Fica cada vez mais claro que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sofre uma grande pressão do mercado financeiro e de sua porta-voz, a grande mídia. A dose de má vontade contra o ministro piorou depois da MP (medida provisória) que buscava compensar o que o caixa da União vai perder com a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos.
No fim de semana, o ministro participou do evento Despertar Empreendedor, promovido pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta), e, de tudo o que ele disse, a grande mídia deu destaque para a fala dele, totalmente retirada de contexto, na qual diz que “o Brasil é uma encrenca”.
O que Haddad disse foi: “O Brasil é uma encrenca, é difícil de administrar. Às vezes, quem está numa posição de poder não está fazendo a coisa certa pelo país. Isso é a coisa mais triste da vida pública. Você tem um país de ouro, você tem um povo de ouro, uma coisa maravilhosa, e você vê que quem pode fazer a diferença nem sempre está pensando no interesse público, e devia estar, né?, porque está lá numa posição de poder, ou porque é grande empresário. ou porque é um político com mandato. Você fala: ‘pô, mas essas pessoas não estão pensando no país?’ Essas pessoas não estão se doando para o país. Essa é a coisa mais difícil de lidar na vida pública no Brasil”.
A fala do ministro foi muito mais abrangente e mostra uma realidade. Realmente, o Brasil é “uma encrenca”, como destacou o jornalista Leandro Demori, ao comentar o tema no ICL Notícias 1ª edição, desta segunda-feira (17).
“O Brasil é uma encrenca. Quem não acha que o Brasil é uma encrenca? Ele (Haddad) está navegando uma encrenca com várias forças tentando derrubá-lo, sendo que ele – veja a maluquice da história – é atinente à ideia de que o Estado não pode gastar. Imagina se ele fosse um cara que tivesse ali e falasse ‘não, o Estado é o grande indutor da economia'”, lembrou Demori.
O comentarista do ICL, o jornalista César Calejón, lembrou que “existe uma intenção clara de debilitar o governo pela pasta do Haddad”. “O que quer que o Haddad diga vai virar um escândalo. Cria-se um escarcéu para ignorar a mensagem central do que foi dito. Existe uma má vontade tremenda com o governo a essa altura – para dizer o mínimo. Isso vem depois da MP do PIS/Cofins, de setores que tiveram R$ 90 bilhões em isenção fiscal só no ano passado”, apontou.
Ao lado de Eduardo Moreira, economista e fundador do ICL, e de Demori, Haddad ainda abordou as potencialidades do Brasil. “Nós temos um contexto internacional muito desafiador, mas esses momentos desafiadores, às vezes, são a janela que nós precisamos para despontar como uma liderança, e o Brasil pode liderar processos muito significativos. (…) Se o Brasil estiver arrumado, podemos efetivamente representar um caminho para as coisas. Nós temos muito respeito – aliás, nós temos mais respeito fora do que dentro. A gente se respeita menos do que os outros nos respeitam”, falou Haddad, sendo aplaudido pela plateia na sequência.
Márcio França lembra que ataques a Haddad têm como foco mudança na presidência do BC como alvo
Também convidado do Despertar Empreendedor, o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, lembrou que tudo estava bem há cerca de um mês.
“Não é incrível? Faz 30 dias que o país estava perfeito, o Haddad era um sucesso, todo mundo elogiava o dólar, tava equilibrada a balança [comercial], inflação caindo, juro baixo… Aí começou, ‘tá dando errado, cuidado, cuidado, cuidado!’. De repente, o que aconteceu? Anotem aí, depois vocês me cobram: sabe o que é tudo isso aí? É porque eles querem mandar em quem o presidente vai indicar para o Banco Central. Eles querem mandar. Eles querem falar o seguinte: ‘o Banco Central é independente, é o presidente [da República] que indica, mas desde que estejamos de acordo”, disse.
O mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, termina em 31 de dezembro. Para seu lugar, é cotado o diretor de política monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, que foi indicado pelo governo Lula ao cargo.
Porém, embora ainda esteja no BC, Campos Neto tem atuado como se não estivesse mais no cargo. Tem participado de eventos com grandes empresários e participado de jantares, como o que aconteceu na casa do apresentador Luciano Huck, em maio, e outro oferecido pelo governo de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas.
Como lembrou o co-apresentador do ICL Notícias 1ª edição, William de Lucca, Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem jogado contra o Brasil.
“O presidente do Banco Central é totalmente independente do governo, mas dependente do bolsonarismo, do mercado financeiro. É lacaio de uma gestão que não está mais no poder. É um presidente do BC que viaja falando mal da economia do país, causando insegurança nos investidores”, criticou.
Para assistir aos comentários na íntegra, veja o vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias