O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou na sexta-feira (28/06) as projeções atualizadas para a inflação brasileira em 2024. A análise manteve as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 4,0% e 3,8%, respectivamente.
Após sete quedas seguidas do IPCA acumulado em 12 meses, em maio houve nova aceleração, com taxa de 3,93%, repercutindo, especialmente, uma alta mais forte no preço dos alimentos no domicílio. No entanto, metade da inflação de 0,66% da alimentação no domicílio apontada pelo IPCA de maio se deve ao aumento de 3,6% dos alimentos registrado em Porto Alegre, cidade bastante afetada pelas inundações. Com isso, embora nos próximos meses se verifique uma aceleração da inflação ao consumidor em 12 meses, a perspectiva de uma alta de preços em 2024 abaixo da registrada em 2023 ainda se mantém.
O recorte por categorias nos revela uma alta de 5,1% dos serviços livres, que se mostrou o maior foco de pressão inflacionária nos 12 meses até maio. Apesar do comportamento um pouco mais favorável nos meses mais recentes, a inflação dos serviços permanece em patamar elevado, pressionada em grande parte pela alta dos preços dos serviços pessoais e de recreação.
Já em relação aos alimentos, apesar da deflação no atacado, a velocidade de recuperação dos preços agrícolas vem gerando uma pressão sobre os preços ao consumidor acima da esperada. Enquanto nos últimos 12 meses a inflação de 3,3% dos alimentos em domicílio ainda se beneficie estatisticamente das taxas mais amenas de 2023, os dados específicos de 2024 mostram que esse segmento já registra alta de 5,1%.
Os preços administrados mostram trajetória de sucessivas desacelerações, cujo ritmo vem se mostrando mais forte que o projetado. Com isso, a inflação desse segmento em 12 meses recuou de 9,1% em dezembro para 6,1%, em maio. Apesar de já se verificar uma recomposição mais forte dos preços dos bens industriais no atacado, no varejo a taxa de inflação em 12 meses segue em desaceleração, apontando alta de 0,4%, em maio.
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Em relação às chuvas que assolaram a região Sul, embora o impacto mais significativo das inundações sobre os preços dos alimentos já tenha ocorrido, a expectativa para os próximos meses é que esse grupo continue pressionando o IPCA, tendo em vista que a alta mais restrita, inicialmente, aos produtos in natura, deve se estender ao longo da cadeia produtiva, atingindo também os alimentos processados.
Além da recomposição dos preços industriais no atacado e da desvalorização cambial de 8,3% contabilizada até maio, a demanda interna aquecida, fomentada pela expansão da massa de rendimentos, deve manter os preços dos bens de consumo e dos serviços pressionados. Dessa forma, o espaço para novas desacelerações da taxa de inflação torna-se limitado, com a tendência para os próximos meses de manutenção da inflação em 12 meses em patamares próximos dos observados atualmente.
Apesar de as projeções para o INPC e para o IPCA para 2024 terem sido mantidas, houve uma mudança de composição. No caso do IPCA, a projeção para a inflação de alimentos avançou de 4,1% para 5,9%. Em contrapartida, a estimativa para os serviços livres recuou de 4,8% para 4,6%, refletindo uma alta mais amena dos serviços de educação e transportes. Já em relação aos preços administrados, diante dos reajustes menos intensos da energia elétrica, dos ônibus urbanos e dos planos de saúde, a projeção de alta desse segmento recuou de 4,4% para 4,0%. Para os bens industriais, a inflação prevista para o ano foi mantida em 2,1%, sinalizando uma retomada de preços mais intensa no segundo semestre.
Os pesquisadores do Ipea, no entanto, ressaltam que não se deve descartar a ocorrência de um conjunto de fatores que pode contaminar negativamente o ambiente inflacionário ao longo dos próximos meses. Além de uma expansão mais forte da demanda internacional, o agravamento das tensões geopolíticas pode elevar os preços das commodities, impactando ainda mais os custos de produção e os preços finais. No cenário doméstico, o crescimento da atividade econômica brasileira acima do esperado, em 2024, pode desencadear pressões inflacionárias adicionais, sobretudo sobre o setor de serviços.
Diante das condições mais apertadas do mercado de trabalho, o efeito do aumento do nível de atividade sobre os salários impactaria negativamente os custos de produção, em especial em segmentos de menor produtividade e altamente intensivos em mão de obra. Além disso, a expansão da massa salarial em ritmo acima do observado recentemente proporcionaria um crescimento ainda mais intenso da demanda interna, pressionando também os preços dos bens de consumo. Por fim, uma possível deterioração do ambiente fiscal nos próximos meses pode acarretar novas desvalorizações cambiais, gerando impactos adicionais sobre os preços comercializáveis.
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Do site ipea.gov.br