O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não esconde sua proximidade política com o bolsonarismo. Depois de ter sido homenageado pelo governador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), na última segunda-feira (29) ele recebeu a Medalha da Inconfidência do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), outro aliado político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A honraria foi concedida no Dia de Tiradentes, em 21 de abril, mas Campos Neto estava no exterior e não pôde comparecer à cerimônia.
O encontro durou 30 minutos, e aconteceu na sede do Banco Central, em São Paulo.
Na ocasião, o governador destacou a importância do trabalho do presidente do Banco Central, enfatizando os critérios técnicos das últimas decisões do Copom (Comitê de Política Monetária), que define a taxa básica de juros, a Selic, e a independência de interferências políticas no órgão.
“A Medalha da Inconfidência reconhece o trabalho de grandes homens do Brasil. E o trabalho de Roberto Campos Neto tem sido fundamental na proteção da nossa moeda”, disse o governador.
A Medalha da Inconfidência é concedida a pessoas “que se distinguem pela notoriedade de seu saber, cultura e relevantes serviços à coletividade”, segundo o site da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Neste ano, foram concedidas 171 medalhas, sendo a maior delas oferecida ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Lembrando que a homenagem aconteceu no dia anterior ao início da reunião do Copom do Banco Central, que definirá a taxa de juros. A decisão será anunciada nesta quarta-feira (31).
Presidente da Fiesp critica posicionamento político de Campos Neto
A postura política de Campos Neto tem sido criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, além de ter perdido o timing de reduzir a taxa básica de juros, atualmente em 10,50% ao ano, quando deveria, o presidente do BC tem atuado contra o país em eventos dos quais participa, tanto aqui como no exterior.
O mais recente crítico de Campos Neto foi o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes. Ontem (30), ele disse que o presidente do Banco Central adotou um “posicionamento político”, o que colocaria em xeque a autonomia da autoridade monetária.
Segundo Gomes, dois exemplos disso seriam a ida de Campos Neto às urnas em 2022 vestindo a camisa da seleção brasileira, e a homenagem que recebeu em jantar promovido pelo governador de São Paulo.
“Ele [Campos Neto] optou pessoalmente por um posicionamento político. Se acabarem com a autonomia do Banco Central, o ‘mérito’ vai ser todo do Campos Neto”, disse Gomes a jornalistas em café da manhã realizado na Fiesp.
Josué Gomes é filho de José Alencar, que foi vice-presidente dos dois primeiros mandatos de Lula, é também presidente do Grupo Coteminas, que tiveram seu pedido de recuperação judicial homologado na semana passada pela 4ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. As nove empresas incluídas no pedido somam R$ 2 bilhões em dívidas.
Questionado se Lula deveria se eximir de questionar a postura de Campos Neto à frente da autarquia, como fez nos últimos dias, Gomes minimizou os ataques do presidente. Para o executivo, seria preciso “um José Alencar” para distensionar as relações entre o governo federal e o BC.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias