Tanque de gasolina no Brasil tem o maior peso em relação ao salário mínimo na comparação com outros países

Nos últimos 12 meses, a alta da gasolina foi de 28%, segundo dados da ANP
3 de junho de 2022

Artigo de Deborah Magagna*

O preço dos combustíveis tem sido um dos grandes responsáveis pela inflação brasileira. Na última divulgação do Índice de preços ao consumidor, o IPCA, pelo IBGE, os combustíveis apresentaram elevação de 3,2%, sendo que a gasolina subiu 2,48%, o etanol 8,44%, o óleo diesel 4,74% e o gás veicular 0,24%. Mas não somente no IPCA a alta é observada: nos postos de gasolina brasileiros, a alta no preço dos combustíveis também é nítida. Segundo a ANP, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o preço da gasolina comum ao consumidor apresentou alta de 9,77% apenas entre janeiro e maio de 2022. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 28%, ainda segundo dados da agência.

O preço dos combustíveis também tem sido alvo de disputas entre o governo e a cúpula da Petrobras. Para evitar maiores atritos com acionistas da companhia, o governo tem sido resistente em modificar a política de precificação adotada pela Petrobras desde 2016, na qual as flutuações do preço do petróleo no mercado internacional são repassados aos preços dos combustíveis no país. O PPI, como ficou conhecido, trouxe a volatilidade dos preços negociados no mercado para nossos preços domésticos e os deixou mais suscetíveis a oscilações cambiais, uma vez que estes preços são negociados em dólar.

A relação entre o governo e a Petrobras tem se mostrado cada vez mais fragilizada e instável à medida em que a direção é trocada em meio aos desentendimentos. A demissão do terceiro presidente da companhia durante o governo, após apenas 40 dias no cargo, evidenciou essa fragilidade.

O aumento dos preços, no entanto, tem sido um dos muitos fatores de desaprovação do governo atual, que vem buscando formas, como a redução da alíquota do ICMS, para a diminuição dos preços ,ou pagamento de auxílios para combustíveis em ano eleitoral . O mesmo governo, porém, fecha os olhos para a política de precificação da Petrobras, que tem sido um dos maiores fatores de elevação dos preços.

Preço da gasolina e o salário mínimo no Brasil e no mundo

Um recente estudo da Bloomberg mapeou o custo de um tanque de combustível e sua equivalência ao salário mínimo em diversos países. Para a comparação foi considerado o custo de um tanque de 55 litros e o custo médio de 1 litro de gasolina ao consumidor.

Foi constatado que, no Brasil, esse custo consome um terço do salário mínimo atual. Entre os países observados, o Brasil liderou o custo do tanque em relação ao salário mínimo. Considerando o preço médio ao consumidor de maio de R$ 7,283, divulgado pela ANP, e um tanque de 55 litros, em nosso país, o custo de um tanque cheio de gasolina comum foi de cerca de R$ 400,00, o que atualmente equivale a 33% do salário mínimo brasileiro (R$ 1.212). Nos Estados Unidos, onde foi observado o menor percentual, a equivalência foi de 6%.

O gráfico evidencia que, no Brasil, a atual política de preços, que norteia o custo dos combustíveis, favorece apenas os acionistas da Petrobras e penaliza o trabalhador brasileiro em sua frágil posição, especialmente em relação à sua renda, que tem se deteriorado dia após dia.

*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais

 

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