governo Lula avalia dificuldades para retomada do crescimento aqui
Recentemente, Haddad fez uma reunião a portas fechadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para fazer um diagnóstico sobre o que deve dificultar a retomada econômica do país até o fim do primeiro semestre. Segundo informações de reportagem do UOL, o ministro da Fazenda elencou três fatores.
Os fatores elencados por Haddad são alta dos juros americanos, que retira recursos de investidores de economias emergentes, como o Brasil; petróleo em alta; e a guerra na Ucrânia, cujo fim é bastante nebuloso.
Após uma alta de quase 4% ontem (9) devido à escalada do conflito no Oriente Médio, os preços do petróleo operavam com leve baixa hoje (10), enquanto os mercados avaliam o potencial de interrupções no fornecimento à medida que o conflito entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas continua.
Ontem (9), o ministro da Fazenda reconheceu a existência de um cenário externo desafiador, mas destacou que o avanço da agenda econômica interna deve proteger a economia brasileira de possíveis desdobramentos.
“Com o cenário externo se complicando como está, o nosso desafio aqui é fazer a nossa agenda interna evoluir o mais rápido possível para proteger a economia brasileira”, disse o ministro. “Quanto mais desafiador o cenário externo, maior pressa de nós endereçarmos os assuntos internos”, complementou.
Na reunião com Lula, Haddad apontou que o quadro fiscal brasileiro e a inflação doméstica estariam endereçados com medidas enviadas ao Congresso este ano, como o fim do voto de qualidade no Carf, a tributação de fundos exclusivos e, no futuro, o fim dos JCP (juros sobre capital próprio), mecanismo financeiro que permite que as empresas distribuam lucros aos acionistas de forma mais vantajosa em termos fiscais do que o pagamento de dividendos.
Também ontem, em reunião do Conselho Empresarial de Economia da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o envolvimento do Irã (apoiador do Hamas) “pode afetar o preço do petróleo.”
Segundo ele, o dólar e o preço do petróleo foram dois riscos já mencionados pelo Copom (Comitê de Política Monetária) em seus comunicados
Redação ICL Economia
Com informações do UOL e de O Globo