A guerra na Ucrânia pode levar o mundo para uma recessão global, levando em conta especialmente as altas nos preços de energia e alimentos. Este alerta foi feito pelo presidente do Banco Mundial, David Malpass, nesta quarta-feira, 25, em evento da Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
O dirigente afirmou que “ao olharmos para o PIB global (…) é difícil agora ver como evitamos uma recessão”. No mês passado, o Banco Mundial cortou sua previsão de crescimento econômico global para este ano em quase um ponto percentual, para 3,2%.
A previsão é de que Ucrânia e Rússia devam enfrentar contrações, enquanto EUA, Europa e China devem ter seu crescimento desacelerado.
Países em desenvolvimento devem sofrer mais com recessão global
O panorama da economia global é muito desafiador, especialmente em países em desenvolvimento, que estão sendo afetados pela escassez de fertilizantes, alimentos e energia.
Para Malpass, há falta de alimentos e fertilizantes e aumentar oferta de suprimentos em países além da Rússia será importante neste momento de possível recessão global. “Infelizmente, até o momento não houve muitos avanços nesta área. Se governos anunciarem que irão aumentar oferta, isso afetaria as expectativas de inflação”. Além disso, segundo ele, os lockdowns na China para tentar conter a Covid-19 foram negativos para a economia global, uma vez que também interferiram nas cadeias de suprimento.
Ainda na visão do dirigente, a solução que poderia ajudar no controle da inflação seria o estabelecimento de políticas fiscais e monetárias e, pelo lado fiscal, seria necessário tentar fazer com que a demanda fosse desestimulada.
“Alguns dos principais bancos centrais mudaram sua política”, afirmou Malpass, apontando que o sistema de governança global hoje possui mais condições de realizar suas ações. “Bancos centrais devem usar todas as suas ferramentas para derrubar a inflação”, concluiu.
Alta dos preços dos alimentos avançou 10% no mundo na comparação anual
Cálculos do BNP Paribas mostram que, no primeiro trimestre deste ano, a inflação dos alimentos nas nações em desenvolvimento avançou 10% na comparação anual, acima da alta de 5,5% da inflação mais ampla. Os países emergentes são os mais afetados pela escalada de preços, mesmo aqueles que produzem alimentos em grande escala, como é o caso do Brasil.
Esses se equiparam, e até ultrapassam, os valores registrados entre 2007 e 2008, período de uma grave crise alimentar enfrentada no mundo.
Na avaliação do BNP Paribas, a inflação dos alimentos deve se manter como uma preocupação no mundo. “Na verdade, vemos os preços subindo ao longo do segundo e terceiro trimestres na maioria dos principais mercados emergentes, com insumos mais caros elevando a inflação de bens e os preços das commodities agrícolas mais altos mantendo os preços dos alimentos pressionados”, indica o documento de análise do banco.
América Latina apresenta maior vulnerabilidade
Para o BNP Paribas, os países da América Latina estão em situação de maior vulnerabilidade, por terem maior exposição à variação de preços e menores chances de receberem subsídios dos governos.
O documento do banco analisa que “a maioria dos países emergentes tem espaço limitado para subsídios às famílias em resposta aos preços mais elevados dos alimentos, com muitos governos tentando reduzir seus déficits fiscais. É o caso de grande parte da América Latina, em particular, onde os países enfrentaram pressões de preços de alimentos já antes da guerra”.
O banco ainda descreve que a América Latina é também onde há maior risco de agitação social, principalmente, no Chile e na Colômbia, onde protestos já foram registrados recentemente.
Para o Brasil, o BNP vê riscos de agitação social antes das eleições de outubro, devido à polarização política.
Redação ICL Economia
Com informações do Estadão Conteúdo e demais agências