A bolsa do Japão recuperou, nesta terça-feira (6), parte das perdas registradas na véspera, quando o índice Nikkei, de Tóquio, desabou 12,4%, fechando a 31.458,42 pontos, no maior tombo diário desde outubro de 1987, quando ocorreu a chamada black monday (segunda-feira escura, na tradução).
O índice japonês fechou hoje com avanço de 10,23% em Tóquio, a 34.675,46 pontos, assegurando o maior ganho diário desde outubro de 2008. Ações de eletrônicos e da indústria pesada se destacaram no Japão: Tokyo Electron e Hitachi dispararam quase 17%.
Em outras partes da Ásia, o sul-coreano Kospi avançou 3,30% em Seul, a 2.552,15 pontos, e o Taiex subiu 3,38% em Taiwan, a 20.501,02 pontos.
Nos mercados da China continental, menos afetados pelo tumulto global dos últimos dias, os ganhos foram mais modestos. O Xangai Composto registrava alta de 0,23%, a 2.867,28 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto apontava avanço de 1,18%, a 1.567,03 pontos.
Na contramão, o Hang Seng caiu 0,31% em Hong Kong, a 16.647,34 pontos.
O abalo nos mercados mundiais tem sido afetados, no âmbito corporativo, pelas ações de tecnologia. Há uma acomodação no setor após uma corrida por ações de empresas de inteligência artificial (IA) e essa debandada acaba afetando as bolsas asiáticas.
No entanto, o movimento mais nervoso começou na sexta-feira passada (2), quando a divulgação do relatório de empregos payroll, dos Estados Unidos, colocou em dúvida a saúde da economia norte-americana. Ontem, porém, um indicador positivo do setor de serviços ajudou a amenizar as preocupações.
Eduardo Moreira explica movimento da bolsa do Japão
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, jogou um olhar mais aprofundado sobre a economia japonesa na edição de hoje do ICL Notícias 1ª edição.
Segundo ele, na época da pandemia de Covid-19, todos os bancos centrais do mundo tiveram de baixar as taxas de juros para manter uma certa atividade econômica no período em que muitos negócios foram obrigados a parar para evitar a disseminação do vírus.
Depois, com a retomada gradual da economia global, os índices inflacionários começaram a subir e, consequentemente, os BCs voltaram a subir as taxas de juros para controlar a pressão da inflação.
O Japão, que sempre foi um país conhecido por manter suas taxas de juros negativas, tornou-se, então, uma espécie de credor global, onde todo mundo ia para pegar dinheiro emprestado. “Só que tem um problema: quando você pega dinheiro emprestado em outro país, você tem dois custos – um que é a taxa de juros daquele país e outro que é o quanto oscila a moeda daquele país em relação à sua moeda”, explicou Moreira.
O Japão tinha dois elementos: taxas de juros negativas e o iene era uma moeda que não oscilava muito, especialmente em relação ao dólar. “Quando se estava tirando dinheiro do Japão, a moeda foi se desvalorizando, mas, na última semana, a moeda do Japão começou a subir muito. Então, muita galera que deve em iene ficou preocupada”, disse.
Na semana passada, o Japão aumentou suas taxas de juros, para o intervalo de 0,10 a 0,25% ao ano. Comparativamente à taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano, pode parecer pouco. Mas, quando se leva em conta o fato de que, no Japão, o indicador permaneceu negativo por muitos anos, o efeito nos mercados locais pode ser impactante, especialmente porque diminui o apetite ao risco no país.
Moreira lembrou que essa foi a segunda vez em 20 anos que o Banco do Japão (BoJ) sobe os juros, o que fez com que as devedores queiram logo pagar suas dívidas. Esse reingresso de moeda no Japão ocasiona a valorização do iene.
Ontem, dia do colapso do Nikkei, a moeda japonesa, o iene atingia seus níveis mais altos em relação ao dólar desde janeiro.
O dólar tinha queda de 2,99% em relação ao iene, a 142,16, depois de chegar a 141,675 ienes em um determinado momento.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,52%, a 102,610.
O iene deu um salto de 14% em relação ao dólar nas últimas três semanas, impulsionado em parte pelo aumento de 15 pontos-base na taxa do Banco do Japão, junto do anúncio de um plano para reduzir pela metade as compras mensais de títulos pela autoridade monetária japonesa nos próximos dois anos.
Assista à análise do economista Eduardo Moreira no vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do ICL Notícias 1ª edição