O mercado de trabalho brasileiro não alterou em nada as suas características mais perversas: um ambiente misógino, racista e que tem pouco espaço para pessoas com instrução média e jovens. Tais características se acentuaram durante a pandemia, no entanto, voltaram a seus níveis históricos, o que não significa avanço, apenas que tudo continua igual, e que nada está sendo feito para mudar este quadro.
Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada semana passada, o desemprego continua mais elevado para a população preta e parda do que para a população branca. O nível de desemprego entre a população preta ficou em 13,3% enquanto para a população parda foi de 12,9%, ambos acima da média nacional, de 11,1%.
Para a população branca, o desemprego ficou consideravelmente mais baixo, em 8,9% neste momento. Isto mostra que os problemas estruturais, inclusive de racismo, persistem no mercado de trabalho brasileiro atualmente.
Falas machistas como a do ministro de Minas e Energia pioram a situação das mulheres no mercado de trabalho
Observado por gênero, o desemprego é historicamente maior entre mulheres do que entre os homens. Essa diferença se acentuou a partir da pandemia, quando diversas mulheres deixaram seus empregos para cuidar das famílias durante os piores momentos das restrições sanitárias no Brasil.
Neste momento, a diferença voltou aos termos históricos, com uma diferença entre 4 e 5 pontos percentuais. Ou seja, a disparidade não melhorou entre homens e mulheres em relação ao desemprego, mas os efeitos da pandemia foram amenizados no mercado de trabalho feminino. Atualmente, o desemprego entre as mulheres é de 13,7% enquanto para os homens é de 9,1%.
As falas machistas, vindas do governo federal, só prejudicam ainda mais as mulheres no mercado de trabalho. O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, em vídeos publicados em 2016 e 2017 em seu canal no YouTube, afirma que a desigualdade de salário existe porque os homens aceitam jornadas de trabalho mais extensas que as mulheres — sem colocar em foco o problema da divisão de tarefas em famílias brasileiras. Também afirmou que a mulher falta ao trabalho para ir ao médico. Ainda, criticou a licença-maternidade de seis meses e disse que a mulher é mais eficiente distante do mercado de trabalho.
Empregos têm ficado cada vez mais escassos para quem tem menor escolaridade e pouca idade
Por nível de instrução, o desemprego entre as pessoas com ensino médio incompleto continuou acima das demais as categorias observadas, com um desemprego de 18,3%, seguido pelo ensino médio completo, atualmente em 12,7%, pelas pessoas com ensino fundamental completo, com nível de 12,2% e com ensino fundamental completo, com nível de 11,9%.
Segundo o economista do boletim diário “Economia para Todos”, André Campedelli, os empregos têm ficado escassos entre aqueles com menor escolaridade, uma vez que o nível de instrução necessário é insuficiente para conseguir empregos melhores e que somente são acessados com o ensino superior completo. “Por esse motivo, o desemprego nestas quatro faixas se encontra tão elevado. O nível mais reduzido ficou para as pessoas com ensino superior completo, em 5,6%, o que mostra a necessidade que o mercado possui por trabalhadores com mão de obra muito qualificada no momento”.
Os dados observados por idade indicaram que os mais jovens continuam sendo aqueles que mais sofreram com o desemprego no país e mostraram que está cada vez mais difícil para uma pessoa ingressar no mercado de trabalho pela primeira vez, com um acesso mais tardio. O desemprego abaixo dos 24 anos foi o maior disparado quando comparado com as demais faixas. Para aqueles que têm entre 14 e 17 anos, o desemprego ficou em 36,4% e, entre 18 e 24 anos, o desemprego foi de 22,8%.
A taxa de desemprego a partir dos 25 anos se reduziu consideravelmente e ficou em 10,2% entre 25 e 39 anos, de 7,1% entre 40 e 59 anos, e foi de apenas 4,3% para as pessoas acima de 60 anos.
Em termos gerais, o desemprego pouco se alterou entre as faixas etárias, com redução significativa apenas entre aqueles que têm abaixo de 17 anos. O índice saiu de 37,2% para 36,4% no trimestre, o valor, no entanto, ainda ficou muito elevado.
Redação ICL Economia
Com informações do Boletim Diário “Economia para Todos”