O combate à fome tem sido um tema constante em entrevistas e debates durante a campanha eleitoral. Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem negado a questão da fome no país. Ao contrário do que disse o presidente, inclusive durante o debate entre presidenciáveis do último domingo (28), dados de diferentes fontes mostram que houve, de fato, um aumento da fome no Brasil. São 33 milhões de pessoas que não conseguem manter acesso pleno à alimentação, segundo apontou a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan —um patamar semelhante ao que havia sido registrado há três décadas.
Por outro lado, na estreia do programa eleitoral na televisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu que “a vida do povo vai melhorar” caso ele seja eleito para um 3º mandato presidencial. O petista focou sua fala no aumento da fome no país, e disse que as famílias sofrem com “preços que não param de subir”. E ainda questionou o governo: “Como pode um governante não se importar com o sofrimento de tanta gente?”. Ao longo da pré-campanha, o petista havia criticado o mandatário reiteradamente por não ter visitado vítimas da covid-19 e por desdenhar do aumento da pobreza no País.
A campanha do ex-presidente Lula pretende focar em temas relacionados ao combate à fome e à pobreza por meio de medidas econômicas.
Ele pretende relembrar programas e enfatizar que o combate à fome foi o primeiro compromisso assumido por ele assim que se tornou presidente da República, em 1º de janeiro de 2003. A partir daquele momento, o governo começou a trabalhar para garantir duas coisas, essencialmente: 1) que o pequeno e médio agricultor, que, de fato, produzem os alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, tivessem apoio e jamais houvesse escassez de comida; e 2) que a população mais pobre tivesse renda suficiente para comprar esse alimento.
“As pessoas pensam que o sucesso da nossa política de inclusão foi apenas o benefício do Bolsa Família. Não foi. Foi o Bolsa Família; o aumento sistemático e anual do salário mínimo; foi a criação de política para ajudar o pequeno e médio agricultor, que é responsável pela produção de 60% a 70% do alimento que chega à nossa mesa; foi a combinação do auxílio com a necessidade de as crianças estarem na escola, tomarem vacina e de as mulheres grávidas fazerem o pré-natal”, disse Lula em uma entrevista para uma rádio.
Pesquisas comprovam que combate à fome deve estar na pauta do próximo presidente
A falta de comida e a carestia dos alimentos se tornou um assunto corriqueiro para os brasileiros, e algumas pesquisas recentes ajudam a quantificar o problema.
Além do relatório da Rede Penssan, pesquisa Datafolha feita de forma presencial nos dias 27 e 28 de julho apontou que um em cada três brasileiros afirmava que a quantidade de comida em casa nos últimos meses não foi suficiente para a sua família.
Segundo o levantamento, o percentual de lares com uma quantidade insuficiente de comida subiu de 26% em maio para 33% em julho. Outros 12% dizem que foi mais que suficiente, mesmo percentual nas duas pesquisas. Para 55%, a comida foi o suficiente -queda em relação aos 62% de maio.
Um relatório das Nações Unidas de julho também se ocupou do tema e concluiu que, no Brasil, 61,3 milhões (cerca de 3 em cada 10 habitantes) convivem com algum tipo de insegurança alimentar, sendo que 15,4 milhões se encontravam em insegurança, passando fome, no período de 2019 e 2021.
Pelos países com dados comparáveis relacionados pela ONU, o Brasil é o que tem mais pessoas em algum grau de insegurança alimentar (moderada ou grave) nas Américas e o quinto no mundo, no período. O relatório também aponta um aumento significativo na comparação com o período de 2014 a 2016, quando 37,5 milhões passavam por algum nível de insegurança alimentar e 3,9 milhões enfrentavam o nível grave.
Embora essas pesquisas tratem do mesmo tema, as metodologias são diferentes, o que impede a comparação entre elas. A pesquisa da Rede Pensann é uma amostra de domicílios usando quatro categorias de gravidade da insegurança alimentar: segurança alimentar, insegurança alimentar leve, insegurança alimentar moderada e insegurança alimentar grave.
Já a do Datafolha é uma amostra com a população brasileira adulta (16 anos ou mais). Outro ponto é que, no Datafolha, a resposta se dá pelo que o entrevistado entende por “falta de comida”, em uma única pergunta.
A estimativa da ONU, por sua vez, é baseada na Escala de Experiência de Insegurança Alimentar e considera duas categorias: insegurança alimentar moderada ou grave (combinada) e apenas insegurança alimentar grave.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias