As autoridades globais temem uma ameaça de estagflação que lembre a crise da década de 70, preocupação crescente para bancos e economistas do mundo todo que já lidam com as consequências da guerra na Ucrânia.
A estagflação é a situação econômica de um país que combina a inflação com estagnação no desenvolvimento econômico e aumento do desemprego.
Com a economia da China desacelerando e o Federal Reserve (banco central americano) intensificando seu compromisso de derrotar a inflação com a elevação dos juros, aumentam as preocupações de um pouso forçado generalizado. Os ministros de finanças e banqueiros centrais do G7, reunidos na Alemanha, indicam uma preocupação de que o risco da estagflação não possa mais ser evitado.
Alguns economistas afirmam que a guerra na Ucrânia teve implicações relevantes no cenário internacional, como inflação, juntamente com uma perda de impulso de recuperação pós-pandemia. E os preços mais altos de alimentos e energia têm efeitos estagflacionários, ou seja, deprimem produção e gastos e aumentam a inflação em todo o mundo.
A combinação nociva tripla de inflação alta, crescimento estagnado e desemprego crescente é o pior cenário para banqueiros centrais e legisladores, que terão que escolher qual doença combater.
Após passar 2021 apostando que a inflação desapareceria, os formuladores de política monetária agora sinalizam que os preços são sua principal preocupação, mesmo que essa batalha reduza a demanda e as contratações.
Embora as perspectivas de uma recessão global permaneçam baixas, pelo menos este ano, o ritmo dos eventos pega os formuladores de políticas e os investidores desprevenidos, à medida que os mercados financeiros caem e as previsões de crescimento continuam sendo revisadas para baixo.
A semana passada revelou a escala da desaceleração, após dados da China para abril mostrarem que a atividade de consumidores e negócios estagnou em meio à política agressiva de Covid Zero do governo.
O Japão, a economia número 3 do mundo, encolheu no primeiro trimestre, com o aumento dos custos de importação inflacionados por um iene mais fraco. No Reino Unido, a alta de preços atingiu uma máxima de 40 anos. Nos Estados Unidos, o aumento do juro deve continuar até evidências de que a inflação comece a recuar.
Risco de estagflação no Brasil
No Brasil, desde o que o Real foi adotado como moeda oficial do país, em 1994, nunca havia ocorrido um crescimento inflacionário mensal tão intenso quanto o registrado atualmente. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, a taxa acumulada pela inflação no ano ficou em 4,29%, de acordo com o IBGE. O resultado acumulado em 12 meses foi de 12,13%, resultado mais elevado desde outubro de 2003, quando estava em 13,98%.
Na análise dos economistas do ICL, André Campedelli e Deborah Magagna, essa aceleração constante dos preços se deve, primeiro, porque a alta dos combustíveis é quase que uma certeza hoje na vida dos brasileiros, o que faz com que os agentes se antecipem e reajustem os seus preços antes dos custos de fato se elevarem. Assim, roupas e outros itens de uso pessoal estão com seus preços subindo mesmo sem aumento da procura por estes bens e sem uma alta significativa de suas matérias-primas.
Em segundo lugar, o aumento do preço dos alimentos está mais acentuado agora do que estava no ano passado. Então, são duas grandes frentes de impacto na inflação, os alimentos e os combustíveis, e não é mais possível descartar uma inflação novamente acima de 2 dígitos para este ano.
Campedelli e Magagna explicam que “o Brasil está numa estagflação ainda mais vigorosa do que poderíamos imaginar. A inflação deve vir mais acelerada do que o esperado, enquanto as atitudes para controlar o nível de preços devem desacelerar cada vez mais a atividade econômica brasileira”. Isso porque, diante do resultado, o governo aumentou a taxa Selic, o que se torna mais um empecilho para o crescimento econômico e debilita ainda mais a já frágil atividade econômica brasileira.
Redação ICL Economia
Com informações do Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre e das agências de notícias