A escalada do conflito no Oriente Médio, após o ataque do Irã contra Israel no último sábado (13), em revide a uma investida israelense contra a embaixada iraniana na Síria, que deixou sete membros da Guarda Revolucionária iraniana mortos, pode fazer com que o preço do barril de petróleo chegue aos US$ 100, pressionando a Petrobras para elevar os preços.
Dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) mostram que a defasagem da gasolina no Brasil em relação à cotação no exterior fechou a semana passada em 17%, e, diante da escalada do conflito, uma provável elevação do preço do barril de petróleo pressionaria a petroleira brasileira a elevar os preços por aqui. Contudo, especialistas dizem que esse reajuste não seria imediato.
Além disso, conforme reportagem de O Globo, o impacto do conflito sobre o valor do petróleo vai depender da resposta de Israel ao ataque iraniano.
Mas analistas já calculam que o acirramento da tensão torna o cenário do barril a US$ 100 mais próximo. Isso depende, no entanto, da entrada de outros países produtores de petróleo no conflito. O Brent, referência no mercado internacional, fechou a última sexta-feira em torno de US$ 90, com valorização de 17% no ano.
O dólar também deve ser pressionado pela escalada do conflito, com implicações para o futuro da política monetária nos Estados Unidos, reduzindo espaço para uma eventual redução nas taxas de juros, o que pode afetar, também, as decisões do Banco Central brasileiro.
Na última sexta-feira, o dólar terminou o dia cotado a R$ 5,1212, com alta de 0,60% no mercado à vista. Na semana, o avanço foi de 1,10%.
“O preço do petróleo vai subir com a expectativa do que pode acontecer nos próximos dias e se o conflito vai escalar. O temor é que uma guerra possa afetar a oferta de petróleo, já que o Irã conta com refinarias, por exemplo”, disse Cleveland Prates, professor de Economia da FGV Direito SP, ao O Globo.
Diante deste cenário, o Ministério de Minas e Energia criou, nesta segunda-feira (15), um grupo de trabalho para monitorar o preço do petróleo diante do conflito no Oriente Médio. A informação foi dada pelo ministro Alexandre Silveira, em entrevista a jornalistas.
“É importante que estejamos atentos. O ministério está debruçado [sobre o assunto], hoje mesmo já fiz uma reunião cedo com a Secretaria de Petróleo, Gás e Biocombustíveis a fim de que a gente possa, no grupo que acabei de criar de monitoramento permanente da oscilação do preço do Brent [petróleo], a gente possa estar atento e agindo de pronto com os mecanismos que temos”, declarou.
Entrada de outros países no conflito pode afetar questão logísticas com mais pressões sobre a Petrobras
O Irã é o novo maior produtor de petróleo do mundo (3,99 milhões de barris dia) e responde por 4% da produção global, assim como o Brasil. Os Estados Unidos são o primeiro, com 21,91 milhões de barris diários.
Outro grande problema com a escalada do conflito são as implicações logísticas. Parte do território iraniano é margeado pelo Estreito de Ormuz, via marítima por onde passa um quinto do volume de petróleo consumido no mundo, segundo dados da Bloomberg.
Isso poderia restringir as movimentações de petróleo e de seus derivados, pressionando os custos logísticos, mais uma vez com pressões sobre a Petrobras.
A Abicom aponta que os preços praticados no Brasil da gasolina e do diesel estão 17% e 10% mais baratos que no exterior, respectivamente. Considerando apenas as vendas nos polos da Petrobras, essa disparidade é elevada para 19% no caso da gasolina. Dados internos da estatal, segundo fontes ouvidas por O Globo, apontam para uma defasagem de 12% no combustível.
No entanto, analistas pontuam que o aumento de preços pela Petrobras não deve ser imediato, principalmente porque o nível de defasagem dos preços ainda está dentro de um limite aceitável.
Outro aspecto é que as grandes potências devem intervir para evitar a escalada do conflito, como já sinalizou o presidente americano, Joe Biden.
Ontem (14), ele disse que não vai se envolver em uma ofensiva contra o Irã e que busca uma resposta diplomática. Biden pretende disputar a reeleição, e uma guerra impactaria a economia americana, afetando a sua popularidade.
Por outro lado, analistas avaliam que a alta do dólar será inevitável, pois a moeda norte-americana é considerada um ativo seguro. Em meio às incertezas geopolíticas e econômicas, uma corrida pelos títulos dos EUA é certa.
O cenário significa que o Fed deve ser ainda mais cauteloso na redução das taxas de juros, diante de tantos elementos de incerteza no horizonte.
Da Redação ICL Economia
Com informações de O Globo