A extrema pobreza no Brasil foi reduzida pela metade nos últimos dois anos, devido, em grande parte, à recuperação econômica. Segundo o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE, as mudanças nos programas de transferência pré-eleição de 2022 e no início de 2023 contribuíram para a redução da extrema pobreza, que caiu de 19,2 milhões em 2021 para 9,5 milhões em 2023.
Em 2021, cerca de 19,2 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 209 por mês, representando quase 10% da população. Esse número caiu 50% (9,67 milhões) em 2023.
O estudo aponta que diversos fatores contribuíram para essa diminuição, sendo o principal deles as políticas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial e o aumento no Bolsa Família.
Além disso, a valorização do salário mínimo, que impacta aposentadorias do INSS e o BPC (Benefício de Prestação Continuada), auxílio concedido a idosos e pessoas com deficiência; a recuperação econômica; o retorno do turismo e um período com chuvas mais regulares também contribuíram para o resultado.
“Os números mostram que os programas de transferência de renda têm impacto forte na pobreza e na extrema pobreza. Houve uma redução significativa no Nordeste, mas ainda é a região que tem mais pobres e extremamente pobres”, afirmou ao jornal Valor Econômico o coordenador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV Ibre e professor de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Flávio Ataliba Barreto. Ele é um dos autores do estudo ao lado dos pesquisadores João Mário Santos de França, Vitor Hugo Miro e Arnaldo Santos.
De acordo com o estudo, metade dos brasileiros que saíram da extrema pobreza vive no Nordeste. Os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco lideraram a redução na região, com baixas de 56,9%, 55,1% e 51,7%, respectivamente.
Apesar do progresso, o Nordeste ainda possui 5,2 milhões de pessoas com rendimento per capita de R$ 209 por mês, representando 9% da população local.
Estudo aponta que, além da extrema pobreza, houve queda da pobreza em geral
O estudo também mostrou diminuição na pobreza em geral, com o número de pessoas vivendo com até R$ 667 por mês passando de 78,38 milhões em 2021 para 60,4 milhões em 2023. O Nordeste novamente se destacou, com mais de 5,4 milhões de pessoas saindo da linha da pobreza.
O estudo dos pesquisadores do FGV Ibre mostra ainda ritmos de queda diferentes entre os nove estados do Nordeste e contingentes de pobres e extremamente pobres bem distantes, mas que muitas vezes passam despercebidos.
Embora a região seja vista como um bloco único, os estados são bastante heterogêneos e, por isso, demandam uma agenda de políticas públicas adequada para as realidades diversas.
Os pesquisadores defendem que é preciso ampliar o trabalho de avaliação das políticas voltadas para a região, diante de décadas de programas com resultados lentos na redução da miséria.
Viver com uma renda domiciliar per capita de até R$ 209 por mês significa, por exemplo, que uma família com pai, mãe e dois filhos tenha R$ 836 por mês para arcar com despesas como moradia, alimentação, energia elétrica, transporte e remédios, por exemplo.
O estudo calcula a distribuição da pobreza no país a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pelo Censo Demográfico 2022, a população nordestina era de 54,6 milhões de pessoas, ou 26,9% dos 203,08 milhões dos habitantes no país. Essa fatia, no entanto, é superior quando se considera os extremamente pobres (5,2 milhões de pessoas, ou 55,2% do grupo no país) e os pobres (27,54 milhões, ou 45,6% dos pobres no país).
Por outro lado, a participação do Nordeste no PIB (Produto Interno Bruto) nacional é muito inferior à representatividade de sua população.
Pelas informações mais recentes do IBGE, referentes ao ano de 2021, o Nordeste respondia por 13,8% do PIB brasileiro. Entre 2002 e 2021, um intervalo de 20 anos, essa fatia oscilou apenas entre 12,84% em 2023 e 14,48% em 2017.
Mais pobres entre os pobres
Em termos absolutos, a Bahia é o estado nordestino com o maior contingente populacional na extrema pobreza: 1,32 milhão ou 9,3% da população, considerando os dados do estudo e do Censo 2022. A maior incidência da extrema pobreza, no entanto, aparece no Maranhão, onde quase 13% estão nesta situação, ou 879,3 mil pessoas.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e Valor Econômico