O preço da gasolina, congelado há mais de dois meses (o último aumento foi em 11 de março, o 13º desde janeiro de 2021 ), tornou-se motivo de tensão entre a direção da Petrobras e o governo. Isso porque os acionistas alegam estarem sendo lesados pelo demora de novos reajustes pela estatal, o que impacta nos resultados de suas ações.
Segundo cálculos da Abicom, associação que reúne pequenos e médios importadores de combustíveis, a defasagem entre os preços da gasolina no mercado interno em relação ao mercado internacional chega a 20%
De um outro lado, está o presidente Jair Bolsonaro, que em ano eleitoral não quer mais aumentos para não prejudicar seu projeto de reeleição. Ele já recorreu a constantes demissões na estatal para marcar seu descontentamento com o preço dos combustíveis, Foi o caso do então presidente da Petrobrás, Joaquim Silva e Luna, que pouco tempo depois de anunciar o último aumento gasolina (18,7%), em março, foi demitido por Bolsonaro.
Os noticiários especulam que José Mauro Ferreira Coelho, empossado presidente da Petrobras no último mês, já sofre pressão e pode deixar o cargo. No domingo (15) quando perguntado sobre a permanência de Coelho à frente da empresa, Bolsonaro não bancou o nome e disse: “pergunta pro Adolfo Sachsida. Ele é o ministro das Minas e Energia”.
Acionistas pressionam pelo aumento do preço da gasolina
A Petrobras acumulou lucro líquido de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre, mas mesmo assim os acionistas se sentem lesados pela demora dos reajustes pela empresa e querem a execução do PPI – Preço de Paridade de Importação, prática adotada pela estatal desde 2006 e que aumenta os preços dos combustíveis no Brasil de acordo com a cotação do petróleo no mercado mundial.
O especialista em energia e professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, Edmar Almeida, afirma que a Petrobras pode ser questionada na Justiça pelos seus acionistas caso não efetue a equiparação do preço da gasolina, principalmente se houver a suspeita de interferência por parte do governo.
PPI poderia ser abolida
Especialistas do setor energético afirmam que a PPI pode ser abolida por decisão do conselho do Petrobras e que, no caso, caberia uma decisão de política econômica do governo Bolsonaro, uma vez que o governo tem maioria na instância decisória –seis membros dos 11 totais.
No entanto, o presidente Bolsonaro nunca demandou que uma nova política de preços fosse debatida pelos administradores da estatal. Muito pelo contrário: ele anuncia mudanças para tentar se isentar de qualquer culpa sobre a alta de preços pensando na eleição, mas a PPI não é alterada.
O economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras (OSP), afirma que mudanças promovidas por Bolsonaro no Ministério de Minas e Energia (MME) e na Petrobras em nada afetam o PPI. “No MME foi nomeado um ultraliberal que já quis anunciar estudos sobre a privatização da Petrobras. E o Mauro Coelho é também um defensor da política de preços”, afirmou. “Ambos não têm intenção alguma em modificar nada que atacasse os preços dos combustíveis.”
Redação ICL Economia
Com informações das agências