O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse ontem (13) que a orientação para reter os dividendos extraordinários da companhia partiu do governo, maior acionista da empresa pública. No entanto, ele ressaltou que as falas sobre intervenção política na estatal são “especulação e desinformação” e visam “criar dissidências”.
Prates não considerou a orientação do governo como “intervenção na Petrobras”, mas o “exercício soberano” dos representantes do controle da empresa — no caso, o Estado brasileiro (veja aqui a composição acionista da companhia).
Em texto publicado na sua conta na rede X (antigo Twitter), ele também destacou que a Petrobras “é uma corporação de capital misto controlada pelo Estado Brasileiro, e que este controle é exercido legitimamente pela maioria do seu Conselho de Administração”.
“O mercado ficou nervoso esperando dividendos sobre cuja decisão foi meramente de adiamento e reserva. Falar em ‘intervenção na Petrobras’ é querer criar dissidências, especulação e desinformação. É preciso de uma vez por todas compreender que a Petrobras é uma corporação de capital misto controlada pelo Estado Brasileiro, e que este controle é exercido legitimamente pela maioria do seu Conselho de Administração. Isso não pode ser apontado como intervenção! É o exercício soberano dos representantes do controle da empresa”, escreveu ele em trecho do post.
A fala do presidente ocorre em meio indicações de analistas de que a companhia sofre ingerência política do governo federal.
O imbróglio em torno do pagamento de dividendos começou na quinta-feira (7), após a Petrobras divulgar o balanço do último trimestre do ano passado e anunciar que não pagará dividendos extraordinários neste ano, pois a empresa quer priorizar investimentos em transição energética.
Segundo nota enviada ao mercado, a estatal afirmou que o conselho de administração autorizou o encaminhamento à Assembleia Geral Ordinária (AGO) para o pagamento R$ 14,2 bilhões referentes ao quarto trimestre. Se aprovado, a companhia pagará R$ 72,4 bilhões em dividendos no exercício de 2023.
A respeito desse tema, o jornalista e comentarista do ICL Notícias Luis Nassif comentou o papel da grande imprensa no caso.
“A imprensa é demais… A Petrobras teve lucro de R$ 124,6 bilhões, o segundo maior da história, e, ainda assim, a grande imprensa critica a queda [no pagamento] de dividendos”, disse o jornalista na edição de anteontem (12) do ICL Notícias 1ª edição, programa diário transmitido pelo YouTube.
Como salientou Nassif, o total capital da empresa é composto, em sua maioria, por investidores estrangeiros (47,51%), seguidos por grupos de controle (36,61%) e investidores brasileiros (14,96%).
Petrobras sai da lista das 20 maiores pagadoras de dividendos. FUP defende que retorno da empresa ainda é elevado
Em 2022, a Petrobras ocupou a segunda posição na lista das 20 empresas maiores pagadoras de dividendos. Agora, a petroleira não aparece mais no ranking divulgado anualmente pela consultoria Janus Hendersen.
A saída da Petrobras da lista já reflete a mudança na política de dividendos da estatal, que reduziu de 60% para 45% a parcela do fluxo de caixa livre destinado aos acionistas.
No entanto, a FUP (Federação Única dos Petroleiros) defende que a Petrobras segue com retornos elevados: em 2023, distribuiu 79% de seu lucro líquido; abaixo dos 90% da Exxon e dos 80% da Saudi Aramco, mas bem acima de Chevron (53%), Total (33%) e BP (30%).
Os cortes de dividendos de Petrobras e Vale levaram o Brasil ao pior desempenho na lista de pagadores de dividendos no ano passado, com queda de dois quintos no valor distribuído, apesar do bom desempenho dos bancos.
No mundo, o valor global distribuído cresceu 5%, para um recorde de cerca de R$ 8 trilhões.
Conforme informações da consultoria, a Petrobras cortou em US$ 10 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões) o volume distribuído em 2023, na comparação com o ano anterior, quando ficou abaixo apenas da mineradora anglo-australiana BHP.
A nova política de dividendos da estatal foi aprovada em julho de 2023. No balanço do segundo trimestre, quando foi aplicada pela primeira vez, resultou em uma redução de R$ 5 bilhões no valor pago, em comparação ao modelo anterior.
A economista do ICL Economia, Deborah Magagna, explicou didaticamente, na edição de sexta-feira passada do ICL Mercado e Investimentos, programa diário transmitido no canal do ICL no YouTube (saiba mais clicando aqui), o que está por detrás nesse discurso enviesado da grande imprensa.
Empresa passou por processo de desmonte com Temer e Bolsonaro
Ao longo dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro a empresa passou por um processo de desmonte, com venda de subsidiárias e cortes de investimentos, com priorização do pagamento de dividendos a acionistas.
A queda nas cotações das commodities após um ano de preços recordes também teve forte impacto no desempenho, não só da estatal brasileira (ponto explicado por Deborah Magagna), mas também de outras gigantes globais do setor: a BHP, por exemplo, caiu da primeira para a sexta posição.
Entre as 20 maiores pagadoras em 2023, cinco são produtoras de commodities. Em 2022, eram oito. A lista do ano passado é liderada pelas empresas de tecnologia Microsoft e Apple, em primeiro e segundo lugar, respectivamente.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem enfatizado, desde a campanha eleitoral, que a Petrobras reduza a distribuição de dividendos, liberando mais recursos para investimentos, estratégia oposta à adotada pelo ex-presidente Bolsonaro (PL).
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo