A fatia de 54,4% dos trabalhadores no Brasil, em maio, teve reajuste do salário abaixo da inflação, ou seja, teve perda real de salário. Em 32,1% das negociações, o resultado do reajuste do salário foi igual à perda salarial passada. Apenas 13,4% das negociações tiveram ganhos reais de salário, com reajuste acima da inflação, segundo levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Para o economista do ICL André Campedelli, essa o reajuste do salário se soma a outra problemas econômicos, como a inflação. “Os resultados mostram mais uma vez uma situação de fragilidade da classe trabalhadora, que está vendo seu salário sendo corroído não somente pela inflação, mas pelo reajuste inadequado de seus rendimentos. Neste momento, o trabalhador tem pouco poder de barganha, por conta do alto número de desempregados no País, somada à desorganização trabalhista após a reforma”, explica Campedelli.
Para os 13,4% dos trabalhadores que conseguiram negociar o percentual acima da inflação, houve uma pequena melhora, se comparado ao mês anterior. Ainda assim, foi o mês com maior porcentagem de trabalhadores com perda real desde junho de 2021.
O levantamento mostra que a queda da renda média real do trabalhador acelerou neste momento, se considerada a queda na renda média real do trabalhador brasileiro em maio, de 1,28%, ante uma queda de 0,76% no mês anterior.
“É resultado direto da elevada porcentagem de trabalhadores com perda real de salário no mês, combinada com a elevada inflação. Isso está corroendo o poder de compra do brasileiro, fazendo com que a queda da renda média real do trabalho seja inevitável”, afirma Campedelli.
Em abril, apenas 8% dos trabalhadores do País tiveram reajuste do salário acima da inflação. Para 46% dos trabalhadores, o reajuste salarial cobriu somente as perdas inflacionárias medidas pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). A outra fatia de 46%, o reajuste ocorrido ficou abaixo da inflação, com perda real de salário.
Com a inflação mais amena em maio, ocorreu a primeira queda do reajuste necessário do salário nas negociações em 2022, que saiu de 12,47% para 11,9%.
A alta inflação acaba também prejudicando o poder de barganha dos trabalhadores, sendo difícil conseguir um reajuste mais elevado, mesmo que justo, quando este realiza duas negociações com o seu patrão.
Região Centro-Oeste tem o pior reajuste do salário em maio, enquanto que a região Sudeste apresenta o melhor reajuste salarial
A disparidade entre os resultados apurados por região geográfica continua evidente no Brasil. A região Centro-Oeste continua tendo a pior situação para o trabalhador neste ano, pois somente 12,1% das negociações salariais resultaram em reajuste acima da inflação, o valor mais baixo entre todas. Além disso, a região também possui a maior porcentagem de trabalhadores com reajuste abaixo da inflação do Brasil, de 67,2%.
Na sequência, está a região Norte, com 15,9% dos trabalhadores tendo reajuste acima da inflação e 57,6% tendo reajuste abaixo da inflação. Na região Nordeste, com 16% dos reajustes acima da inflação e 54,2%, abaixo da inflação. A região Sudeste possui a melhor parcela de reajuste acima da inflação no ano, de 30,2%. Mas a região Sul é aquela que possui a menor parcela de reajustes abaixo da inflação, de apenas 26,7%.
Por atividade econômica, em 2022, no comércio, 33% das negociações salariais tiveram reajuste abaixo da inflação, seguido pela indústria, com 37,2% das negociações com reajuste abaixo da inflação e o setor de serviços, com 51,6% das negociações perda de salário real.
O setor industrial registrou o melhor ganho real de salário, com 27% das negociações com reajuste acima da inflação, enquanto que, no segmento de serviços, apenas 22,1% das negociações tiveram ganho real de salário. No comércio, houve o pior resultado, com apenas 15,8% dos reajustes acima da inflação.
Redação ICL Economia
Com informações do Dieese