Os preços dos alimentos nos supermercados não param de subir. Para se ter uma ideia, a cesta básica mais barata do país já custa R$ 524,99, em Aracaju (SE), conforme dados pesquisados em março pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Já São Paulo e Rio de Janeiro têm os custos mais alta da cesta: R$ 761,19 e R$ 750,71, respectivamente.
A alta dos alimentos tem refletido a escalada da inflação que já acumula 12,03% em 12 meses, segundo a prévia medida pelo IPCA-15 em abril.
A possibilidade de o Brasil registrar uma inflação acima de 10% em 2022, pelo segundo ano seguido (em 2021, o IPCA foi a 10,06%), entrou no radar dos economistas. A previsão vem crescendo em meio a impactos da guerra na Ucrânia, dúvidas sobre o efeito da política de “covid zero” da China nas cadeias produtivas, aumento dos juros nos Estados Unidos e principalmente disseminação das altas de preços no Brasil por total falta de uma política econômica por parte do governo federal.
Se isso acontecer, será a primeira vez, desde o início do Plano Real, que o País terá inflação de dois dígitos por dois anos seguidos. Com esse cenário, a taxa de juros básica, elevada pelo Banco Central (BC) anteontem para 12,75% ao ano, teria provavelmente de subir acima dos patamares hoje projetados e se manter alta por mais tempo. Isso porque essa tem sido a única medida proposta pelo governo Bolsonaro para conter a inflação.
O problema é que ela afeta o crédito, o consumo, os empregos e a qualidade de vida da população. Economistas dizem que é o cenário perfeito para uma hiperinflação em que as altas de preços passadas se refletiam nos preços futuros e mantinham a inflação em alta.
Para demonstrar como a alta da inflação afeta diretamente o poder de compra dos brasileiros, o G1 fez uma comparação entre a quantidade máxima de itens que era possível colocar no carrinho do supermercado com R$ 200 em março de 2020, 2021 e 2022, considerando os valores médios de produtos básicos.
Foram escolhidos, a partir dos itens da cesta básica, 13 produtos entre alimentos (arroz, feijão, café, ovo, carne, frango, leite, batata, pão francês, açúcar, óleo, farinha e margarina); 2 itens de higiene (papel higiênico e creme dental); e 2 para limpeza (sabão em pó e limpador multiuso).
O resultado é que, em março de 2020, para encher o carrinho com esses itens, o consumidor precisava de R$ 126,28. Já em março deste ano, eram precisos R$ 189,52 – uma alta de 50%.
Ou seja, o consumidor que vai ao mercado com R$ 200 sai hoje com o carrinho bem mais vazio do que há dois anos. Os preços utilizados foram de pesquisa conjunta do Procon-SP e o Dieese.
Auxílio Brasil é insuficiente para comprar cesta básica
Na quarta-feira (4), o Congresso definiu que o Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) tenha valor de R$ 400 indefinidamente, e não só em 2022, como estava previsto. No entanto, o valor é é insuficiente para a compra de uma cesta básica no Brasil.
Na prática, quem recebe o Auxílio Brasil de R$ 400 na capital de Sergipe (cesta básica mais barata do país, segundo o Dieese) ainda precisa de R$ 124,99 extras para comprar todos os itens que compõem a cesta. No caso de São Paulo, que possui o maior custo do país, a diferença entre os valores do Auxílio Brasil e da cesta básica é de R$ 361,19.
Cesta básica (março) x Auxílio Brasil
- Aracaju: R$ 524,99 (cesta); R$ 400 (auxílio); R$ 124,99 (diferença)
- Salvador: R$ 560,39 (cesta); R$ 400 (auxílio); R$ 160,39 (diferença)
- Recife: R$ 561,57 (cesta); R$ 400 (auxílio); R$ 161,57 (diferença)
- João Pessoa: R$ 567,84 (cesta); R$ 400 (auxílio); R$ 167,84 (diferença)
- Porto Alegre: R$ 734,28 (cesta); R$ 400 (auxílio); R$ 334,28 (diferença)
- Florianópolis: R$ 745,47 (cesta); R$ 400 (auxílio); R$ 345,47 (diferença)
Redação ICL Economia
Com informações do Estadão Conteúdo, G1 e UOL