A inflação deve chegar a 8,89% em 2022 e a 4,9% em 2023, de acordo com o Relatório Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda (6). A estimativa de mais de 100 instituições financeiras consultadas pelo BC indica uma alta de 1,00 e 0,29 ponto percentual em relação ao último boletim completo, publicado em 2 de maio.
Devido à greve dos servidores do Banco Central, a publicação semanal do Relatório Focus tem sido afetada. O último relatório Focus foi divulgado há cinco semanas e projetava uma inflação de 7,89% para este ano e de 4,10% para 2023.
Isso mostra que o mercado está com uma expectativa em relação ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2022 muito acima da meta, que é de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja: a meta será cumprida se o índice ficar entre 2% a 5%). A elevação das pressões inflacionárias vindas dos combustíveis e os resultados da inflação de abril aumentaram a expectativa do nível de preços para este ano.
Já para o próximo ano, a projeção de 4,39% se aproxima do teto da inflação que é de 3,25% com tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja: a meta será cumprida se o IPCA do próximo ano ficar entre 1,75% a 4,75%).
O Relatório Focus divulgado nesta segunda também revela que as instituições financeiras consultadas projetam um crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022 e 0,76% para 2023 (uma alta de 0,5 ponto percentual para este ano, mas uma queda de 0,24 para o próximo). A influência da divulgação de dados sobre os componentes do PIB e do próprio PIB do primeiro trimestre acabou influenciando positivamente a perspectiva relativa ao crescimento econômico deste ano.
O mercado sinalizou aceitar que o ciclo de aperto monetário deve se encerrar na próxima reunião do Copom, pois manteve a Selic para o final do ano em mesmo patamar de mais de um mês atrás. As instituições financeiras estimam uma taxa básica de juros de 13,25% ao ano no fim de 2022 (estabilidade em relação à última pesquisa completa) e de 9,75% no fim de 2023 (uma alta de 0,5 ponto percentual).
Em relação à taxa de câmbio, ocorreu um leve aumento nas previsões de 2022 e 2023. O mercado
estimou que em ambos os anos o nível cambial deve ficar em R$ 5,05, aumento de R$ 0,05 em 2022 e de R$ 0,01 para 2023. Com uma Selic alta e turbulências maiores, que podem ocorrer no período eleitoral, o mercado acredita que a taxa deve ficar mais elevada do que o estimado anteriormente.
A economista do ICL Deborah Magagna explica que o Relatório Focus é também uma maneira de o mercado pressionar a equipe econômica. “O que chama a atenção são as projeções para 2023. A gente já vê o mercado financeiro pressionando, querendo colocar seu ponto de vista para a equipe econômica do próximo governo”, alerta Deborah.
Para ela, depois de um longo período sem divulgação do Relatório Focus, ele voltou dando recados claros de como o mercado acredita que vá ser um possível governo Lula, atual favorito na disputa eleitoral. “Além disso, o entusiasmo pela economia em 2022 voltou a ser preponderante. Ainda assim, o mais grave dos problemas econômicos continuou em uma escalada perigosa, a inflação cada vez mais alta e se aproximando de algo inédito desde o começo do Plano Real, dois anos seguidos acima de 2 dígitos”, concluiu a economista.
Greve no BC afeta divulgação do Relatório Focus
O Banco Central informou na sexta-feira (3) que faria uma “atualização parcial” do Focus nesta segunda, apesar da greve dos servidores, que pedem reajuste salarial de 27%. A paralisação dos servidores do BC começou em 1º de abril e chegou a ser suspensa entre 20 de abril e 2 de maio, para negociações com a diretoria do BC e o governo federal, mas como não houve acordo o movimento foi retomado.
Uma nova reunião na noite de sexta-feira (3) entre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e sindicatos terminou sem avanço. Por isso, o presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Fábio Faiad, afirmou que a greve irá continuar por tempo indeterminado.
Outras categorias estão mobilizadas. Tudo começou quando Jair Bolsonaro anunciou reajuste salarial apenas para policiais, que seriam peça-chave na reeleição do presidente.
Com a insatisfação do funcionalismo, que sequer teve o reajuste para recompor as perdas da inflação, Bolsonaro chegou a cogitar um aumento linear de 5%, que desagradou a todos, inclusive ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que o gasto não caberia no Orçamento.
Agora, voltou ao debate a possibilidade de aumentar o vale-alimentação para os servidores no lugar do reajuste linear. Enquanto isso, categorias seguem mobilizadas.
Redação ICL Economia
Com informações das agências