Ao menos por enquanto, o Brasil não corre risco de desabastecimento dos combustíveis devido à alta do petróleo no mercado internacional, como consequência da guerra entre Hamas e Israel. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afastou ontem (18) qualquer possibilidade de falta de produtos no mercado interno.
“A Petrobras tem tido toda a responsabilidade na questão do suprimento de combustível no Brasil. Inclusive, essa responsabilidade é do Ministério de Minas e Energia, de manter qualidade de produto e garantia de suprimento”, assegurou.
Por outro lado, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, alertou ontem que uma escalada no conflito no Oriente Médio, envolvendo países produtores, como o Irã, pode pressionar ainda mais o preço da commodity e se transformar na “tempestade perfeita” no mercado.
“[O preço do petróleo] Já está afetado. Piorar mais (a guerra) seria a tempestade perfeita”, completou Prates.
Mas, ao menos por ora, ele acredita que essa possibilidade não existe por não haver indícios de participação de outros países na guerra. “Do ponto de vista do mercado de petróleo e gás, por enquanto, não há indício de que haverá alastramento disso para países como Irã, Egito e outros países produtores”, disse o presidente da Petrobras.
Os preços do petróleo iniciaram o dia de hoje (19) com quedas, após a sessão movimentada de ontem, dia em que a commodity encerrou em alta, com quedas dos estoques dos EUA e ameaças de embargos às importações israelenses.
O movimento de baixa do petróleo hoje ocorre após o Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês) do Tesouro dos Estados Unidos ter emitido licença de seis meses, autorizando de forma temporária as transações com o setor de petróleo e gás da Venezuela.
A suspensão das sanções se dá após o regime de Nicolás Maduro concordar em retomar as negociações com a oposição para eleições livres no ano que vem.
Ainda de acordo com o presidente da Petrobras, a cotação atual do petróleo é alta, “mas isso não tem a ver, necessariamente, com o conflito em si”. “Já havia uma inflação estrutural acontecendo”, afirmou.
Ontem, barril de petróleo do tipo Brent – usado como referência no mercado –, chegou a ser negociado a US$ 91,28. Isso representa uma alta de 1,5% em relação ao dia anterior e de 6,4% na comparação com a última quarta-feira (11). Mas, nesta manhã de quinta-feira (19), o barril estava sendo negociado com baixa de 1,77%, a US$ 89,88.
Silveira e Prates se reuniram ontem com o secretário-geral da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Haitham al-Ghais. O vice-presidente e ministro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Geraldo Alckmin, também participou do encontro.
Mesmo com alta do petróleo, Petrobras opera com defasagens no preço do diesel há semanas
A Petrobras está operando com elevadas defasagens no preço do diesel há semanas e começa a ser cobrada internamente por reajustes. Contudo, ainda não há sinais de que fará repasse nesse momento. No caso da gasolina, os preços estão alinhados ao mercado externo.
A companhia mudou sua política de preços em maio para justamente se precaver contra as variações dos preços internacionais do petróleo, como ocorre nesse momento. Antes, a empresa considerava os valores de cotação do barril de petróleo no mercado internacional.
Questionado sobre se reajustes nos preços dos combustíveis estão no horizonte da companhia, Prates disse que, “se tiver de ser feito o reajuste, ele será feito” e que a empresa está “avaliando o momento”.
“É um processo de discussão interna, severo, baseado em nosso modelo de logística e abastecimento. E ele vai indicando os momentos em que podemos fazer isso”, afirmou.
Embora a Petrobras produza grande parte da gasolina e do diesel consumidos no Brasil, o país ainda depende de importações, que tem seus preços definidos de acordo com a cotação internacional do barril de petróleo.
Quando há grandes descompassos entre o valor no mercado internacional e o preço interno, a atividade de importação deixa de ser economicamente atrativa para algumas empresas e isso pressiona o abastecimento.
Mas, como salientou o ministro Alexandre Silveira ontem, “a Petrobras está trabalhando sempre observando a volatilidade [internacional], mas muito focada em seus custos internos. Foi isso que nós fizemos um compromisso com o povo. A Petrobras não precisa ser subserviente ao preço internacional”.
Ele ainda afirmou que a companhia deve observar o preço no mercado internacional porque o país não é autossuficiente na produção de combustíveis derivados de petróleo, “mas não temos que considerá-lo, porque a Petrobras é muito mais competitiva do que muitas petroleiras internacionais”.
Sobre a guerra, ele afirmou que o conflito não afeta diretamente o setor de energia, pois Israel e Palestina não são estados produtores de petróleo.
No entanto, ressaltou que o conflito “não deixa de criar um clima de depressão econômica em consequência da insegurança que cria, em especial naquela região, mas também se estendendo por toda Europa”.
Ministro diz que Brasil não considera entrar na Opep+
Questionado se o Brasil pretende entrar na Opep+ – grupo formado por países da Opep mais a Rússia -, Alexandre Silveira descartou essa possibilidade, ao menos por enquanto.
“O Brasil não analisa essa possibilidade a princípio. É claro que um país com a possibilidade produtora do Brasil interessa à Opep+, mas a nossa visão é de que a economia brasileira precisa ser estimulada e um dos grandes estímulos é criar competitividade interna nos preços dos combustíveis”, afirmou.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo