Para FUP, redução de preço do gás neste momento é mero cálculo eleitoreiro

Em junho, a Petrobras já poderia ter reduzido o preço do gás de cozinha. Só faz agora, segundo os petroleiros, por mero cálculo eleitoreiro
13 de setembro de 2022

A pouco mais de duas semanas das eleições, a Petrobras anunciou nesta segunda-feira (12) redução de 4,7% no preço do gás de cozinha. A redução no custo do botijão de 13 quilos, que vale a partir de hoje, é de R$ 2,60. Assim, o preço do botijão nas distribuidoras passa de R$ 54,94 para R$ 52,34, em média. No entanto, em janeiro de 2019, o botijão custava R$ 25,24. Ou seja, durante o governo Bolsonaro, o combustível registrou alta de 117,6%, até o mais recente reajuste.

Não é à toa que, como explica o economista do Observatório Social da Petrobras, Eric Gil Dantas,  “entre os anos de 2013 e 2016, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a população consumia mais GLP do que lenha. Mas, a partir de 2017, a lenha voltou a ser mais utilizada do que o gás de cozinha nas residências do país. E, em 2020, esse consumo já era 7% maior do que o de GLP”.

Já o preço do gás de cozinha ao consumidor teve alta de 28% nos últimos 12 meses, apontado como um dos principais vilões da inflação. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam que o preço médio do botijão de 13 kg saltou de R$ 87,43 em junho de 2021 para R$ 112,55 no mesmo mês deste ano. No ano passado, o gás de botijão teve aumento ainda maior, de 36,99%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE.

Como ocorreu com a gasolina e o diesel, as altas do gás nesse período decorrem da política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que a Petrobras adota desde outubro de 2016. A companhia repassa as variações do petróleo no mercado internacional – com cotação em dólar – diretamente ao consumidor brasileiro. Além disso, o PPI também considera custos de logística para importação que são inexistentes. Tal política beneficia principalmente os acionistas da Petrobras e empresas importadoras de combustíveis, em detrimento da maioria da população.

Nesse sentido, a Petrobras também atribui a redução recente no gás de cozinha à queda do preço do petróleo no mercado internacional. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), entretanto, contesta essa afirmação. Isso porque o barril de petróleo tipo brent (referência internacional), que era negociado no início de junho a USS$ 123, caiu para os atuais US$ 94, redução de 23% no período. Assim, a Petrobras já poderia ter reduzido anteriormente o preço do gás de cozinha. Ela o faz só agora, segundo os petroleiros, por mero cálculo eleitoreiro.

Preço do gás aumentou mais de 100% durante o governo Bolsonaro, enquanto o salário mínimo é reajustado sem ganho real

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Crédito: Agência Brasil / Fernando Frazão

Na opinião do coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, a gestão da Petrobras virou instrumento de campanha política às vésperas das eleições, passando a reduzir o intervalo de rebaixamento dos preços dos combustíveis devido à pressão do calendário eleitoral. A queda no preço do gás de cozinha segue essa estratégia. A menos de vinte dias do pleito, o governo corre atrás do prejuízo, depois de três anos e oito meses de altas recordes nos preços dos derivados, reajustados com base na equivocada política de preço de paridade de importação (PPI).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer começar a modificar a atual política de preços dos combustíveis, praticada pela Petrobras, reduzindo o preço do botijão de gás, o chamado GLP, ao patamar de R$ 70 ainda nos primeiros meses de 2023, caso vença as eleições para presidente da República.

Segundo Deyvid Bacelar, os mais pobres são os principais afetados pela alta do preço do gás. Nos últimos tempos, as famílias chegam a trocar o gás de cozinha por lenha ou álcool, causando prejuízos à saúde e acidentes, muitas vezes fatais. Além disso, ele lembra que, enquanto o preço do botijão aumentou mais de 100% durante o governo Bolsonaro, o salário mínimo subiu 21,4%. Sem ganho real, apenas corrigido pela inflação dos últimos anos, os que ganham o mínimo viram seu poder de compra ser esmagado nesse período. Apesar dos esforços, a medida deve ter pouco efeito na inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).


Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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