A balança comercial fechou o ano de 2023 com um superávit recorde de US$ 98,8 bilhões. O valor exportado foi de US$ 339,7 bilhões, um aumento de 1,7% e as importações registraram o valor de US$ 240,8 bilhões, um recuo de 11,7%, na comparação entre 2022 e 2023.
O segundo maior superávit da balança foi o de 2022, no valor de US$ 61,8 bilhões. Em comparação com 2021, as exportações cresceram 19,1% e as importações, 24,3%. O comportamento dos índices de preços e volume também marcaram trajetórias distintas entre 2022 e 2023.
Em 2022, as variações em valor dos fluxos de comércio foram lideradas pelos preços, 13,7% para exportações e 21,0% para as importações, e o volume cresceu a taxas inferiores à dos preços. Em 2023, os preços caem para os dois fluxos de comércio e para o volume importado (-2,2%). O único resultado positivo foi para o volume exportado, 8,7%.
As exportações de commodities explicam mais de 50% das exportações brasileiras desde 2009, quando o percentual foi de 53%. Em 2022, a participação foi de 68% e, em 2023, 69%. A variação no volume exportado das commodities foi de 14,2% e das não commodities em -1,9% entre 2022 e 2023. Os preços caem para os dois grupos.
Observa-se que o volume exportado das commodities mostra uma tendência ascendente e a variação anual de 14,2% foi a maior da série, desde 2008. Antes, a maior variação havia sido de 13,5%, entre 2014 e 2015.
Os preços registram um comportamento cíclico, como seria esperado. A maior variação ocorreu em 2010, 31,3% acompanhada de uma variação no volume de 7,5%. Em 2023, a liderança no volume (14,2%) foi acompanhada pela queda de preços em 9,3%.
O comportamento de queda de 9,6% nos preços importados e no volume importado (2,2%) entre 2022 e 2023 se repetiu para as commodities e não commodities. Ressalta-se, porém, que o recuo no preço das commodities em 17,3% superou o das não commodities, 8,6%. Em termos de volume, a diferença na queda foi menor: commodities (-3,5%) e não commodities (-2,0%). A queda nos preços importados reverteu a pressão inflacionária observada em 2022.
Como o recuo nos preços importados (-9,6%) superaram o das exportações (-6,4%), os termos de troca aumentaram 3,6% entre 2022 e 2023, revertendo a queda de 2022. Na série histórica desde 2008, o maior índice dos termos de troca foi o de 2011, 121,5, quando os preços exportados subiram 23,2% e os importados em 14,5% entre 2010 e 2011. Em relação ao índice de 2011, os termos de troca de 2023 caíram 7,2%.
O aumento em volume das exportações sinaliza crescimento da penetração dos produtos brasileiros, seja dos mesmos produtos e/ou novos produtos. Em termos agregados, o aumento do volume exportado por setores mostra a liderança da agropecuária e da indústria extrativa. O primeiro registrou crescimento de 25,0% e o segundo de 16,5%, com queda de preços em ambos os casos. O volume exportado pela indústria de transformação caiu 0,4%. Para todos os setores, os preços recuaram. No caso das importações, todas as variações em termos de valor, preço e volume foram negativas.
O principal produto exportado foi a soja em grão (participação de 16%), seguido do petróleo (13%) e do minério de ferro (9%), que são os principais produtos exportados pelo Brasil desde o início dos anos 2010. A seca na Argentina, porém, favoreceu o aumento das vendas brasileiras de soja em grão, que aumentaram em quantidade, 29,4%. Além disso, também favoreceu as vendas de farelo de soja na pauta brasileira, passando a ser o segundo principal produto exportado da indústria de transformação, em 2023. A Guerra na Ucrânia e problemas na safra dos Estados Unidos levaram ao aumento das exportações de milho (11,8%), que foi o segundo principal produto das vendas do setor agropecuário, em 2023.
Os investimentos em infraestrutura, no segundo semestre, na China favoreceram as exportações de minério de ferro e o aumento da exploração do petróleo no Brasil foi positiva para as exportações.
O aumento das exportações foi liderado pelo avanço dos produtos tradicionais, mas choques adversos na Argentina e nos Estados Unidos permitirão maior penetração de produtos em que o Brasil não se destacava. Com o fim da seca na Argentina, porém, as exportações de farelo de soja devem recuar e o mesmo vale para as vendas de milho, com a normalização das condições para o produto nos Estados Unidos.
O desempenho favorável das exportações da agropecuária e da extrativa e a relativa estagnação da indústria de transformação é uma tendência observada desde o final da primeira década dos anos 2000. Ademais, observa-se que a partir de 2017, o crescimento da agropecuária se acelera. No caso da extrativa, o comportamento é similar, mas com taxas de variações menores. Em relação à taxa de crescimento médio anual dos 3 setores entre 2003 e 2023, em volume, o maior crescimento é o da agropecuária (+8,7%), seguido da extrativa (+6,5%) e a transformação registra variação de +1,8%.
O desempenho favorável das exportações da agropecuária e da extrativa ao longo dos anos 2000, seja por choques positivos de preços ou por aumento de volume, levou a um aumento da participação desses setores nas exportações totais do Brasil e queda da manufatura. No início da série em 1998, a participação da agropecuária era de 8,9%, da extrativa de 7,2% e da transformação de 82,9%. Em 2023, essas participações foram de 23,1% (agro), 23,2% (extrativa) e 53,5% (transformação).
O maior superávit foi o da agropecuária, US$ 74,3 bilhões, seguido da extrativa, no valor de US$ 62,8 bilhões. Tanto a agropecuária como a extrativa elevaram seu superávit em relação ao de 2022 e contribuíram cada uma com aumento de US$ 8,6 bilhões para o superávit da balança comercial de 2023. O déficit da indústria de transformação passou de US$ 57,2 bilhões para US$ 37,7 bilhões, uma redução de US$ 19,5 bilhões. A redução do déficit da indústria de transformação contribuiu para o aumento do superávit em 2023, se mantido o déficit de 2022, o superávit da balança comercial teria sido de US$ 78,7 bilhões. Observa-se que essa redução foi puxada pelas importações, que recuaram em valor 9,9%, entre 2022 e 2023, e as exportações caíram 2,5%.
A indústria de transformação é a principal compradora de produtos importados. Sua participação não tem sofrido grandes variações ao longo da série histórica iniciada em 1998. Nesse ano, era de 88%, em 2022 foi de 89% e em 2023, de 91%. A queda no volume importado, portanto, está associada ao fraco desempenho desse setor, que pela previsão do modelo IBRE deverá registrar queda de 0,5%, na comparação entre 2022 e 2023. Observa-se que as importações de bens intermediários explicam de 70% a 75% das importações totais do Brasil. A indústria de transformação, como a principal demandante, registrou um recuo de 7,0%, em termos de volume, das suas compras de bens intermediários. Para a agropecuária, com crescimento previsto do produto de 16,0%, as compras em volume dos bens intermediários aumentaram 10,3%. No entanto, a agropecuária explica cerca de 10% das compras desses bens, e em 2023 o percentual foi de 8,8%.
No caso dos bens de capital, as compras da indústria de transformação explicam cerca de 95% e da agropecuária, 3%. Em termos de volume, as compras de bens de capital aumentaram 1,5% para a transformação e 24,5%, para a agropecuária. Novamente, apesar do aumento acima de 2 dígitos das compras pela agropecuária, a pequena participação do setor nas importações totais, explica que no agregado total, as importações brasileiras recuaram.
O desempenho favorável do comércio exterior do Brasil foi acompanhado por um aumento da importância da China para o comércio exterior brasileiro. O superávit da balança comercial brasileira com a China aumentou de US$ 28,7 bilhões para US$ 51,1 bilhões. Em 2022, o país explicou 46% do superávit total do Brasil e, em 2023, 52%. O superávit com a Ásia no valor de US$ 59,7 bilhões, foi 60% do saldo da balança comercial brasileira em 2023 explicado pela China, pois com o resto da Ásia o superávit caiu.
Outra contribuição positiva para o superávit do Brasil foi a queda do déficit com os Estados Unidos de US$ 13,9 bilhões para US$ 1,1 bilhões. O superávit com a América do Sul aumentou, mas o ganho foi cerca de US$ 1 bilhão. Observa-se que a Argentina foi que contribuiu para o ganho, pois com o restante da América do Sul o superávit caiu. No caso da União Europeia, o superávit caiu. Os três principais parceiros comerciais: China, Estados Unidos e Argentina, contribuíram positivamente para o aumento do superávit do Brasil.
A participação dos 3 parceiros na pauta brasileira, porém, mostra diferentes pesos. A participação da China nas exportações brasileiras foi de 30,7%, seguida dos Estados Unidos, 10,9% e da Argentina, 4,9%, em 2023. A participação da União Europeia foi de 13,6%, cerca de 1 ponto percentual menor do que a da América do Sul. Nas importações, a China lidera com 22,1%, seguida dos Estados Unidos com 15,8%. O terceiro parceiro nas importações foi a Alemanha com participação de 5,5%, seguida da Argentina com 5%. A participação da União Europeia foi de 18,9%.
Com esses resultados, a Ásia explicou 44,2% das exportações brasileiras e 37,5% das importações brasileiras. Se somarmos América do Norte, Europa e América Latina e Caribe, o percentual das exportações foi de 46,4% e das importações de 58,1%. Em termos de blocos econômicos, Ásia e Ocidente se equivalem nas exportações, e nas importações, o principal parceiro do Brasil é o Ocidente. No entanto, é preciso considerar o papel de liderança da China nas exportações — 30,7% do que o país exportou em 2023.
Na análise do volume exportado, a liderança da China fica clara — um aumento de 29,5% — em relação a 2022. A segunda maior variação foi da Argentina (7,9%), seguida dos Estados Unidos (5,8%). Para o restante dos mercados analisados, a variação foi negativa, exceto Demais Ásia, 1,9%. Os preços caem em todos os mercados e há registro de aumento de 1,8%, somente para a Argentina.
No caso das importações, o volume importado aumentou 1,4% na China e 12,4% para Demais Ásia. Nesse último caso, a Índia foi o sexto principal mercado de origem das importações brasileiras (3% das importações), sendo 13% de compras de óleos combustíveis. Para o restante dos mercados, as importações recuaram ou ficaram estagnadas.
Quais as perspectivas para 2024? Dada a importância da China para o resultado de 2024, a primeira questão é o que se pode esperar em relação a esse mercado. Não há consenso de qual será o crescimento da China: o governo do país estima em 5,2% , mas os analistas de mercado e o FMI estimam algo entre 4% e 4,5%. No entanto, não é esperado que essa ligeira desaceleração tenha um forte impacto negativo nas exportações brasileiras. Os produtos demandados pela China estão associados a requisitos alimentares e de energia. A dúvida pode ser o minério de ferro, que depende dos investimentos em infraestrutura. No caso dos Estados Unidos, a se confirmar a redução na taxa de crescimento, é provável que a demanda por exportações sofra uma pequena queda. Na Argentina, não há sinais de recuperação no próximo ano.
Do lado das importações, apesar da previsão de menor crescimento do produto brasileiro para 2024, é esperada uma pequena melhora no desempenho da indústria de transformação, o que elevaria as importações.
No caso dos preços, as incertezas dominam em relação ao petróleo e as tensões geopolíticas e, no caso de produtos agropecuários, aos efeitos climáticos.
A Secretaria de Comércio Exterior estima um saldo de US$ 94,4 bilhões para 2024, enquanto algumas projeções de mercados são menos otimistas com projeções de saldos ao redor de US$ 75-80 bilhões.
Acesse aqui o estudo completo.
Do Portal FGV Ibre