Pesquisa Genial Quaest divulgada, nesta quarta-feira (6), mostra o quanto está difícil para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva furar a bolha do grupo evangélico, que representa 30% do eleitorado e no qual está grande parte dos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A aprovação do trabalho do governo Lula 3 caiu para 51% em fevereiro, resultado puxado principalmente pela avaliação dos evangélicos.
Há quem atribua o resultado à recente fala do presidente sobre a guerra entre Israel e Hamas, mas o que derrubou mesmo o resultado foi a percepção desse grupo sobre a economia, justamente uma das áreas da qual o governo tem colhido os resultados mais profícuos.
A aprovação do trabalho de Lula caiu de 54% para 51% em dois meses. Já a desaprovação ao trabalho do presidente subiu de 43% para 46% desde dezembro, data do último levantamento da Quaest.
A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Essa é a sétima rodada desde o início do governo Lula.
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, esmiuçou o resultado da pesquisa durante o ICL Notícias 1ª edição, programa diário transmitido pelas redes sociais.
O presidente Lula tem maior aprovação (61%) entre pobres que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.824). Outros 36% desaprovam.
“Quem ganha até dois salários mínimos teve o aumento da faixa de isenção do imposto de renda; tem o programa Bolsa Família, programas de financiamento para estudo, o Desenrola…”, elencou Moreira.
Já na faixa que ganha mais de cinco salários mínimos, ou seja, a parcela mais rica, formada por empresários, a aprovação caiu de 55% para 54%, enquanto a desaprovação subiu de 41% para 44%, ou seja, ficou praticamente dentro da margem de erro da pesquisa.
“Aqui é a turma que a inflação caiu pra caramba, que o PIB [Produto Interno Bruto] surpreendeu, que a empresa dele voltou a ter resultado mais alto. Aqui é o cara capitalista que voltou a ganhar mais dinheiro”, avaliou o fundador do ICL.
Genial Quaest: faixa de renda média, onde está a maioria dos evangélicos, foi a que derrubou avaliação do governo
A avaliação negativa do presidente ficou na faixa das pessoas que ganham entre 2 a 5,5 salários mínimos. Nesse grupo, a aprovação caiu de 52% para 45% entre uma pesquisa e outra, enquanto a desaprovação subiu surpreendentemente, em apenas dois meses, de 46% para 52%.
“O negativo da pesquisa está muito ligado ao bolsonarismo. Onde estamos vendo uma queda muito grande? Pessoas que ganham entre 2 a 5,5 salários mínimos. São pessoas extremamente influentes, são os ‘tios e tias do Zap’, pessoas que têm, várias delas, algum cargo de gerência em empresas”, disse Moreira.
O que Moreira chama de “turma do meio” obteve como política pública direcionada pelo governo o reajuste de R$ 20 no salário mínimo. “Claro que é importante aumentar o salário mínimo, mas são R$ 20. Os R$ 600 [do Bolsa Família] são mais fortes(…). Os R$ 20 não são mais fortes do que uma fake news enviada pelo Zap pela sua liderança. Essa turma aqui você não vai conseguir conquistar com R$ 20 de aumento de salário mínimo”, observou.
Para comprovar que a turma do meio está no grupo dos evangélicos, Moreira conecta esse dado da pesquisa com outro: o resultado por grupos religiosos.
Enquanto a aprovação do governo subiu de 41% para 42% no grupo que se disse católico e a desaprovação subiu de 25% para 28% – portanto, dentro da margem de erro -, no grupo dos evangélicos a aprovação caiu de 27% para 22% e desaprovação subiu de 36% para 48% em apenas três meses.
“Essa é a turma que está ali entre os 2 e 5 salários mínimos, que está se informando pela economia através do Zap. É gente que está falando que tá faltando comida nas prateleiras dos supermercados, numa visão dissociada da realidade”, disse.
Moreira lembrou que, no ano passado, a inflação dos alimentos foi a mais baixa, a taxa de juros (Selic) começou a cair, “então os dados econômicos para hoje são muito melhores do que estavam no governo Bolsonaro, mas as pessoas estão acreditando na versão que estão passando para elas”.
Avaliação da economia tem pior resultado
Ainda que os dados econômicos estejam melhores, a avaliação dos que desaprovam a condução nessa área subiu 31% para 38%. Quem acha que a economia melhorou caiu de 34% par 26% nos últimos 12 meses.
Mais uma vez, Eduardo Moreira reforçou: “Isso não é a realidade – é guerra de narrativas!”.
O economista apontou que esse grupo “talvez seja o mais importante em termos de massa crítica, é o que a tem mais influência”, mas está dominado por uma ala da igreja evangélica comandada pelos bispos Silas Malafaia e Edir Macedo, “que não para de ganhar poder e não para de ser cacifada pelo governo”.
“Estamos correndo o risco de rumar para aquela teocracia que está sendo anunciada e alertada por tantos intelectuais”, criticou Moreira, pontuando que será muito difícil para Lula conquistar esse grupo, que tem uma forte máquina de fake news por detrás.
Para assistir ao comentário de Eduardo Moreira, assista ao vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Noticias 1ª edição