Dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontam que o estoque efetivo-planejado da indústria aparece aos 48,2 pontos, o menor nível desde fevereiro de 2021, ou seja, durante a pandemia de Covid-19, quando a situação era muito diferente da atual devido às restrições sanitárias, que dificultavam a circulação de mercadorias e o acesso a insumos para o setor produzir.
A entidade atribuiu o bom momento da indústria ao cenário econômico atual, mais otimista, e também à queda da taxa básica de juros, a Selic, que contribui para facilitar o investimento no país.
O indicador da CNI tem os 50 pontos como a linha de corte que separa crescimento e queda de armazenamento.
Isso significa que o setor tende a impulsionar a produção após o tombo de 0,7% em 2022 e a variação positiva de apenas 0,1% no ano passado.
Os dados da CNI corroboram outros de estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas), em meados deste mês, apontando que o NUCI (Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria) chegou a 83,4%, o maior patamar desde 2011.
Dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a produção industrial cresceu 4,1% em junho, em comparação a maio, e 3,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, superando as expectativas do mercado.
O avanço da produção industrial no fechamento do primeiro semestre ocorreu após dois meses consecutivos de recuos ocasionados pelas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul. A retomada das fábricas, portanto, contribuiu de alguma forma para o resultado.
CNI: paralisação do corte da Selic preocupa a indústria
Em entrevista ao UOL, o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo, vê os dados do setor industrial como reflexo do bom sinal da economia.
“Os empresários, eles estão vendo suas prateleiras vazias e com a demanda crescendo. A tendência é de uma alta de produção para atender a essa demanda e recompor os estoques nos próximos meses”, avaliou.
Ele também atribuiu a recente evolução da indústria à redução de 3,25 pontos percentuais da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.
Porém, a manutenção da taxa no patamar atual nas últimas duas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central pode frear a recuperação. “Essa interrupção dos cortes traz preocupação, não só pela questão do investimento, mas também pela continuidade de um crescimento da demanda”, avaliou.
Diante da economia mais aquecida, uma ala do mercado e os sinais emitidos pelos próprios dirigentes do Banco Central recentemente, com indicações de até mesmo uma possível alta da taxa de juros para controlar as pressões inflacionárias, é vista com preocupação pelo setor.
Na opinião de especialistas, o temor de que o aquecimento da indústria pode, em certa medida, provocar pressões inflacionárias, precisa ainda ser avaliado. “A utilização da capacidade instalada permite que tenha essa recuperação da demanda sem uma pressão muito pesada sobre os preços”, avaliou Azevedo.
Também ao UOL, Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, pontuou que ainda é cedo para qualquer avaliação. “Se você não tiver uma expansão da oferta proporcional e/ou conjugada com o aumento da produtividade, obviamente que a gente pode ter um impacto nos preços da economia e, obviamente, na inflação. Por enquanto, eu acho que é muito cedo fazer qualquer tipo de análise, porque a gente vinha de uma base muito deprimida da indústria”, disse.
Crescimento em 2024
Diante de todos os dados favoráveis, a indústria caminha para fechar 2024 com o primeiro crescimento efetivo desde 2021, quando o avanço de 3,9% representava uma recuperação do tombo de 4,5% do ano anterior. Em 2022, a produção encolheu 0,7% e ficou estável (+0,1%) no ano passado.
No último relatório trimestral de inflação, a autoridade monetária avalia que a indústria de transformação tende a se beneficiar do aumento do consumo das famílias e da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo).
Redação ICL Economia
Com informações do UOL