A Comissão Europeia comunicou, nesta terça-feira (30), que vai continuar buscando negociar o acordo entre União Europeia e Mercosul, a despeito da fala do gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, de que as tratativas foram encerradas.
“As discussões continuam e a União Europeia continua a cumprir a meta de alcançar um acordo que respeite os objetivos de sustentabilidade e respeite as nossas sensibilidades, particularmente na agricultura”, disse um porta-voz da Comissão.
As negociações entre os dois blocos, que estão travadas há pelo menos duas décadas principalmente devido à resistência da França, teriam sido retomadas na semana passada, em Brasília e devem seguir pelos próximos meses.
Segundo fontes brasileiras e europeias, foi a primeira reunião, desde dezembro, entre negociadores no Palácio Itamaraty, depois que os debates foram suspensos pela decisão do então governo argentino de deixar para o novo presidente, Javier Milei, a continuidade das conversas acerca do acordo.
Porém, ainda não houve avanços significativos no encontro, mas as conversas foram positivas e foi tomada a decisão de continuar as negociações. “As negociações estão andando lentamente na direção certa. Mas vai levar algum tempo”, disse uma das fontes europeias à agência de notícias Reuters.
A expectativa do lado brasileiro era concluir o acordo até a reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) no final de fevereiro, mas decidiu-se evitar falar em prazos para não gerar expectativas.
França continua sendo o principal entrave para o avanço das negociações da União Europeia com o Mercosul
A França continua sendo a principal trava para o avanço das negociações, principalmente em um momento em que o país enfrenta protestos de agricultores franceses contra importações e contra o acordo com o Mercosul.
Apesar disso, a Comissão Europeia disse que “o foco da UE continua em assegurar que o acordo atenda as metas de sustentabilidade do bloco, ao mesmo tempo que respeita as sensibilidades do setor agrícola europeu”.
O Itamaraty não quis comentar oficialmente a declaração do gabinete francês, já negada pela Comissão Europeia, de que as negociações foram suspensas.
A propósito disso, uma fonte diplomática brasileira lembrou que as negociações não são feitas com países ou presidentes individualmente, mas com a Comissão Europeia.
Em dezembro, quando as negociações se encaminhavam para serem fechadas, Macron se manifestou publicamente contra o acordo, classificando-o de “antiquado” e dizendo que “não era bom para ninguém”.
Embora tenha se mostrado resistente ao acordo entre Mercosul e UE, o novo governo argentino já declarou que não tem problemas com as negociações e não pretende fazer novas exigências.
O Brasil, por sua vez, aponta duas questões que ainda precisam ser tratadas. Uma delas é o cronograma para redução de tarifas de importação para carros elétricos; a outra se refere a um sistema de conciliação para resposta à lei antidesmatamento aprovada pela União Europeia.
O Brasil quer a criação de um instrumento de conciliação no caso de a UE invocar a lei e suspender importações de produtos agrícolas acertadas no acordo, assim como o direito de reduzir as cotas europeias se tiver suas exportações cortadas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse várias vezes que não iria desistir do acordo Mercosul-União Europeia (UE), apesar das críticas do presidente francês.
Para tentar avanços nas negociações, Lula chegou a contar com o apoio do chanceler alemão Olaf Scholz.
“Não vou desistir enquanto eu não conversar com todos os presidentes e ouvir um não de todos. Aí nós vamos partir para outra”, disse Lula durante viagem à Alemanha no fim do ano passado.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do InfoMoney. Fonte: Reuters