O governo Bolsonaro criou uma nova forma de negacionismo no país. Depois de negar a Ciência, a vacina, a terra redonda e o desmatamento da Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, tem negado a existência da fome no Brasil e, agora, é seguido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o “posto Ipiranga” que tem sido usado como cabo eleitoral do mandatário do país.
Ontem (21), no mesmo dia em que o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, considerada a mais alta do mundo, Guedes falou, durante participação em evento do setor automotivo em São Paulo, ser impossível que o Brasil tenha 33 milhões de pessoas passando fome, conforme mostram dados da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).
Desse modo, Guedes imita o chefe, que também já negou em entrevistas que haja 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil e foi questionado sobre isso pelo candidato Ciro Gomes (PDT) no primeiro debate eleitoral transmitido pela TV Bandeirantes.
No evento de ontem, o ministro defendeu que, na comparação com outras grandes economias, o desempenho brasileiro está melhor. “Isso são fatos econômicos, não adianta. A tática política é de barulho: 33 milhões de pessoas passando fome. É mentira, é falso. Não são esses os números.” Porém, Guedes não disse quais seriam os números corretos, na avaliação dele.
A exemplo do que mostra a pesquisa da Rede Penssan, outro levantamento, feito pelo Datafolha, também mostrou que um em cada três brasileiros disse não ter comida suficiente em casa nos últimos meses. O percentual de pessoas com comida insuficiente passou de 26% em maio para 33% em julho.
Mas, no mundo maravilhoso de Paulo Guedes, a realidade não é essa. Aos representantes da cadeia automotiva, ele disse que os programas de transferência de renda do governo federal têm garantido o consumo das famílias. “Elas estão recebendo três vezes mais do que recebiam antes. E, mesmo que tenha tido inflação e aumento de preço, não multiplicou por três, então o poder de compra está mais do que preservado”, afirmou.
Para o economista Eduardo Moreira, Guedes fala que fome no Brasil é mentira porque não tem ideia do que seja isso
Na edição desta quinta-feira (22) do ICL Notícias, programa diário no YouTube, o economista Eduardo Moreira criticou a falta de Paulo Guedes, dizendo que, ao negar a fome no Brasil, o ministro deixa claro que “não tem ideia” do que seja enfrentar esse problema. “Ele diz isso para uma plateia de ricos, que também não têm ideia do que seja isso”, criticou.
Ainda que se possa questionar o conceito do que passar fome significa, Moreira lembrou que os dados foram levantadas por instituições sérias e mostram um retrato de um problema muito grave na sociedade brasileira. “São 33 milhões de pessoas passando fome e 125 milhões enfrentando algum tipo de insegurança alimentar, ou seja, são pessoas que não são atendidas em sua carência nutricional. Guedes deveria olhar para dados como esses e dizer ‘caramba! temos um Portugal ou um Chile no Brasil, que passa por alguma coisa chamada de insegurança alimentar grave'”, pontuou.
À plateia do evento do setor automotivo, Guedes também disse que as políticas atuais de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, correspondem a 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto), e que antes esse percentual era de 0,4%. “Nós estamos transferindo três vezes mais recursos para os frágeis”, disse, frisando ainda que o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza vem caindo no Brasil, enquanto cresce no resto do mundo.
A fala de Guedes converge com estudo publicado pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Erik Alencar de Figueiredo, em agosto. A publicação, criticada por servidores do órgão e por especialistas, defende que um aumento no número de brasileiros com fome deveria ter resultado em um “choque expressivo” no aumento de internações por doenças decorrentes da desnutrição. Vale lembrar que Figueiredo foi subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo