Na sexta-feira passada (30), foi divulgada a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), mostrando que a taxa de desemprego no Brasil recuou para 8,9% no trimestre encerrado em agosto, a menor desde 2015. Por seis anos, esse indicador ficou acima de dois dígitos. Porém, quando se olha racionalmente os números do desemprego, o que parece bom desvela uma realidade bastante cruel de nosso mercado de trabalho, um problema que deverá ser encarado de frente pelo futuro governante do Brasil. O mesmo acontece quando olhamos com mais cuidado para a deflação, taxa básica de juros e o PIB (Produto Interno Bruto).
A taxa de desemprego caiu abaixo dos dois dígitos pela primeira vez em maio. Mas, de acordo com artigo do portal de notícias G1, o problema é que, ao lado do índice de desemprego, também tem caído o rendimento médio habitual do trabalhador brasileiro, que chegou a R$ 3 mil naquele ano e hoje está em R$ 2.713.
Além da queda na remuneração, a qualidade do emprego também diminuiu. No trimestre encerrado em agosto, segundo o artigo, o número de trabalhadores sem carteira assinada bateu recorde: 13,16 milhões de pessoas. Outras 4,37 milhões eram empregados domésticos, também sem carteira.
Ou seja, são quase 20 milhões de brasileiros sem direitos trabalhistas, na taxa do desemprego. Se somarmos os trabalhadores por conta própria sem CNPJ, esse volume cresce para quase 40 milhões de pessoas na informalidade.
Nesse contingente, há os que não tem outra opção, mas também há os que preferem trabalhar dessa forma para não ter que pagar imposto, o que esconde outra realidade perversa. O trabalhador prefere ficar na informalidade, sem direito a férias, décimo-terceiro salário e seguro-desemprego, porque o salário não dá conta de pagar todas as despesas. Então, quanto mais sobra, melhor.
Além do desemprego no Brasil, números da economia também escondem dados não mostrados pelo atual governo
Desde o início da campanha eleitoral, o governo Bolsonaro tomou medidas eleitoreiras para esquentar dados econômicos, os quais, se ampliados com lupa, não refletem a realidade que o governo quer vender como boa.
A desoneração dos combustíveis, do transporte coletivo, da energia elétrica e da comunicação, com o objetivo de reduzir os impactos desses serviços na inflação, além de ser ineficaz, traz prejuízos econômicos a estados e municípios e, consequentemente, para toda a sociedade, conforme concluiu estudo elaborado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que se debruçou sobre a Lei Complementar 194/2022, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em junho passado.
De fato, a desoneração impactou na inflação. O IPCA-15 ficou negativo por três meses consecutivos. Porém, quando se tira a influência da gasolina, a direção se inverte. Isso porque os alimentos ainda acumulam forte alta em 12 meses.
No que se refere aos juros, a mesma coisa. O Banco Central interrompeu a alta da Selic, que está a 13,75% ao ano, mas ela continua sendo a maior taxa de juros reais do mundo.
Estudo da MoneYou e pela Infinity Asset Management, divulgado em agosto passado, mostrava que os juros reais (descontada a inflação) do Brasil atingiram 8,52% ao ano, ou seja, mais que o dobro da taxa mexicana, de 4,20%.
Com o PIB é a mesma coisa. O BC estima alta de 2,7% para o crescimento da economia este ano – mas de apenas 1% no próximo, ou seja, abaixo dos 3,6% esperados para o mundo, e dos 4,4% esperados para o conjunto dos países emergentes.
Segundo o artigo do G1, esses dados todos mostram que “olhar para um dado puro não mostra o retrato do todo” e que, embora a economia brasileira venha, de fato, registrando avanços, estes não atingem todos os brasileiros da mesma forma.
Redação ICL Economia
Com informações do portal de notícias G1