A perda de rendimento afetou tanto a população com menor renda quanto os mais ricos em 2021, mas foi mais intensa para os brasileiros mais pobres, indica pesquisa divulgada nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Conforme o levantamento, que vai além do mercado de trabalho e também analisa outras fontes de recursos, incluindo programas sociais, os 5% mais pobres da população tiveram queda de 33,9% no rendimento médio de 2020 para 2021. A baixa nesta faixa é a mais intensa entre 13 classes pesquisadas pelo IBGE. Todas elas amargaram recuos na comparação dos dois últimos anos, sinaliza o instituto.
Somando as 13 classes pesquisadas pelo IBGE, a massa de rendimento mensal real domiciliar per capita, incluindo a remuneração das famílias, do trabalho, de fontes formais e informais, apoios pagos pelo governo, como bolsas e aposentadoria, totalizou R$ 287,703 bilhões em 2021, R$ 19,150 bilhões a menos que os R$ 306,853 bilhões registrados em 2020, queda de 6,2%.
Pesou muito nesta redução o alcance e o valor do Auxílio Emergencial pago pelo governo aos mais vulneráveis. O porcentual de domicílios com alguém recebendo “Outros programas sociais”, categoria que inclui o Auxílio Emergencial, caiu de 23,7% em 2020 para 15,4% em 2021, enquanto a proporção de domicílios com beneficiários do Bolsa Família aumentou apenas de 7,2% para 8,6%.
Na passagem de 2020 para 2021, todas as regiões viram encolher a massa de rendimento domiciliar per capita mensal, com destaque para o tombo de 12% registrado no Nordeste.
No total da população, os 10% mais pobres detinham apenas 0,7% da massa de renda em circulação na economia, enquanto que o grupo dos 10% mais ricos concentravam 42,7% do bolo.
“Além disso, cabe destacar que este último grupo possuía uma parcela da massa de rendimento maior que a dos 80% da população com os menores rendimentos (41,4%)”, apontou o IBGE.
Na classe dos 5% mais pobres, de 2020 para 2021, eles viram o rendimento médio domiciliar per capita recuar de R$ 59 para R$ 39 por mês. Vem dessa comparação a queda de 33,9%. A renda domiciliar per capita corresponde ao ganho total dividido pela quantidade de pessoas em cada residência.
A segunda perda mais intensa foi sentida pela camada que envolve os brasileiros com a segunda menor renda média. Trata-se da classe da população com rendimento de 5% a 10% mais baixo. Nessa faixa, a renda despencou 31,8%, de R$ 217 para R$ 148, na passagem de 2020 para 2021.
Os dados integram a Pnad Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2021. Além dos ganhos com o trabalho e programas sociais, o estudo também analisa fontes de renda como aposentadorias, pensões e aluguéis.
Inflação alta, de 2020 a 2021, também perda do rendimento dos mais pobres
Segundo a pesquisadora Alessandra Brito, do IBGE, a inflação alta foi responsável por provocar perdas generalizadas entre os brasileiros no ano passado. Os cálculos do estudo levam em consideração esse aumento dos preços.
A redução ou o fim de programas de auxílio e transferências gerou quedas mais intensas entre os mais vulneráveis, aumentando a carência por comida e fome. Entre eles, está o Auxílio Emergencial, criado em 2020, ano inicial da pandemia. A medida foi encerrada em 2021. Quando começou a ser tirado, ao longo de 2021, afetou bastante essa população que precisa do recurso.
Na comparação com 2012, ano inicial da série histórica do IBGE, a renda média per capita dos 5% mais pobres despencou 48% em 2021. Ou seja, caiu quase pela metade, de R$ 75 para R$ 39. A baixa também foi a mais intensa da pesquisa.
Na outra ponta, o 1% da população com maior rendimento registrou perda de 6,9% no mesmo período. A renda da camada mais rica passou de R$ 17,1 mil em 2012 para os R$ 15,9 mil de 2021. A perda desse grupo pode ser amenizada ou compensada, por exemplo, com investimentos financeiros.
De acordo com o IBGE, as pessoas que faziam parte do 1% mais rico receberam, em média, no ano passado, 38,4 vezes a renda da metade da população com os menores rendimentos, cuja média foi de R$ 415.
Essa diferença mostrou a trajetória de redução de 2012 (38,2 vezes) até 2014 (33,5 vezes). Depois, voltou a crescer, até alcançar o pico da série histórica em 2019 (39,8 vezes), no pré-pandemia.
No início da crise sanitária, em 2020, a razão diminuiu para 34,8 vezes, sob efeito das alterações ocorridas na composição do rendimento domiciliar, que teve incremento de outras fontes de renda, como o auxílio emergencial. Com o fim dessas medidas, e a recuperação incompleta do mercado de trabalho, a disparidade voltou a subir.
A Pnad Contínua com recorte trimestral, também divulgada pelo IBGE, tem foco no mercado de trabalho. O estudo anual, cuja edição mais recente foi apresentada nesta sexta, possui olhar mais amplo para as demais fontes de renda.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias