O ministro da Economia, Paulo Guedes, nunca escondeu sua aversão aos pobres. A aporofobia de do ministro foi demonstrada quando ele falou que as empregadas iam para a Disney quando o dólar estava baixo, “uma festa danada”, nas palavras dele. A lista de grosserias endereçada aos inimigos de Guedes, doutor pela Universidade de Chicago (EUA), é tão vasta quanto a do presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, nos dias que podem ser os últimos do atual governo, Guedes tem se debruçado na execução de um pacote de maldades para um eventual segundo mandato.
Na semana passada, foi vazado na imprensa um projeto do ministro de desindexar o reajuste do salário mínimo pela inflação passada, o qual passaria a ser reajustado pela inflação projetada, percentual que, hoje, representa cerca da metade da inflação real. A princípio, ele desmentiu, mas depois confirmou realmente a existência do plano. O que isso significa? Que, caso seja aprovado, quem recebe o salário mínimo no Brasil, um universo de cerca de 30 milhões de pessoas, perderá ainda mais o poder de compra.
Nesta terça-feira (25), reportagem publicada no jornal O Estado de S.Paulo mostra que Guedes planeja outro golpe, desta vez na classe média. A equipe econômica prepara um projeto que prevê decretar o fim dos descontos dos gastos com saúde e educação do IRPF (Imposto de Renda Pessoa Física). Por ora, o ministro negou que isso seja verdade, mas a reportagem do jornal obteve com exclusividade cópia do documento.
Na edição do ICL Notícias de hoje, programa diário no YouTube, o economista Eduardo Moreira explicou os motivos pelos quais Paulo Guedes não gosta de pobres, aposentados e dos servidores, a quem já chamou de vagabundos. No programa, Moreira exibiu declarações do ministro, facilmente obtidas na internet, em que ele aparece todo meigo pedindo, em uma transmissão via redes sociais, que o trabalhador e o aposentado “confiem no presidente”.
A fala de Guedes foi uma resposta às repercussões negativas ao projeto de desindexação do reajuste do mínimo pela inflação passada. Isso porque a notícia caiu como uma bomba no colo da equipe da campanha de Bolsonaro, que aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenções de votos para o segundo turno, que acontece no próximo domingo.
Falando em bomba, Eduardo Moreira mostrou no programa de hoje um trecho da famigerada reunião de 22 de abril de 2020, ocasião em que Guedes fala em jogar uma bomba no bolso do servidor enquanto estiver dando um abraço nele. Além disso, o ministro fez uma fala grosseira dizendo “deixa cada um se f***r como quiser” e lembra dos dois anos sem reajustes nos salários dos servidores.
Inimigos de Guedes “roubam” uma parte do orçamento que ministro queria dar aos ricos
Para Moreira, Guedes não gosta do grupo dos três – pobres, aposentados e servidores – porque eles roubam boa parte dos recursos do orçamento que ele gostaria de dar à turma do mercado financeiro.
Sobre a fala do ministro feita na reunião, de jogar uma granada no bolso do servidor, Moreira disse que a postura de Guedes é de extrema perversidade. “Você consegue imaginar uma cena mais perversa e traíra do que você dar um abraço e jogar uma granada no bolso (da outra pessoa)? Ele pensa assim! Tem que ser muito mau para fazer isso. Agora, sabe por que ele faz isso? Porque o Orçamento público é o dinheiro que o governo colhe com os impostos das pessoas e tem que pegar esse dinheiro e fazer coisas em benefício de todos”, disse.
Segundo Moreira, está na Constituição que se deve redistribuir renda para ter uma sociedade menos desigual. A carga tributária do país, na avaliação do economista, nem é das mais altas (32%, em média), mas o problema no Brasil é de quem se tira e para quem se dá a riqueza gerada. .
“No Orçamento de 2022, de um total de R$ 4,7 trilhões, usamos boa parte para pagar os juros e a amortização da dívida pública. São R$ 2,4 trilhões indo para as cem mil pessoas com mais dinheiro nos bancos, que têm mais dinheiro juntas que as cem milhões de pessoas com menos dinheiro nos bancos. Ou seja, o 0,1% mais rico tem mais do que os 90% mais pobres nos bancos. Os mais ricos têm R$ 1,7 trilhão contra 1,5 trilhão dos mais pobres”, disse o economista.
De acordo com Moreira, como Guedes é o representante da turma dos ricos, ele faz manobras orçamentárias e projetos para dar mais dinheiro a eles. “E de onde dá para tirar (esse dinheiro do orçamento)? São três linhas: educação, saúde e Ministério do Trabalho e Previdência Social. Você acha que é à toa o ataque do Guedes à saúde, à educação e aos aposentados? Por que ele quer acabar com a educação pública e colocar o voucher para você ter que ir para a educação privada? A Constituição obriga nos artigos 198 e 212 o mínimo de gasto com educação e saúde e ele quer tirar esse mínimo”, criticou Moreira.
O economista ainda lembrou que o orçamento do Ministério do Trabalho e Previdência é de R$ 890 bilhões, um universo de 30 milhões de pessoas. “Só que esse valor é um pai de família que recebe e ele cuida de três, quatro pessoas. As estimativas são de que esse universo é de 70 a 100 milhões de brasileiros diretamente impactados, ou seja, um número infinitamente maior do que as 100 mil pessoas que o Guedes pensa diuturnamente em beneficiar”, comparou.
Planos de Guedes ganham destaque às vésperas do 2º turno e viram pesadelo de Bolsonaro
Os projetos para o salário mínimo e, agora, para decretar o fim dos descontos dos gastos com saúde e educação do IRPF viraram o pesadelo da campanha de Jair Bolsonaro às vésperas do segundo turno. “Nos últimos dias, paramos de discutir o que não tem importância – maçonaria, aborto – para mostramos o plano de Guedes para o mínimo. O risco Guedes, que é o risco Bolsonaro, caiu como uma bomba na campanha, porque estamos falando de pessoas que terão suas vidas destruídas se Guedes conseguir seguir com o resto do plano dele”, observou Moreira.
Em sua participação no ICL Notícias, o também economista do ICL André Campedelli disse que o plano vazado para o IRPF pelo Estadão joga um balde de água fria na classe média. “A classe média estava achando que ia ficar fora da conta, né? Mas o Paulo Guedes está ‘presenteando’ todo mundo. Todo mundo vai contribuir para pagar o apoio do Centrão (no ano que vem)”, disse Campedelli, em uma alusão ao orçamento secreto, moeda de troca do governo com os deputados do chamado Centrão, em troca de apoio para suas pautas no Congresso. Para 2023, foram reservados R$ 19 bilhões ao orçamento secreto.
O plano do IRPF dará R$ 30 bilhões de caixa para o governo conseguir mais espaço fiscal e, assim, não furar o teto de gastos, mecanismo que limita as despesas do Executivo à inflação do ano anterior. Além disso, a equipe econômica tenta acomodar as promessas de campanha do presidente no Orçamento de 2023.
Em mais uma demonstração de que a situação não está confortável na economia, Campedelli comentou no ICL Notícias de hoje o resultado do IPCA-15, que mostra que a inflação dos alimentos voltou a subir.
Considerado uma espécie de prévia da inflação oficial (IPCA), o indicador cresceu 0,16% em outubro, como os alimentos sendo os vilões da vez. Em 12 meses encerrados em outubro, a inflação dos alimentos acumula alta de 10,6% no período.
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias